Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
A pegada ecológica do pão nosso de cada dia
Esqueça seu carro ou a eletricidade: o pão de cada dia também gera impacto para o meio ambiente. O culpado é o uso insustentável de fertilizantes, afirma estudo.
O aquecimento global tem feito parte do nosso dia a dia nos últimos anos – quase tanto quanto o pão. Agora, pesquisadores conseguiram relacionar ambos.
Um estudo publicado na revista Nature Plants analisou o impacto ambiental de um único pedaço de pão de sementes em nossos cafés da manhã. Surpreendentemente, o maior dano ao nosso planeta ocorre quando o nosso pão ainda é apenas um grão de trigo minúsculo.
Os fertilizantes são os culpados. Mais precisamente, o fertilizante de nitrato de amônio. Só ele responde por quase a metade de todas as emissões de gases de efeito estufa na cadeia de produção do pão.
Mas os pesquisadores insistem que o estudo não visa parar o consumo de pão. Em vez disso, quer motivar os consumidores a exigir maior transparência, e aumentar a cooperação em toda a cadeia de abastecimento para que sejam produzidos produtos mais sustentáveis.
O pão foi simplesmente um produto usado como exemplo para chamar a atenção do público.
“Nosso objetivo era destacar a dependência excessiva dos fertilizantes em nosso sistema alimentar”, diz Liam Goucher, autor do estudo e pesquisador da Universidade de Sheffield. “E o pão é um produto que todos conhecem facilmente”.
Desde o início
Somente no Reino Unido, cerca de 12 milhões de pães são consumidos todos os dias. Em 2016, os europeus consumiram em média 63 quilos de pão por pessoa, de acordo com a Iniciativa Pão, um grupo que inclui cinco das maiores associações europeias de panificação.
Mas, apesar da enorme presença do pão em nossas vidas, raramente pensamos em seu impacto ambiental – enquanto nos preocupamos com nosso consumo de energia ou com o combustível de nossos carros, por exemplo.
Com o avanço da pesquisa, a enorme quantidade de energia utilizada e as constantes emissões produzidas para colheita e irrigação não surpreenderam ninguém. Mas mais de 60% das emissões vieram do cultivo de trigo.
Um dos elementos poluentes tinha um impacto muito mais severo do que todos os outros. “O que mais nos surpreende é que 43% das emissões provêm de um único fertilizante”, diz Goucher. É o fertilizante com nitrato de amônio.
Fertilizantes sintéticos
Além da água, as plantas precisam de nutrientes e oligoelementos para crescer de acordo com padrões de alta qualidade. Fertilizantes com os nutrientes exatos são essenciais para garantir a fertilidade do solo, diz a agência federal alemã de meio ambiente (UBA).
No entanto, há uma distinção importante entre fertilizantes orgânicos e fertilizantes minerais ou sintéticos.
Os fertilizantes podem acabar contribuindo para o aquecimento global devido à grande quantidade de energia necessária para sua produção e o gás de óxido nitroso (N2O) que é liberado quando degradado no solo, revela o estudo.
Os números podem ajudar a entender o problema. O óxido nitroso é um gás de efeito estufa que provoca 300 vezes mais danos ao clima do que o dióxido de carbono (CO2). Juntamente com o metano, o óxido nitroso constitui cerca de um quarto do aquecimento global – e é liberado principalmente através da agricultura industrial.
A cadeia do pão ajuda a mostrar em um contexto mais amplo a dependência do uso insustentável de fertilizantes na agricultura, acredita Goucher.
Responsabilidade compartilhada
Em 2050, teremos que partilhar nosso espaço na Terra com quase 10 bilhões de seres humanos, se considerarmos as projeções das Nações Unidas.
Os adeptos de fertilizantes sintéticos têm razão em argumentar que eles aumentam a produção de alimentos. Mais produção em espaços menores parece ser a solução que estamos procurando para alimentar tal quantidade enorme de pessoas. Os pesquisadores estão cientes desse desafio, mas enxergam uma alternativa.
Eles acreditam que uma agricultura mais sustentável é possível se todos os participantes se envolverem e cooperarem. Ao contrário da ideia de culpar o fazendeiro ou o fabricante, a equipe de Goucher acredita em uma responsabilidade compartilhada.
“Apresentamos a ideia de uma responsabilidade compartilhada”, disse ele. “Nós nos concentramos em como cooperar para reduzir o impacto ao longo da cadeia de suprimentos.”
Todo mundo possui poder para diminuir o impacto ambiental do nosso alimento diário – começando pelo pão.
O agricultor poderia aplicar métodos de agricultura de precisão; os fabricantes de fertilizantes podem reduzir a quantidade de gás natural utilizado; e até mesmo os consumidores poderiam ser mais exigentes na transparência do processo de produção e mais informados para escolher o seu pão de cada dia de forma mais adequada.
Dinheiro e dinheiro
“Goste ou não”, aponta Goucher, “muitas mudanças no setor agroalimentar dependem de incentivos econômicos.”
O pesquisador está convencido de que mais investimentos poderiam reduzir o uso de fertilizantes insustentáveis. Eles poderiam ajudar, por exemplo, a tornar os fertilizantes orgânicos economicamente viáveis para que os agricultores optem por eles.
Mas a indústria agrícola tem ainda mais interesse em ganhar dinheiro do que impulsionar fontes sustentáveis de alimentos. Agricultores e varejistas dependem de culturas altamente produtivas – e, portanto, de fertilizantes perigosos.
“É claro que há produtos muito prejudiciais, como carne bovina”, diz Goucher. O pão é um ponto de partida improtante, pois é um companheiro diário para a maioria de nós. Mas uma mudança não acontecerá se apontarmos apenas o pão, afirma: é necessário aumentar a transparência em todos os diferentes sistemas agrícolas e alimentares.
Giro por um mundo transformado pelo clima
Mundinho pequeno – Mesmo se conseguirmos manter o aquecimento global abaixo de 2°C, 2015 poderá ser o ano mais quente já registrado desde a era pré-industrial. O risco de o nível do mar subir mais de um metro e submergir Amsterdã persiste. Se continuarmos a emitir dióxido de carbono na velocidade atual, até 2100 a Terra terá se aquecido em 4°C – e Nova York estará sob o mar.
Recifes de coral por um fio – Mergulhar na Austrália para admirar os belos recifes de coral pode ser um prazer com dias contados, pois o aquecimento global vai destruindo esses ecossistemas submarinos. As águas cada vez mais quentes causam a descoloração dos corais, e um aumento de 2°C pode dissolvê-los. O acréscimo de CO2 torna a água dos oceanos mais ácida, impedindo o crescimento normal das estruturas calcárias.
Alpes sem esqui – O aquecimento nos Alpes é “três vezes a média global”, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O nível de neve diminui a cada ano e a vegetação conquista montanhas mais altas. Estações de esqui nas zonas inferiores estão ameaçadas de falência. Alguns resorts até cobrem a neve com material reflexivo durante os meses mais quentes, na tentativa de deter o derretimento.
Veneza – beleza submersa? – A italiana Veneza é apenas uma entre as cidades ameaçadas de desaparecer com a subida do nível do mar. Ou de se tornar inabitável, devido a inundações e tempestades cada vez mais fortes. O mesmo medo atinge Miami, Nova York, Santo Domingo, Bangkok, Barranquilla, Hong Kong, Cidade de Ho Chi Minh, Palembang, Tóquio, Mumbai, Alexandria, Amsterdã: todas elas correm risco.
Passagem Noroeste – O derretimento das geleiras está permitindo que navios cortem caminho entre a Europa e a Ásia pela historicamente intransitável Passagem Noroeste. Em 2007, a Agência Espacial Europeia anunciou que o trecho estava “inteiramente navegável”. Embora ainda não esteja suficientemente livre para navios de carga, os cruzeiros agora já oferecem uma rota antes reservada aos aventureiros e exploradores.
Elefantes em perigo – O aumento populacional e as mudanças climáticas afetam os animais. Eles lutam para se ajustar às secas cada vez mais frequentes e intensas, ondas de calor, tempestades e o aumento do nível do mar. A organização de proteção ambiental WWF incluiu o elefante africano na lista das espécies e lugares atingidas pelas mudanças climáticas, juntamente com as tartarugas, tigres, golfinhos e baleias.
Seca californiana – As mudanças climáticas são claramente visíveis no estado americano da Califórnia, que é afetado por fortes períodos de seca. Os últimos três anos foram os mais quentes de todos os tempos. Quem quiser passear pelas plantações de amêndoas na Califórnia, as de café no Brasil ou os campos de arroz no Vietnã, é agora ou nunca.
Escalando as últimas geleiras – A lista do Patrimônio Mundial da Humanidade inclui numerosas belezas naturais, mas com um aquecimento global de 3°C, 136 dessas 700 maravilhas serão afetadas. Entre elas o Glacier National Park, nos EUA, onde os efeitos das mudanças climáticas estão sendo estudados. Das 150 geleiras existentes aqui no século 19, sobravam 24 em 2010. A previsão é que em 2030 o parque estará privado de todas elas.
Mudança climática a domicílio – Se depois de todas essas imagens, você ainda não teve vontade de conhecer nenhum desses lugares, pode ficar onde está. As mudanças climáticas poderão vir bater à sua porta, sem que você sequer precise se levantar do sofá. A Climate Central acredita que mais de 150 milhões de pessoas moram em áreas que serão submersas ou estarão sujeitas a inundações constantes até 2100. Ou mesmo bem antes disso.
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