Por Pedro A. Duarte - Agência FAPESP - 12 de novembro de 2024 - Publicado…
Projeto Mata Ciliar FUNVERDE – Matéria no jornal O Diário
Satélite mostra que fundos de vale estão mais verdes
Nos últimos dez anos foram plantadas mais de 100 mil mudas de espécies nativas às margens dos córregos de Maringá. Ainda há muito para ser reflorestado, mas as imagens do Google Earth mostram que pastos estão dando lugar às árvores. Recomposição é realizada pela Prefeitura de Maringá e organizações não governamentais.
Olhando daqui do chão fica difícil para o maringaense constatar que a arborização de Maringá tenha mudado na última década – além das podas, cortes e replantios no passeio público. Já algumas centenas de quilômetros acima, imagens de satélite mostram que o antes e o depois são evidentes. Com o plantio de cerca de 100 mil mudas de espécies nativas desde 2004, diversas regiões de fundos de vale tiveram o cenário de pasto e terra substituído por densas áreas de espécies nativas da Mata Atlântica.
É o que O Diário levantou com base em imagens do Google Earth, programa de computador que traz imagens de satélite e que conta com opção de “linha do tempo”, permitindo a comparação das fotos recentes – as novas são de março deste ano – com anteriores, a partir de um mesmo ângulo.
Um exemplo é um trecho com cerca de 600 metros de extensão do Córrego Mandacaru, entre a Avenida das Palmeiras e a Rua Arlindo Pedralli, na zona norte de Maringá. Em 2003, mostram as imagens de satélite, pouco mais de 400 metros desse pedaço do córrego não contava com nenhuma arborização às margens. Já em março deste ano, apesar de alguns pontos ainda precisarem de mais árvores para chegar ao mínimo de 30 metros, inexiste trecho sem arborização – que em alguns pontos passa de 40 metros de largura em cada lado da margem do córrego.
Já no Córrego Ribeirão Morangueiro, trecho que passa paralelo à Rua Colômbia, no Jardim Alvorada, rumo ao Parque Alfredo Nyffeler, em 2003 havia uma clareira com cerca de 70 metros de largura. Hoje, o local está repleto de árvores.
Mais ao norte, onde o Ribeirão Morangueiro se divide, formando o Córrego Osório, nos fundos do Conjunto Batel, há 11 anos havia uma reserva com cerca de 140 metros de largura, por 80 metros de profundidade, rumo onde hoje é o Contorno Norte. Atualmente, a profundidade varia de 120 a 250 metros, dependendo do trecho.
O plantio de mudas de espécies nativas ao longo dos anos é dividido entre o trabalho de voluntários da ONG Funverde e ações da Prefeitura de Maringá. “Sempre precisamos de mãos fortes. Tentamos convencer as pessoas que em vez de gastarem calorias em esteiras elétricas que façam exercícios plantando árvores, que é algo realmente útil para a cidade”, diz Ana Domingues, fundadora da Funverde .
A ONG foi fundada em 1999 e desde 2004 atua no plantio de árvores em terrenos públicos – desde então, já foram plantadas mais de 50 mil mudas. Os voluntários e estagiários, que variam de 20 a 60 – vários deles de cursos universitários – se reúnem para o plantio todas as manhãs de domingo, de março a novembro, período definido para coincidir com o calendário acadêmico. As mudas vêm de doações, a maior parte delas da concessionária Viapar – como compensação pela emissão de carbono. “O plantio é um ato de preocupação com as crianças, com a cidade, para nós todo o dia é dia do meio ambiente”, diz Ana.
Entre as revitalizações promovidas pela ONG está a do Córrego Nazareth, que passa ao fundo do Cemitério Parque, localizado na Avenida Alziro Zarur. As imagens aéreas mostram que onde não havia nenhuma árvore às margens do córrego, hoje a arborização passa dos 30 metros de largura em cada lado, chegando em alguns pontos a mais de 100 metros.
Segundo a Prefeitura de Maringá, durante a gestão passada (2009-2012) foram plantadas 22 mil árvores. Já nos últimos dois anos foram plantadas mais 33 mil – contabilidade que não inclui as ações da Funverde. A administração municipal prevê que até 2016 sejam plantadas mais 30 mil mudas em fundos de vale. “Essas ações melhoram a qualidade da água, porque temos dezenas de córregos cortando a cidade”, diz o secretário municipal do Meio Ambiente, Umberto Crispim.
‘Bosques’
Em alguns pontos, a cidade ganhou verdadeiros bosques, como é o caso da Zona 7, em um trecho que também envolve o Córrego Mandacaru. Aos fundos da Rua Quintino Bocaiuva, em 2003 havia cerca de 130 metros de pastagem até a margem do córrego, em um trecho com largura de 300 metros. Todo esse espaço espaço, com cerca de 40 mil metros quadrados, hoje está tomado por árvores. “É um privilégio morar em Maringá e ter uma vista dessas”, diz o universitário Ramon Kelvin Parron, morador do 7º andar de um edifício na Quintino Bocaiuva, com vista de frente para o fundo de vale recuperado.
Ao fundo do Jardim Novo Horizonte, onde se unem o Córrego Cleópatra, que nasce no Bosque 2, e o Córrego Moscados, com nascente no Parque do Ingá – a transformação também é visível. A região, que conta com lagoas utilizadas para o tratamento de esgoto desativadas há décadas, ganhou milhares de árvores: a margem direita do Córrego Moscados, próximo à confluência, ganhou mais de 100 metros de largura de fundo de vale. Em 2003, só havia mato no local. “Hoje tem gente até pescando naquelas lagoas”, diz o geógrafo Amauri Divino Pereira, coordenador técnico do setor de Áreas de Preservação Permanente da prefeitura.
Segundo a administração, não há cálculo sobre a área total reflorestada. O município informa que houve um aumento do reflorestamento nos últimos anos pela exigência à iniciativa privada do plantio de mudas, como medida compensatória para empreendimentos que gerem impacto de vizinhança – como supermercados e shoppings . “Não basta plantar: tem que cuidar por cerca de três anos”, diz Pereira.
IDEIA
“Tentamos convencer as pessoas que em vez de gastarem calorias em esteiras elétricas que façam exercícios plantando árvores.” Ana Domingues – Instituidora da Funverde
62 córregos em Maringá
Segundo uma dissertação de mestrado da Universidade Estadual de Maringá (UEM), apresentada ano passado, desse total de córregos, 20 passam pela zona urbana e 19 tem suas nascentes no perímetro urbano.
Áreas em situação crítica ainda existem no município
A comparação de imagens de satélite de Maringá entre os anos de 2004 e 2014 mostra que ainda há fundos de vale em situação crítica – e mesmo onde houve melhoras ainda falta muito para ser feito. Um exemplo é o Ribeirão Maringá, na região do Conjunto Atenas, zona oeste da cidade.Em 2004, naquele trecho, as duas margens eram desprotegidas. Dez anos depois, apenas um dos lados, na face leste, ganhou vegetação. Já o Córrego Diamante, entre o Jardim Imperial e o Conjunto Cidade Jardim, permanece com cerca de 200 metros de curso d’água ladeados apenas por um matagal.
Pela legislação ambiental, os fundos de vale de Maringá deveriam ter 30 metros de faixa de árvores em cada lado da margem. A situação é pior quando se observa o Rio Pirapó. Há trechos do rio em que, pela largura do leito, deveria haver 100 metros de faixas de árvores em cada lado da margem, não há nenhum tronco.
Para o promotor de Justiça do Meio Ambiente de Maringá, José Lafaieti Barbosa Tourinho, houve melhoras visíveis na situação dos fundos de vale nos últimos anos, mas ainda há muito o que ser feito. “Fica até difícil dizer quantos procedimentos temos aqui por conta disso”, afirma.
Segundo Tourinho, há processos não apenas por falta da mata ciliar, mas por construções dentro das áreas de preservação, despejo de entulho nesses locais e protegidos e falta de cuidados que levaram diversos pontos à erosão. “São processos que demoram pela difícil identificação dos responsáveis. Mas de modo geral, o que estamos sentindo é uma melhora dentro do município, com o cercamento desses fundo de vale, construção de calçadas e aplicação de multas. Há uma mudança nesse sentido”.
Fonte – Fábio Linjardi, Jornal O Diário do Norte do Paraná de 04 de junho de 2014
Usando como fonte a prefeitura de Maringá, a cidade conta com 32 rios, riachos e córregos, 68 nascentes e 72 km de fundos de vale que precisam ser protegidos por mata ciliar.
Alguns trechos em que plantamos não existe mais nenhuma árvore, porque a população local arrancou, quebrou, incendiou, enfim, fez de tudo para as árvores morrerem. Ignorância de quem acha que floresta atrai bandido. No início do projeto nós plantávamos, replantávamos várias vezes a cada vez que os vândalos destruíam o plantio, até aprendermos que se eles não querem, é melhor ir plantar onde querem sombra e frutas.
Graças a uma visita que tivemos de um engenheiro da VIAPAR à FUNVERDE em 2005 para doação de árvores, iniciamos uma parceria que persiste até hoje com eles adquirindo as árvores e nos doando para plantarmos e recuperarmos a mata ciliar. A partir de 2007, eles começaram a fazer a neutralização de carbono da empresa e nos repassando as árvores da neutralização para plantarmos nos fundos de vale de Maringá.
Este Post tem 0 Comentários