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Documentário discute impactos dos biocombustíveis na produção de alimentos

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No Dia Mundial da Alimentação, vídeo mostra realidade de assentados que vivem ao lado do latifúndio, e as consequências que isso tem na produção familiar.

Nesta sexta-feira (16), se comemora o Dia Mundial da Alimentação. A organização de combate à pobreza ActionAid lança no Brasil o documentário “Biocombustíveis: energia não alimenta”, sobre os impactos da expansão de áreas de monocultura para a produção de etanol sobre as plantações de pequenos agricultores familiares.

O vídeo foca nas famílias do assentamento Roseli Nunes, em Mirassol d’Oeste, no Mato Grosso. A área de mais de 7 mil hectares, onde moram cerca de 325 famílias, está cercada por grandes latifúndios do agronegócio, que contaminam a produção dos assentados com agrotóxicos.

O documentário mostra que pesticidas são pulverizados nas plantações de cana por aviões e acabam passando por cima das casas do assentamento, despejando veneno nas pessoas, suas casas e plantações. Muitos agricultores foram obrigados a deixar de plantar em suas terras por não conseguir mais cultivar os alimentos que eram envenenados por esses agrotóxicos.

O Mato Grosso é um dos estados que mais concentra terras no Brasil. 69% das áreas rurais são latifúndios acima de 3.500 hectares, de acordo com a cartilha lançada pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, em 2010.

A agricultora Miraci Pereira da Silva, em um dos depoimentos, diz que “enquanto nós temos a preocupação de produzir alimentos saudáveis, as grandes fazendas em volta só usam monocultura de cana e agrotóxico. E isso a gente sabe que não prejudica só lá no local, mas todo o entorno, que sofre contaminação da água e do solo”.

Além do vídeo, a organização divulga um relatório em parceria com a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), feito pelo economista da Fase Sergio Schlesinger, que traça um panorama do mercado de biocombustíveis hoje no Brasil e no mundo.

O relatório aponta que no Mato Grosso, a produção de alimentos diminuiu consideravelmente em função da monocultura. O arroz, cuja área plantada em 1998/99 era de 730 mil hectares, na safra de 2012/13 tinha uma área de 166 mil hectares. A área total plantada com mandioca no estado reduziu-se de aproximadamente 40 mil para menos de 24 mil hectares entre 2005 e 2012.

Vitória Ramos, assistente do setor de Análises Políticas da ActionAid no Brasil, analisa que o modelo de produção dos biocombustíveis degrada a natureza.

“O problema dos biocombustíveis não é o uso do seu produto final, o etanol ou biodiesel, mas seu modelo de produção. É importante investir em alternativas energéticas mais sustentáveis, como a eólica ou a solar, mas a agroenergia em si só poderia ser realmente sustentável e limpa se fosse produzida em menor escala, por agricultores familiares, sem agredir o meio ambiente e sem competir com a produção de alimentos”.

Sob o argumento de ser menos poluente, o setor de biocombustíveis recebe incentivos oficiais, enquanto que a agricultura familiar fica em segundo plano. O Plano Safra 2015/2016 vai oferecer R$188 bilhões de crédito para o agronegócio – um aumento de 20% em relação ao ano passado, apesar do ajuste fiscal – e R$29,8 bilhões para a agricultura familiar.

Segundo Vitória, isso cria problemas no campo e na cidade. “A monocultura expulsa os agricultores das suas terras, já que ficam cada vez mais ‘espremidos’ e isolados por essas grandes plantações e não conseguem mais manter seu meio de vida, ou muitas vezes são violentamente expulsos em meio a conflitos agrários mais intensos. Com isso, a produção de alimentos vai ficando restrita a determinadas áreas do país, mais distante de centros urbanos, o que aumenta o preço dos alimentos, pois o custo do transporte também é embutido nos preços cobrados ao consumidor final”.

Fonte – José Coutinho Júnior, Brasil de Fato de 16 de outubro de 2015

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