Por Bruna Bopp - Agência FAPESP – 21 de novembro de 2024 - Uma expedição…
Blogs esmiuçam dados nutricionais em embalagens de alimentos
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Quantos morangos existem num potinho de iogurte de morango? Quais são os outros termos usados para indicar a adição de açúcar em um produto? A versão light é sempre mais saudável?
A onda de blogs e páginas em redes sociais que desvendam letras miúdas e ingredientes de nomes difíceis nas embalagens de alimentos, iniciada na Inglaterra e nos EUA, está também se espalhando no Brasil.
Os criadores do sites fazem um trabalho de detetive, muitas vezes consultando artigos científicos e regulamentações internacionais, além de encherem de perguntas os SACs (serviço de atendimento ao cliente) das fabricantes.
Criado em julho de 2013, o blog e canal no YouTube “Do campo à mesa” foi um dos pioneiros no país e já acumula mais de três milhões de visualizações. Em vídeos curtos, a jornalista Francine Lima “traduz” para o público leigo as muitas vezes complexas informações nutricionais das embalagens de alimentos.
“São coisas às vezes simples, mas que as pessoas não se dão conta. Eu sempre digo: leia a lista de ingredientes e saiba que ela está em ordem decrescente. Se começou com açúcar, vá procurar algo mais saudável”, explica Francine, que grava os vídeos na cozinha de casa.
Entre os vídeos de maior sucesso estão a “investigação” sobre a quantidade de morango nos iogurtes e a diferença entre suco e néctar. Francine é mestre em nutrição e saúde pública pela USP, onde pesquisou rotulagem.
O site “Fechando o Zíper” (canal no YouTube Fechando o zíper) vai ainda mais fundo. Comandado por duas nutricionistas e um cientista da computação, faz uma avaliação detalhada de rótulos e embalagens, a maioria enviada pelos leitores, mostrando que muitos dos alimentos que se apresentam como opções mais saudáveis não são, na verdade, tão positivos assim.
Além de esmiuçar ingredientes, o grupo atribui uma nota de zero a dez para os alimentos.
“Não condenamos nada. O objetivo é que o público leigo consiga identificar se aquilo está de acordo com alguma necessidade”, diz Samantha Peixoto, criadora do site.
No exterior, a mais conhecida detetive de rótulos é a americana Vani Hari, mais conhecida como Food Babe. Com mais de 30 milhões de visitas em 2014, a morena foi eleita neste ano pela “Time”uma das 30 personalidades mais influentes da internet.
Com títulos chamativos como “o veneno que damos às nossas crianças”, Hari conquistou fãs, que costumam se mobilizar em petições virtuais para a retirada de componentes por eles considerados ruins. Pelo menos cinco marcas dos EUA já se renderam à mobilização do blog.
No Brasil, a pressão é menor, mas sites e campanhas estão tentando reproduzir a experiência americana. A especialista em vigilância sanitária da Anvisa Simone Coulaud afirma que a agência acompanha essas manifestações, e que a sociedade tem um papel importante na discussão.
Embasamento
De acordo com Mário Roberto Maróstica Junior, diretor do departamento de alimentos e nutrição da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, a discussão sobre alimentos é bem-vinda, mas é preciso estar atento ao embasamento e à formação de quem produz esse conteúdo.
“A gente tem de tomar contato com o que lê. Generalizar as coisas é difícil. É mentira que produtos industrializados são sempre ruins. Esse tipo de generalização têm de ser visto com cuidado”, diz.
Henrique Suplicy, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, destaca que as informações dos rótulos no Brasil melhoraram, mas ainda deixam a desejar. Apesar disso, ele acredita que há certo alarmismo em muitos sites.
A Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) informou que alerta seus membros para o cumprimento da legislação vigente e a importância de manter canais de contato com o consumidor. A entidade ressaltou a importância dos blogs, mas disse se preocupar com algumas informações veiculadas nos sites.
“É fundamental que o consumidor seja bastante crítico sobre a origem das informações compartilhadas nesses canais. Alguns deles, sem o devido embasamento acadêmico e científico, propagam mitos equivocados sobre o que seria uma dieta e uma alimentação saudável e equilibrada, gerando, assim, desinformação e preconceitos infundados sobre determinados alimentos.”
De olho no rótulo
Dicas de especialistas para entender melhor o que dizem as embalagens
– Os ingredientes estão apresentados em ordem decrescente. Ou seja, se o açúcar é o primeiro da lista, isso significa que o alimento tem mais açúcar do que qualquer outra coisa
– Comida sem glúten não é sempre mais saudável. Muitos produtos compensam a ausência adicionando grandes quantidades de gordura e outros componentes
– Alimentos diet não têm necessariamente baixo valor calórico. Feitos para quem tem dieta com restrição de açúcar, muitos têm alta quantidade de gordura
Fonte – Giuliana Miranda, Folha de S. Paulo de 25 de agosto de 2015
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