Entrevista concedida pela FUNVERDE para a revista HM! sobre as malditas sacolas plásticas de uso…
Diretor do Procon fazendo um desserviço ao planeta e aos seres do amanhã
Senhor diretor do Procon, o senhor sabia que sacolas plásticas de uso único representam 10% de todo o volume de lixo gerado diariamente? O senhor sabia que no Brasil são usadas e descartadas anualmente, muitas vezes incorretamente, bem mais de 30 bilhões de sacolas de uso único por ano? Se nos livrarmos destas sacolas inúteis, vamos resolver 10% do problema do lixo no brasil, aumentaremos a vida útil dos aterros em 10%, simples assim.
Depois desta introdução, vamos ao desabafo.
Quando uma autoridade vem a público dizendo que é um direito do consumidor receber sacolas plásticas de uso único, fico sem palavras – o que, para quem me conhece, sabe é raro, raríssimo -, ou melhor, prefiro não proferir nenhuma palavra, para não complicar a situação, a minha situação, é óbvio.
Como assim, meu senhor? Como assim? O senhor está incentivando o uso de algo supérfluo, dispensável, e ainda alega ser um direito? Ora, vá…
Spock, meu Vulcano favorito, já afirmava que “as necessidades de muitos superam as necessidades de poucos, ou de um”, ou, “The needs of the many outweigh the needs of the few, or the one”. Adaptando, podemos dizer que as necessidades ou os direitos da coletividade, da humanidade, superam as necessidades ou direitos de poucos, ou de um.
Ainda não entendeu, senhor diretor? Vou então mastigar para o senhor engolir melhor.
Quando o senhor afirma que uma pessoa, um consumidor, um ser humano tem o direito de usar uma sacola que demorou um segundo para ser produzida, esse consumidor irá usá-la por meia hora e depois o resto da humanidade de hoje e até os seres do amanhã, que são os humanos que ainda nem nasceram – lembre-se o senhor que estas sacolas perduram por mais de meio milênio poluindo o planeta – terão que limpar a sujeira deste único ser humano.
Uma autoridade tem o dever de pensar maior que seu cargo, pensar em todos os aspectos do que diz, pois ao incentivar o uso da sacola plástica de uso único defendendo o consumidor, o senhor está na verdade condenando toda a humanidade a conviver com a a poluição causada por esse único consumidor, pois dependemos do planeta para sobrevivermos, um planeta sem poluição, com água, terra e ar limpos.
O capítulo VI da Constituição de 1988 trata do meio ambiente e é a base do direito ambiental. Senhor diretor, lea o artigo 225 que em seu primeiro parágrafo diz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.” Estamos falando em direito transgeracional, isto é, os moradores deste planeta do tempo presente não podem ameaçar a sobrevivência dos moradores do planeta do futuro, os seres do amanhã.
Parabéns Doutor Saint Clair Honorato por defender a humanidade e o planeta, do qual os humanos de hoje e do futuro dependem para viver.
Falando nisso Doutor Saint Clair, o senhor acha que o diretor deveria estar dando esses conselhos tortos para o consumidor? Como devemos agir para impedir que pessoas sem conhecimento técnico no assunto se pronunciem sobre este assunto, prejudicando a coletividade? Isso porque, de norte a sul, essas pessoas falam sem entender o que esta simples sacola pode gerar para o planeta e a humanidade a curto e a longo prazo. Basta ver o sexto continente, feito de lixo plástico no pacífico.
É só um político apresentar nossa lei banindo as sacolas ou cobrando por elas, lá vem o Procon pensar pequeno, se pronunciando como este diretor.
Só concluindo, porque o texto já está ficando extenso.
Senhor diretor, quando o senhor vai às compras, quantas sacolas usa? O senhor sabe quantas sacolas de uso único uma pessoa usa por ano? Certamente o senhor deve usar sacolas plásticas de uso único, para defender com tanta paixão esta sacola que é usada por pessoas que não tem a responsabilidade para com o todos os outros 7 bilhões de pessoas. Usam por puro egoísmo, porque em uma sacola retornável cabe o conteúdo de 10 a 15 sacolas plásticas de uso único. Usam por preguiça de dobrar a sacola retornável após o uso e deixar no carro, na bolsa. Usam por preguiça de lavar ou higienizar esta sacola retornável. Usam por ignorância, pois uma sacola retornável não corta os dedos ao ser carregada, ao contrário da sacola plástica de uso único.
Enfim, poderia citar muitos exemplos de porque a sacola retornável é a embalagem ideal, mas se o senhor quiser saber mais, leia em nossa página, em algumas centenas de posts que temos sobre o assunto, pois não sei se o senhor sabe, mas guerra contra a sacola plástica de uso único se iniciou em Maringá, em 2004, após vermos o estrago que ela causava. Nossas leis começaram a ser aprovadas em todo o país em 2007, e hoje já temos leis em várias cidades e estados, inclusive em vários países da América do Sul e América Central. Hoje em todo o mundo a guerra contra a sacola está sendo ganha – novamente, veja em nossos posts – e continuaremos esta guerra, ganhando batalha por batalha, até a humanidade se ver livre desta invenção inútil, desnecessária. Até todos esquecerem que elas existiram algum dia no planeta e causaram tanta destruição.
Temos quase uma década de batalhas contra máfia do plástico e pior, contra o consumidor acomodado, preguiçoso e egoísta, então tenha tenha certeza de que sei o que estou falando, que domino o assunto e que é inevitável o fim das sacolas plásticas de uso único, se quisermos que a humanidade tenha um futuro diferente da extinção.
Para quem não assistiu as matérias, assista agora.
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