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Agrotóxicos sempre trazem riscos I
Luis Schiesari reflete que apesar de existirem avanços na indústria, com produtos menos tóxicos e menos persistentes, uma coisa não muda em relação aos agrotóxicos, são produtos formulados para matar organismos vivos indesejáveis para o cultivo, ou seja, são venenos.
Essa explicação, do biólogo Luis Schiesari, professor de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo, é um dos motivos para o lançamento do manual “Defensivos agrícolas: Como evitar danos à saúde e ao meio ambiente”, lançado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do qual é o autor.
Nesta entrevista, Schiesari aborda também como a transformação da paisagem na região das cabeceiras do rio Xingu, importante área produtora de soja do estado do Mato Grosso e a influência na biodiversidade de águas paradas como poças e brejos, a partir de pesquisa realizada em parceria pelo IPAM, Universidade de São Paulo e Universidade de Medicina Veterinária de Viena, Áustria.
Indagado sobre os riscos do uso de agrotóxicos para a saúde humana e para o meio ambiente, manifestou “os agrotóxicos são extremamente diversos, com centenas de ingredientes ativos disponíveis, que podem ser usados em muitos mais produtos comerciais. São compostos químicos planejados para matar organismos tão diferentes quanto plantas, ratos, ácaros etc. Entre eles, há diferentes comportamentos no ambiente e modos de ação. Além disso, é obvio que existiram inúmeros avanços na indústria, com produtos menos tóxicos e menos persistentes, mas uma coisa não muda: são produtos formulados para matar organismos vivos indesejáveis para o cultivo, são venenos. Portanto, existem riscos variados. Alguns desses componentes acabam em lugares que não são o alvo, ou seja, as áreas de lavoura. Há riscos concretos de contaminação de águas subterrâneas, açudes, rios, florestas. Também podem contaminar os alimentos produzidos e isso chegar às pessoas que os consomem”.
Ele prossegue “no geral, há duas classes de efeitos, os letais e os sub-letais. Os letais são causados por intoxicação, em geral, pelo consumo intencional, suicídios desse tipo acontecem no meio rural, ou acidental, quando os pesticidas são guardados de forma inadequada. Já os efeitos sub-letais causam danos variados que se manifestam ao longo do tempo aos sistemas nervoso, hormonal, imunológico, além de malformação fetal e câncer. São problemas de médio e longo prazos já bem documentados, sobretudo no caso de agricultores que trabalham diretamente na aplicação dos produtos. Na cartilha, damos exemplos de compostos usados nas culturas de soja que causam cada tipo de dano. Mas é importante lembrar que tudo o que se aplica às pessoas, também se aplica aos animais: peixes, insetos, macacos ou onças-pintadas. O nível de funcionamento celular e molecular dos organismos são parecidos. Além disso, os organismos estão inseridos dentro de teias alimentares e esses efeitos podem ser transmutados para organismos que não têm nada a ver com a área agrícola. Se uma espécie é afetada, seus predadores também serão”.
Perguntado sobre em que situação os defensivos são importantes e se seria possível evitá-los, reflete ele, “o uso de agrotóxico é peça chave para o modelo de produção agrícola industrial. Nele, o uso desses produtos é crítico para conseguir a produtividade necessária. Por outro lado, a utilização de monoculturas, como a de soja, só aumenta a incidência de pragas e, quanto maior o campo agrícola, maior o risco. Nesse caso, o uso de agroquímico é uma solução para eliminar ou reduzir as pragas. Para eliminar o uso dos pesticidas, seria necessário adotar um modelo alternativo, como a agricultura orgânica”.
Continua manifestando que “no entanto, há espaço para melhorias mesmo na produção industrial, como o manejo integrado de pragas, com a utilização de vários mecanismos de controle, como rotatividade de culturas, controle biológico, armadilhas e monitoramento de populações de pragas, que fariam que o uso só se desse quando realmente necessário. Pode-se também usar compostos menos danosos e persistentes. Hoje, porém, há quem use de forma profilática. Outro ponto crítico é a falta de educação e informação. Um estudo que realizamos sobre o uso de pesticidas por pequenos e grandes produtores na frente agrícola amazônica mostrou que, sobretudo entre os pequenos, faltava conhecimento técnico para o manejo tanto sobre a quantidade a ser usada como o uso de compostos inadequados”.
Finalizando, provocado a descrever quais os principais cuidados que devem ser tomados para o uso de agrotóxicos aduziu que “entre as medidas para reduzir o risco, estão cuidados com o armazenamento, que deve ser em local fechado e isolado, e o descarte correto, com o modo certo de fazer a lavagem. Também é importante a aplicação em condições adequadas. Aplicar em dia seco e quente, por exemplo, acaba gerando uma porcentagem muito grande de perda por evaporação. Também é importante a preservação das matas ciliares, que protegem os corpos d’água da chegada dos pesticidas”.
Fonte – Luis Schiesari, Roberto Naime, EcoDebate de 04 de fevereiro de 2016
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