Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Embalagens 2 – No Brasil, vendas pela internet sobem 15,3% em 2015
Em 2013, as indústrias recicladoras geraram faturamento de R$ 10 bilhões no país, segundo dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem
O comércio eletrônico vem surfando boas ondas também no Brasil. Em 2015, ano em que o varejo viu suas vendas encolherem em 4,3% no país, as transações pela internet cresceram 15,3%, totalizando R$ 41,3 bilhões. É um salto sobre os R$ 14,8 bilhões registrados em 2010. E, mesmo com a recessão, a previsão é de alta de 8% este ano, com as compras on-line batendo R$ 44,6 bilhões, segundo dados da E-bit/Buscapé.
A crise, em verdade, impulsiona as vendas pela internet. Com inflação, desemprego e incertezas sobre os rumos da economia, o e-commerce se destaca como alternativa para conseguir melhor relação custo/benefício na hora de comprar, explica a E-bit. Há menos compradores ativos, mas as compras cresceram em volume e também no valor do tíquete médio. Em paralelo a esse crescimento, aumenta também o lixo gerado pelas embalagens usadas para entregar os produtos adquiridos pela web ao consumidor.
No Brasil, não há dados compilados sobre o tamanho dessa montanha de lixo gerada pelos pacotes utilizados no comércio eletrônico. Mas sabe-se que, assim como os produtos que carregam, essas embalagens podem movimentar cifras robustas. Em 2013, as indústrias recicladoras geraram faturamento de R$ 10 bilhões no país, segundo dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), que reúne 22 associações do setor de embalagens. Três anos atrás, estudo do Ipea estimava que o Brasil perdia R$ 8 bilhões ao ano por levar para lixões e aterros sanitários materiais recicláveis que poderiam voltar à cadeia produtiva.
— Dos pontos de vista social, econômico e ambiental, é uma insensatez ter resíduo. É preciso olhar para a cadeia de consumo de forma circular, induzir inovação em design de embalagens, produtos e processos, além de mexer em pradrões técnicos, logísticos e culturais — destaca o biólogo Ricardo Barros, professor dos MBAs da FGV.
108,4 quilos de embalagens por pessoa ao ano
De acordo com a Associação Brasileira de Embalagens (Abre), a indústria do setor movimenta R$ 56 bilhões por ano. Embalagens em geral equivalem a 37% dos resíduos gerados nos lares do país, ou 108,4 quilos por pessoa por ano, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Em novembro passado, o governo assinou um acordo com as empresas para implementar o sistema de logística reversa de embalagens no país, como parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010. O foco está em coletar o lixo reciclável e devolvê-lo ao setor produtivo, para que possa ser reaproveitado ou destinado de forma adequada.
— O primeiro relatório sobre o que é gerado em resíduos de embalagens sai em 2017. Ainda há poucos dados disponíveis. A partir do acordo empresarial, o setor precisa coletar e dar destinação correta a 3.815 toneladas de embalagens por dia, sobretudo vindas de pontos de entrega voluntária, como os instalados em supermercados, e via cooperativas de catadores — explica Sabrina Gimenes, gerente de resíduos perigosos do MMA.
O Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, conta com pontos de coleta de embalagens e materiais recicláveis diversos em seus supermercados. Já a Via Varejo, que reúne Casas Bahia e Ponto Frio, por exemplo, recolhe embalagens de produtos comprados em suas lojas no momento da entrega na casa do cliente.
Se o foco estiver no lixo como um todo, 32% do que chega aos aterros sanitários do país são recicláveis. A meta de 3.815 toneladas diárias representa 22% dessa fatia, composta principalmente de plástico, papel e papelão.
— O desafio é justamente coletar o que está sendo descartado errado. Acredito estarmos cumprindo a meta, mas os relatórios ainda não estão prontos. A indústria envolvida no acordo está comprometida. Mas há o desafio de incluir todos. Temos conversado com o governo sobre como trazer quem está de fora para as obrigatoriedades do acordo e da lei — diz Victor Bicca, presidente do Cempre.
E-commerce fora do acordo
O comércio eletrônico não está entre os signatários, confirma Rodrigo Bandeira Santos, vice-presidente da ABComm, que reúne o setor no país:
— As vendas pela internet estão em expansão e, sem dúvida, o uso de embalagens pelas empresas do setor também. Não integramos esse acordo com o governo. Temos uma certificação para eficiência energética. E a destinação das embalagens merece ser discutida. O e-commerce tem o aspecto sustentável de menor emissão de gases, consumo de energia e outros insumos — conta Santos.
A Abre vem trabalhando o conceito de economia circular na indústria, para estimular o reaproveitamento de matérias-primas. E lançou, mês passado, uma ferramenta para auxiliar empresas de embalagens a adaptar seus negócios a esse conceito. Prepara agora, a versão digital do manual.
Faltam dados sobre as embalagens utilizadas pelas .Com para entregar produtos. Numa visão mais ampla, a indústria de papelão produziu 3,3 milhões de toneladas no ano passado. A tonelada do material comprado para reciclagem, de acordo com o Cempre, vale R$ 370 no mercado.
— Do total da produção, mais de 70% são reciclados. É um material que pode ser reciclado sete vezes. É fundamental porque não haveria fibra virgem suficiente no Brasil para toda a produção — explica Sérgio Ribas, diretor da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO).
Destino do lixo, perfil da renda nacional
Relatório da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (Iswa, na sigla em inglês) mostra que a produção de lixo nos países acompanha a expansão do consumo, mas sua composição e destinação variam conforme o perfil de renda dos países.
O lixo em papel — onde se encaixam as embalagens usadas para entregas expressas — cresce conforme a renda do país. Representa uma taxa de 6% do total do lixo gerado nas nações de baixa renda, de 11% a 19% nas de média renda e de 24% nas de alta renda.
Há outros caminhos para destinar as embalagens, como utilizar a Bolsa de Valores Ambientais (BVRio), desenvolvida pelo Instituto BVRio. Trata-se de uma plataforma de commodities ambientais criada para ajudar no cumprimento de políticas voltadas para o setor. E se prepara para começar a negociar créditos de logística reversa de embalagens.
— É uma proposta alternativa e complementar ao acordo empresarial. Funciona a exemplo do que é feito com créditos de carbono, compensando o descarte feito por uma dada empresa a partir da compra de créditos da coleta e destinação correta de embalagens em uma operação precificada — explicou Luciana Freitas, gerente do departamento de logística reversa.
Fonte – Glauce Cavalacanti, O Globo de 01 de maio de 2016
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