Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Esfoliantes estão criando uma verdadeira catástrofe ambiental
Beleza: o problema é que esses plastiquinhos – feitos geralmente de polietileno – são praticamente impossíveis de tirar do ambiente (shironosov/Thinkstock)
São trilhões de pedaços de plástico contidos em cosméticos que estão invadindo o sistema de tratamento de água e contaminando oceanos
Talvez você nunca tenha pensado nisso ao passar esfoliante no banho para deixar a sua pele lisiiinha, lisinha: mas as pequenas partículas durinhas dentro do produto são micropedaços de plástico – que estão causando um verdadeiro desastre ambiental.
Os microbeads são minúsculos fragmentos de plástico, de até 5 milímetros de tamanho, que são colocados em alguns cosméticos (principalmente esfoliantes de corpo e algumas pastas de dente) para causar uma sensação extra de limpeza e tirar impurezas da pele.
O problema é que esses plastiquinhos – feitos geralmente de polietileno – são praticamente impossíveis de tirar do ambiente. Eles se infiltram nos processos de tratamento de água, entram no sistema hídrico e chegam aos trilhões aos oceanos.
Cientistas calculam que, a cada uso de esfoliante, entre 4.600 e 94 mil microbeads (sim, você leu certo: quase 100 mil por lavada) podem ser liberados no esgoto.
Todos os dias, 508 trilhões de pedacinhos de plástico são liberados pelas casas americanas. O problema é que as partículas passam incólumes pelo sistema de tratamento de água, não conseguem ser filtrados e acabam voltando para a água da torneira.
E esse ainda é o menor dos transtornos. Quando os plastiquinhos entram nos recursos hídricos, o desastre é ainda pior. Eles vão parar nos rios e oceanos – onde são confundidos com elementos naturais e acabam engolidos por peixes, moluscos e aves.
Um estudo mostrou que 36% dos peixes do Canal da Mancha (entre a Inglaterra e a França) estão contaminados pelas partículas.
Esses peixes e moluscos, por sua vez, vão parar nos nossos pratos. Cientistas acreditam que o estrago causado por eles é praticamente incalculável, já que eles seguem se fragmentando – e ficando cada vez menores – na natureza, o que torna impossível mensurar o tamanho da contaminação.
Os microbeads foram desenvolvidos por um engenheiro norueguês para ajudar em tratamentos médicos. Como eles conseguem entrar em praticamente todos os lugares, basta carregá-los magneticamente, por exemplo, para que eles separem substâncias ou agrupem células e bactérias.
Mas a descoberta acabou sendo usada em grande escala pela indústria de cosméticos para motivos, digamos, menos nobres: como esfoliar a pele.
Ainda não existe nenhuma tecnologia capaz de eliminar os microplásticos do ambiente. Mas diversos países – como Holanda, Suécia e Canadá – já baniram o acréscimo do ingrediente nos produtos.
Reino Unido e EUA devem fazer o mesmo até o final de 2017. Ainda assim, o estrago já está feito.
Fontes – Karin Hueck, Superinteressante / Exame de 11 de novembro de 2016
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