Entrevista concedida pela FUNVERDE para a revista HM! sobre as malditas sacolas plásticas de uso…
FAO fala em grave crise alimentar
Alerta é gerado pela incapacidade de a oferta suprir a expensão da demanda por comida nos últimos anos, que se soma à forte quebra da safra em 2012
Embora as donas de casa percebam em todo o mundo que os alimentos estão ficando mais caros, elas não imaginam que a situação poderá assumir dimensões preocupantes nos próximos meses a ponto de desencadear uma grave crise alimentar.
A ficha ainda não caiu e a raiz do problema está na incapacidade de a oferta suprir a demanda por comida, algo que ficou visível nos últimos anos. Para complicar, grandes safras têm sido perdidas devido a problemas climáticos, notadamente em 2012, quando a falta de chuvas quebrou um terço da produção de toda a América do Sul – responsável por metade da safra mundial de grãos – e agora provoca a maior catástrofe agrícola em 56 anos nos Estados Unidos.
Uma crise alimentar semelhante à que aconteceu em 2007/08 é dada como certa pela FAO, órgão da ONU para alimentação e agricultura, principalmente se os países produtores restringirem as exportações na tentativa de proteger seus estoques.
Por causa do desequilíbrio dos estoques globais e da seca que assola atualmente o Meio-Oeste norte-americano, os preços do milho e da soja vêm batendo recordes seguidos e encarecendo a cotação de inúmeros outros que têm aqueles produtos como matéria-prima, caso das carnes e do leite.
Em 2007 e 2008, a conjunção de preço elevado do petróleo, maior demanda por biocombustíveis obtidos de produtos comestíveis, clima adverso, políticas restritivas para as exportações e especulações nos mercados futuros causaram uma disparada nos preços dos alimentos, a chamada agroinflação, provocando protestos na Europa, Ásia e afetando principalmente os países pobres e dependentes.
Para o economista-chefe e analista de grãos da FAO, Abdolreza Abbassian, “há indicativos de que tenhamos uma situação como a de 2007/08”. Desta vez, no entanto, o preço do petróleo está baixo, o que não pressiona tanto os custos dos produtores agrícolas.
Além disso, a abundante oferta de arroz e o fraco crescimento econômico mundial também podem aliviar a pressão sobre os preços. Mas o grande problema é o clima, que tem prejudicado sistematicamente as lavouras da América do Sul e castiga agora a principal região produtora dos Estados Unidos. Isso sem falar da seca nos países próximos do Mar Negro, dos campos de trigo argentinos e de intempéries em zonas produtoras da Índia.
Estoques chegam a níveis críticos
A oferta mundial de grãos está cada vez mais longe de acompanhar o crescimento da demanda. Na China, para se ter ideia, ao menos 500 milhões de pessoas deixaram o campo nos últimos anos e isto tem obrigado o país a importar mais alimentos.
Hoje, os chineses são os principais compradores de soja do Brasil e, no ano passado, já adquiriram volumes significativos de milho. Nada indica que isto não acontecerá nos próximos meses. “Quando a China faz compras, o mercado estremece, pois a bocada é grande”, diz um especialista.
De acordo com o Usda, a diferença entre produção e consumo de soja, que na safra 2010/11 era de 13,4 milhões de toneladas, deve cair para apenas 3,5 milhões no ciclo 2012/13. De um ano para o outro, o mundo passou de uma sobra de 8,5 milhões de toneladas para um déficit de 12,6 milhões de toneladas.
Isto significa que no final da safra 2012/13 o mundo terá soja suficiente para apenas 76 dias de consumo e milho somente para 52, números tidos como extremamente críticos pelo Usda.
Situação brasileira é privilegiada
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Caio Rocha, o Brasil tem o maior e mais confortável estoque da história e, mesmo que o País exporte 12 milhões de toneladas, o estoque ainda ficará por volta de 13 milhões de toneladas, o maior dos últimos dez anos.
Observa que, se os produtores e exportadores estão satisfeitos, a indústria de carnes está apreensiva, mas acrescenta que “o ministério possui instrumentos para regular o mercado e garantir o abastecimento de milho”.
Seca afeta quase metade da lavoura
O caldeirão ferve mais a cada dia: as projeções sobre as condições atuais das lavouras de milho e soja do Meio-Oeste norte-americano são desalentadoras e o quadro parece não ter volta.
Relatórios divulgados nos últimos dias apontam que cerca de 40% dos cultivos de soja estão ruins ou muito ruins e 50% dos de milho se encontram em condições parecidas. As estimativas de safra encolhem a cada divulgação do relatório do Departamento de Agricultura americano (Usda).
No início de julho, a projeção era de 370 milhões de toneladas, mas segundo o USDA, os produtores norte-americanos deverão produzir 273,3 milhões de toneladas de milho na safra atual, queda de 40 milhões de toneladas em relação ao volume produzido no ano passado. Para a soja, o USDA cortou em 10 milhões de toneladas sua estimativa para a produção nos Estados Unidos.
Em razão disso, o índice de preços alimentícios da FAO, que mede oscilações mensais para uma cesta de cereais, oleaginosas, laticínios, carne e açúcar, subiu de uma média de 201 pontos em junho para 213 em julho. E, sem alarmismo, a Ong Oxfam acredita que a alta no preço dos grãos pode levar fome e desnutrição para milhões de pessoas, um contingente que se somaria às quase 1 bilhão que já não têm condições de se alimentar adequadamente.
A situação dramática fez o diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, pedir que os Estados Unidos suspendam, ao menos temporariamente, a destinação de milho para a produção de etanol. Nos últimos anos, cerca de 30% dos volumes totais desse cereal têm sido utilizados na fabricação do combustível renovável.
Se a quantidade for mantida – algo em torno de 114 milhões de toneladas – e levando em conta uma possível quebra de 30% na safra deste ano, isto significa que 40% de todo o milho produzido em território norte-americano vão virar etanol, algo que Silva considera “um absurdo: “Os EUA precisam repensar isto e priorizar o milho, um produto nobre e agora muito caro, para alimentação humana e animal”.
Fonte – Rogério Recco, O Diário do Norte do Paraná de 15 de agosto de 2012
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