Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Relatório de mudanças climáticas do IPCC ganha versão em português
O relatório, feito pelo painel de pesquisadores reunidos pela ONU, resume o consenso científico sobre o fenômeno e suas consequências – inclusive para o Brasil
A ONG Iniciativa Verde traduziu pela primeira vez para o português o último relatório do IPCC, painel de ciência do clima da ONU. O relatório traz a síntese do consenso científico sobre as mudanças climáticas. O relatório foi feito com a colaboração de pesquisadores do mundo todo, inclusive brasileiros, como José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
O relatório está disponível para download no site da Iniciativa Verde.Para falar mais sobre o relatório, ouvimos Lucas Pereira, diretor técnico da Iniciativa Verde
ÉPOCA: Qual é a relevância do relatório do IPCC?
Lucas Pereira: O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) foi criado em 1988 pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Ele trabalha com a compilação de diversos estudos sobre o tema, reunindo o trabalho de mais de 800 cientistas (todos com atuação muito relevante na área) e mais de três mil artigos científicos utilizados na elaboração de seus relatórios. Em 2007, o IPCC foi premiado com o Nobel da Paz, em função de sua contribuição para o bem estar da humanidade. Hoje, o IPCC é a principal referência sobre Mudança do Clima no mundo.O 5º Relatório de Avaliação do IPCC (publicado em 2014) envolve a publicação de cinco documentos disponíveis no site do Painel. O relatório é resultado das últimas atualizações no que tange aos tópicos abordados pelos cientistas e apresenta para os governos e sociedade civil o que há de mais avançado na ciência climática. Hoje, os relatórios do IPCC fundamentam as políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas como, por exemplo, a Política Nacional de Mudança Climática do Brasil. Este documento é essencial para a criação de políticas públicas que visem a adaptação de nossos ecossistemas e populações para os impactos das mudanças climáticas globais.
ÉPOCA: Quais são as principais revelações deste relatório?
Lucas: O Relatório trouxe ainda mais certeza sobre a contribuição do homem nas mudanças climáticas que já estão ocorrendo no planeta. Os cientistas concluíram que o homem, com 95% de certeza, está contribuindo com a maior parte do aquecimento global. O relatório também traz um pouco de otimismo, pois considera que ainda é possível manter o aquecimento em até 2ºC (meta estabelecida durante a COP-15 de Copenhague, em 2009) até 2100, mas para isso medidas urgentes e ousadas devem ser tomadas nos próximos anos. O relatório é enfático ao mostrar que as mudanças climáticas já estão ocorrendo, que os extremos climáticos serão mais frequentes e que todo o planeta sofrerá com as consequências, e se nada for feito elas serão catastróficas não só para os países menos resistentes (como pequenas ilhas, por exemplo), mas para toda a população e para toda a economia mundial.
ÉPOCA: O IPCC exagera em suas previsões?
Lucas: Pelo que a comunidade científica tem concluído em diversos estudos paralelos, as conclusões do IPCC são absolutamente razoáveis, sempre considerando alguns cenários distintos (mais otimistas e outros mais pessimistas). Porém, em função das poucas medidas já tomadas pelas principais potências mundiais, é muito factível considerar que os cenários mais catastróficos não são exagerados.
ÉPOCA: Quais são as principais consequências para o Brasil listadas no relatório?
Lucas: O Relatório apresenta dados generalistas e pouco específicos de cada país. Porém, podemos ressaltar que o IPCC deixa claro que o Brasil (e toda América do Sul) sofrerá graves impactos, relacionados principalmente com saúde e alimentação, pois novas características climáticas trarão consequências para a produção agrícola desses países.
A floresta amazônica pode também sofrer um processo de savanização, o que influenciaria todo o clima no País. As regiões Sul e Sudeste podem ter extremos climáticos mais acentuados, principalmente, chuvas mais intensas podendo ocasionar graves deslizamentos, como os ocorridos no Rio de Janeiro, em 2011. O Brasil possui desde 2009 (a partir da Política Nacional de Mudanças Climáticas) o Painel Brasileiro sobre Mudanças Climáticas, que lançou em 2015 o seu primeiro relatório com dados sobre os impactos e possíveis medidas de mitigação e adaptação no Brasil, envolvendo o trabalho de 360 especialistas.
ÉPOCA: Teremos mais uma etapa nas negociações de um acordo internacional do clima no fim deste ano em Paris. Agora, cada país apresenta suas propostas unilaterais para reduzir as emissões de gases que alteram o clima da Terra. Isso será suficiente?
Lucas: Nos últimos meses, vimos países assumindo metas ousadas e desafiadoras. Como por exemplo, o acordo entre China e Estados Unidos que prevê reduções bastante audaciosas para os próximos anos. Recentemente, a União Europeia também anunciou que pretende reduzir em 40% suas emissões até 2030.Essa forte atuação de países antes considerados “vilões” dos acordos globais pode ser a alavanca necessária para um acordo de fato eficiente em Paris. Para isso, é preciso que países como Brasil e Índia também indiquem que o caminho é esse. Neste momento, as metas ainda não são suficientes para atingirmos o objetivo de frear em 2 graus o aquecimento até 2100. As notícias de que a China tem reduzido o nível de combustíveis fósseis em sua matriz energética são empolgantes, mas vemos ainda países andando na contramão, o que nos mostra que o caminho que será trilhado enfrentará obstáculos ainda maiores, pois o clima não será favorável.
Fonte – Blog do Planeta de 08 de maio de 2015
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