Por Elton Alisson - Agência FAPESP - 19 de abril de 2024 - Cerca de 90% da…
Novo relatório deixa claro: estamos em perigo e precisamos parar o aquecimento global
Em 1995, Mario J. Molina, junto com seus colegas Paul J. Crutzen e F. Sherwood Rowland, ganharam o Prêmio Nobel de Química por seu pesquisa sobre a decomposição da camada de ozônio.
Agora, com 70 anos, o Dr. Molina está tentando alertar o público sobre um risco ambiental ainda maior. Ele liderou um comitê da Associação Americana para o Avanço da Ciência, a maior sociedade científica geral do mundo, que divulgou um relatório na última terça-feira sobre o aquecimento global.
O texto adverte que os efeitos das emissões humanas de gases do efeito estufa já estão sendo sentidos. As consequências podem ser terríveis, e estamos ficando sem tempo para efetivamente fazer algo sobre isso.
“A evidência é esmagadora: níveis de gases de efeito estufa na atmosfera estão aumentando. As temperaturas estão subindo. Primaveras estão chegando mais cedo. Os mantos de gelo estão derretendo. O nível do mar está subindo. Os padrões de chuvas e secas estão mudando. As ondas de calor estão piorando, assim como as precipitações extremas. Os oceanos estão acidificando”, diz o relatório.
Em certo sentido, ele não contém nenhuma nova ciência. Tudo que é dito nele, nós já sabíamos há algum tempo.
O que mudou, então?
A linguagem do relatório, chamado “What we know” (em português, “O que sabemos”), é muito mais clara e acessível do que talvez qualquer outra coisa que a comunidade científica já tenha escrito sobre o fenômeno até hoje.
O grupo responsável por ele, com uma adesão de 121.200 cientistas e simpatizantes da ciência ao redor do globo, planeja uma ampla campanha de divulgação para colocar mais informações precisas em uma linguagem simples disponíveis para todo o mundo.
Isso porque os cientistas querem corrigir a confusão pública, em parte criada por eles mesmos, sobre esta questão.
Pesquisas mostram que a maioria dos americanos estão pelo menos um pouco preocupados com o aquecimento global. Mas as pessoas geralmente não entendem que o problema é urgente – que o destino das gerações futuras (não necessariamente tão longes no futuro) está sendo determinado pelos níveis de emissão de gases agora.
Além disso, o cidadão comum tende a pensar que há mais debate científico sobre os conceitos básicos do fenômeno do que realmente existe – o relatório enfatiza que os especialistas chegaram a um consenso: cerca de 97% dos cientistas acham que a mudança climática causada pelo homem está acontecendo.
Não temos todas as respostas. Na verdade, enormes questões permanecem um mistério, e a ciência do aquecimento global implica uma robusta discussão em evolução.
Mas o novo relatório indica, sem medo de ter certeza, que uma série de potenciais consequências do aquecimento planetário estão para acontecer, e é crucial que haja um debate público inteligente sobre o que fazer em seguida.
As previsões mais pessimistas incluem grave escassez de alimentos, já que o aquecimento da Terra faz com que seja mais difícil cultivá-los; uma subida acelerada do mar, que inundaria costas muito rapidamente para a humanidade se ajustar; ondas de calor extremas, secas e inundações, e uma extinção em grande escala de plantas e animais.
Agir ou não agir, eis a questão
Muitas pessoas são ótimas em gerenciar o risco em suas vidas pessoais. É pouco provável que a sua casa queime até o chão, mas você gasta centenas de reais por ano em seguro. A questão de quanto gastar na redução de gases de efeito estufa é, em essência, uma pergunta sobre quão seguros queremos estar contra os piores resultados possíveis.
Os cientistas não podem decidir por nós, mas deixam claro que a redução das emissões, por alguns meios, é a única maneira de reduzir os riscos.
Apenas algumas décadas atrás, a população soube que os clorofluorcarbonos, então comuns em geladeiras, ar condicionados, sprays de cabelo e desodorantes estavam se acumulando no atmosfera e causando buracos na camada de ozônio, gás que nos protege de níveis devastadores da radiação ultravioleta. Conforme a evidência científica desse risco aumentou, o público exigiu ação, e conseguiu um tratado de eliminação gradual dos compostos.
O novo relatório é um reconhecimento entre os cientistas de que suas tentativas bem-intencionadas de transmitir todas as nuances e as incertezas de um campo complexo como o aquecimento global podem ter obscurecido a mensagem central sobre seus riscos. Agora chegou a vez da população de exigir alguma ação, novamente.
Fonte – NY Times / Hypescience de 20 de março de 2014
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