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A importância dos ácaros predadores desde a preservação ao controle biológico aplicado

Controle biológico pode ser definido como “um fenômeno natural que consiste na regulação do número de plantas ou animais por meio de agentes biológicos…”1. A expressão “fenômeno natural” ressalta que o controle biológico ocorre de forma espontânea na natureza, onde inimigos naturais agem todo o tempo: são os predadores que se alimentam de suas presas, parasitas que matam seus hospedeiros ou até fitófagos que impedem que as populações vegetais entrem em desequilíbrio.

Porém, nos agroecossistemas a perturbação deste equilíbrio ecológico favorece o estabelecimento e multiplicação de muitas espécies nocivas em detrimento dos inimigos naturais. Para ocorrer de forma satisfatória, o controle biológico necessita da intervenção humana atuando ao seu favor!

Alguns inimigos naturais podem ocorrer espontaneamente nos agroecossistemas, mas em uma densidade tão baixa que seu efeito como agentes de controle biológico é irrisório. Para auxiliar estes inimigos naturais, desenvolveu-se o chamado de “controle biológico natural”. Neste método, a população de inimigos naturais presente deve ser conservada e, sempre que possível, aumentada. Para isso, deve-se adotar estratégias que os beneficiem, como a aplicação de defensivos agrícolas na época correta ou em menor dosagem, a utilização de produtos seletivos (ou seja, que matam a praga-alvo mas não prejudicam o inimigo natural), preservar seus habitats, entre outras medidas. Embora existam poucos exemplos de controle biológico natural bem-sucedidos, em alguns casos ele apresenta um papel fundamental. Por exemplo, na Europa e Estados Unidos, o ácaro-vermelho-europeu, Panonychus ulmi, uma importante praga de macieira, tem sido controlada eficientemente utilizando algumas espécies de ácaros predadores fitoseídeos de ocorrência natural nestas regiões. No Brasil, a preservação dos ácaros predadores Euseius citrifolius, Euseius concordis e Iphiseiodes zuluagai também é um exemplo do controle biológico natural do ácaro-da-leprose-do-citros, Brevipalpus phoenicis, e do ácaro-da-falsa-ferrugem, Phyllocoptruta oleivora, na cultura dos citrus.

A maioria das espécies vegetais cultivadas são exóticas, isto é, trazidas de outras localidades para o Brasil. Durante o transporte é comum que pragas sejam levadas junto com o material vegetal, enquanto o mesmo raramente ocorre com os inimigos naturais. Isto levou ao desenvolvimento do “controle biológico clássico”, que consiste na busca por inimigos naturais na localidade de origem da praga que são, após um período de multiplicação em laboratório, liberados na nova área. Após a liberação, a situação ideal é o estabelecimento do inimigo natural, sendo este o maior desafio do controle biológico clássico.

Programas de controle biológico clássico já trouxeram ótimos resultados, como é o caso do controle biológico ácaro-verde-da-mandioca (o tetraniquídeo, Mononychellus tanajoa), um dos exemplos de programa de controle biológico mais bem-sucedidos da história. Quando a mandioca, originaria da América do Sul, foi introduzida na África, passou a sofrer fortes danos causados por esta praga. Na década de 80, a busca por predadores do ácaro-verde-da-mandioca envolveu pesquisadores de diversos países levando à introdução de mais 50 espécies de fitoseídeos coletados no continente sul-americano, inclusive no Brasil, das quais ao menos três se estabeleceram com muito sucesso e continuam atuando no controle desta praga até os dias atuais.

Por fim, temos o “controle biológico aplicado”, o tipo de controle biológico mais popular e amplamente utilizado, onde o inimigo natural comprovadamente eficiente é criado massalmente, ou seja, milhões de indivíduos são produzidos em biofábricas especializadas. Este método, além de muito eficiente, tem grande importância econômica, tanto pela economia gerada pelo controle da praga, quanto pelo mercado representado pelas biofábricas. Felizmente neste caso, não faltam exemplos de sucesso no Brasil. Por exemplo, o controle do ácaro rajado, Tetranychus urticae, estava se tornando cada vez mais difícil devido ao desenvolvimento de resistência a quase todos os produtos químicos disponíveis. Foi a utilização de predadores fitoseídeos que contornou esta situação calamitosa, diminuindo (muitas vezes até eliminando totalmente) a utilização de acaricidas. Há tanto para se falar e tantas informações sobre o uso de fitoseídeos contra ácaro rajado no Brasil, que voltaremos neste assunto num próximo texto, dando mais detalhes deste caso de grande sucesso!

É importante salientar que estes e outros programas de controle biológico são frutos de anos de dedicação e estudo.  Utilizar as informações produzidas por pesquisadores como alicerce para o desenvolvimento de programas de controle biológico é uma das grandes preocupações da Promip, que investe constantemente em pesquisa e inovação. Afinal, é dever de todos envolvidos com o agronegócio acreditar e trabalhar em prol de um futuro onde a produção agrícola seja cada vez mais limpa, respeitando o ambiente e pessoas envolvidas. E o controle biológico, com toda certeza, é uma das grandes armas utilizadas por aqueles que acreditam neste futuro!

1PARRA, J. R. P.; BOTELHO, P. S. M.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; BENTO, J. M. S. Controle Biológico: terminologia. In: José Roberto Postali Parra; Paulo Sérgio Machado Botelho; Beatriz Spalding Corrêa-Ferreira. (Org.). Controle biológico no Brasil: parasitóides e predadores. 1 ed. São Paulo: Manole, 2002, v. 1, p. 1-16.

Fonte – Promip de 14 de setembro de 2016

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