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Para o desenvolvimentismo a qualquer custo, os ambientalistas são inimigos da Pátria

É moda destacar os valores democráticos do Brasil republicano, mas poucos lembram que, ao longo de nossa experiência republicana, consolidou-se um processo consistentemente repressor conta todos os que pensam e defendem um outro modelo de desenvolvimento.

Repressão, perseguição, discriminação e criminalização sempre foram ferramentas repressoras, que souberam se fazer sentir, desde o início do século 20, por anarquistas, comunistas, trabalhadores urbanos e rurais, movimentos sociais e populares, sem-terra, indigenistas e outros que questionavam e questionam o desenvolvimentismo a qualquer custo.

Opositores do sistema e do modelo, historicamente, foram tratados como inimigos da Pátria, traidores dos interesses da nação, pagando, muitas vezes, com a própria vida pelo atrevimento.

O problema é que os governos e as elites dirigentes não se confundem com a Pátria, nem seus interesses são os interesses da nação e do povo. Os governos e as elites econômicas até podem pensar que são a razão de ser do país, que suas razões são absolutas, dogmáticas, acima e além de quaisquer crítica ou questionamento. Mas isto não é verdade, é apenas soberba e arrogância do poder.

É o Brasil republicano com atitude de uma monarquia absolutista.

Agora, os mais novos inimigos da Pátria são os ambientalistas, que enfrentam uma coordenada campanha de desqualificação, que tenta “marca-los” como inimigos do desenvolvimento.

O governo, seus ministros, parlamentares à esquerda e a direita, ruralistas, representações empresariais, grandes empresários, com o apoio expresso da grande mídia, sempre que podem atacam os ambientalistas, como sempre atacaram os movimentos sociais e populares.

Acirra-se a campanha de difamação e calúnia aos ambientalistas, às ONGs e aos movimentos sociais, na exata medida em que aumentam as críticas ao modelo de desenvolvimento.

Os argumentos difamatórios são sempre os mesmo – que somos inimigos do desenvolvimento; que hipervalorizamos “bichinhos e plantinhas” em detrimento das necessidades humanas; que estamos a soldo de interesses econômicos internacionais; que cometemos crime de lesa-pátria ao questionar a opção nuclear; e por aí vai…

Esta campanha não nos ofende, porque sabemos que é a estratégia mais usual para desqualificar os movimentos sociais, o ambientalismo incluído. Basta um olhar superficial na história, para perceber que assim acontece há décadas.

Qualquer militante dos movimentos sociais, ambientalista ou não, está acostumado com a desqualificação. Nossos detratores, na impossibilidade de qualificarem a si mesmos, optam por nos desqualificar.

E isto se explica porque, dentre os movimentos sociais, os ambientalistas têm sido os críticos de primeira hora dos equívocos das políticas públicas, principalmente dos modelos econômico e de desenvolvimento.

Por diversas vezes alertamos que o processo de devastação avança sem controle e que não observamos medidas estruturais que possam interromper este processo equivocado de desenvolvimento, socialmente injusto e ambientalmente irresponsável.

Não somos inimigos do desenvolvimento nem queremos que nosso país se inviabilize economicamente. Apenas reafirmamos que este modelo de desenvolvimento é equivocado e inaceitável.

Somos incômodos porque denunciamos um gigantesco esquema oportunista e ganancioso que se apropria dos ativos ambientais e que somente pode ser combatido sistemicamente, se o modelo de desenvolvimento for repensado. Na verdade, mais do que tudo, defendemos que se iniciem as discussões sobre este modelo econômico escorado na exportação de produtos primários, com destaque para minério, carne e grãos. É necessário questionar a quem serve este modelo neocolonial e a quem beneficia

Podemos até não ser “ouvidos”, nem respeitados pelo poder, mas não desistiremos de afirmar que nossa compreensão de desenvolvimento é completamente diferente do que aí está. Queremos um desenvolvimento que seja realmente sustentável, o que, na nossa concepção, significa ser economicamente inclusivo, socialmente justo e ambientalmente responsável.

Fonte – Henrique Cortez, EcoDebate

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