Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
O brasileiro e a mudança do clima
Para 95% da população, impactos já estão sendo sentidos, como crise de água e energia; 84% afirmam que o poder público age de forma insuficiente ou não age para enfrentar o problema
Uma nova pesquisa do Datafolha mostra que o brasileiro está muito preocupado com as mudanças climáticas e acha que o governo não compartilha dessa preocupação.
Segundo o levantamento, encomendado pelo Observatório do Clima e pelo Greenpeace Brasil, 95% dos cidadãos acham que as mudanças climáticas já estão afetando o Brasil. Para nove em cada dez entrevistados, as crises da água e energia têm relação direta com o tema, sendo que para 74% há muita relação entre a falta de água e luz e as mudanças climáticas. No entanto, para 84% dos entrevistados, o governo não faz nada ou faz muito pouco para enfrentar o problema. O Datafolha ouviu 2.100 pessoas em todas as regiões do país.
“O cidadão médio tem um ótimo nível de entendimento das causas da mudança climática e de seu impacto sobre o cotidiano da população e mostra que está insatisfeito com o baixo grau de prioridade dado pelo governo a esse tema, crucial para o desenvolvimento do país”, destaca Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Os entrevistados também demonstraram vislumbrar as formas de resolver o problema. Entre as soluções apontadas estão a redução do desmatamento, melhorias no transporte coletivo e investimentos em energias renováveis. Mais de 80% dos brasileiros acham que essas ações inclusive trarão benefícios para a economia do país.
A pesquisa mostrou, ainda, que o brasileiro se enxerga como parte da solução: 62% dos entrevistados estão dispostos a instalar um sistema de microgeração de energia solar em casa – equipamentos conhecidos por 74% da amostra. Diante da hipótese de ter acesso a uma linha de crédito com juros baixos e a possibilidade de vender o excesso de energia para a rede elétrica, o percentual de interessados sobe para 71%.
“Há uma percepção bastante clara de que a microgeração de energia solar beneficia o cidadão e o país”, explica Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. Entre as principais vantagens citadas pelos entrevistados estão a redução nas despesas com eletricidade (82%), a redução dos impactos de secas prolongadas (77%), a segurança e confiabilidade dessa fonte (70%) e o fato de que se trata de uma alternativa às hidrelétricas (69%). Os moradores das regiões Sudeste e Nordeste foram os que demonstraram maior entusiasmo com o tema.
Atualmente, a microgeração de energia enfrenta vários entraves como, por exemplo, a forma como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) incide sobre a geração de eletricidade do cidadão que escolhe produzir sua própria energia. Outras questões, como a criação de linhas de financiamento com baixos juros, também precisam ser resolvidas.“Trata-se de uma excelente oportunidade para o governo agir em sintonia com a vontade da sociedade brasileira”, completa Baitelo.
Para pressionar os governadores a assinarem o convênio nº 16 do CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária), que permite aos Estados eliminar o imposto ICMS que incide na geração de eletricidade por meio de painéis solares, tornando essa energia mais barata e contribuindo para sua popularização, um abaixo-assinado está no ar desde 6 de maio.
Sobre a atuação do governo, a pesquisa Datafolha mostra que o brasileiro tem uma percepção bastante crítica: para 48%, o governo federal está fazendo menos do que deveria em relação às mudanças climáticas; para 36%, ele simplesmente não está fazendo nada. Os mais críticos são os brasileiros das regiões Nordeste e Sudeste. Mas, para dois terços da amostra (66%), o Brasil deveria assumir uma posição de liderança no enfrentamento do problema em nível internacional. No Nordeste, esse índice chega a 74%.
A pesquisa também confirma que existe um bom entendimento das causas das mudanças do clima.
Apresentados a nove possíveis causas, os entrevistados apontaram com mais frequência desmatamento (95%), queima de petróleo (93%), atividades industriais (92%), queima de carvão mineral (90%) e tratamento de lixo (87%). Para efeito de teste, a pesquisa incluía dois fatores que não têm relação com as mudanças climáticas – ambos ficaram entre os menos apontados pelos entrevistados (El Niño, com 64%, e mudanças no comportamento do Sol, com 83%). “Considerando a forte oposição patrocinada por setores que têm interesse em negar que as mudanças climáticas sejam causadas pela ação humana, este resultado é extremamente significativo, pois mostra que o negacionismo do clima não colou no Brasil”, analisa Rittl.
A pesquisa foi realizada entre 11 e 13 de março de 2015. O Datafolha utilizou metodologia quantitativa, realizando entrevistas pessoais e individuais em pontos de fluxo populacional de 143 municípios de pequeno, médio e grande porte com pessoas com mais de 16 anos de idade. A margem de erro para o total da amostra é de 2,0 pontos percentuais para mais ou para menos.
Fonte – Observatório do Clima / IHU de 19 de maio de 2015
Ah, como a teoria é linda. Nas pesquisas todos são cidadãos. Agora, na vida real são todos consumidores consumistas. Se a pesquisa refletisse a realidade não teríamos menos de 10% das cidades com coleta seletiva – os cidadãos exigiriam isso de seus governantes -, não teríamos menos de 1% de reciclagem em qualquer cidade do país, ninguém mais usaria garrafa PET – usariam sim, garrafas de vidro retornáveis – e mais, ninguém mais estaria usando sacola plástica de uso único, com um chororô interminável nas cidades em que estão sendo banidas e mais recentemente, chorando porque o comércio “só” está dando duas sacolas plásticas de uso único em São Paulo.
O estado está pouco se lixando com qualquer tema ambiental, mas o consumidor, sim o consumidor consumista e não o cidadão, porque o cidadão representa menos de 1% da população, esse quer consumir o mundo, consumir o que aparece na tv, ainda mais se for de alguma novela ou de alguém “famoso” e que se lixe o planeta e os humanos do futuro.
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