Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Relatório ambiental mostra como a situação do Ártico em 2016 é terrível
A National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), órgão dos EUA responsável por pesquisas ambientais, lançou o relatório anual sobre o que está acontecendo no Polo Norte do nosso planeta, e a situação do Ártico não é nada boa.
“Em termos de gelo marinho, eu diria que a cobertura o gelo do mar ganha nota D+”, disse o geofísico, da Dartmouth University Donald Perovich, a repórteres. “Mas eu sou generoso.”
Como a nota de Perovich indica, o gelo marinho do Ártico está passando por um ano terrível, começando com um degelo recorde no início da primavera e seguindo em um outono sem precedentes, durante o qual a camada de gelo cresceu muito lentamente. Em novembro, o campo de gelo marinho ao redor do Ártico era de apenas 9.08 milhões de quilômetros quadrados, o que é 1,95 milhões de quilômetros quadrados a menos do que a média entre 1981 e 2010, de acordo com o National Snow and Ice Data Center.
O culpado é óbvio: o aumento das temperaturas no planeta.
“Uma tendência persistente de aquecimento sobre o Ártico está causando as mudanças que vemos,” disse Perovich, lembrando que desde o começo do século 20 as temperaturas na superfície do Ártico subiram aproximadamente 3,5 graus Celsius, o que é quase o dobro da taxa média global de aquecimento.
Entre setembro de 2015 e setembro de 2016, as temperaturas no Ártico estavam entre as maiores já registradas, com os maiores meses já registrados para janeiro, fevereiro, outubro e novembro. É importante destacar que os registros não estão sendo apenas quebrados – eles estão sendo estilhaçados. No mês passado, a temperatura era 30 graus Celsius acima do que o normal em várias faixas do oceano Ártico.
Mapa: temperaturas ao redor do Ártico em comparação com a média 2015-2016. Gráfico: temperaturas anuais desde 1900 em comparação com a média de 1981-2010 para o Ártico (laranja) e global (cinza). Via NOAA.
Conforme as temperaturas continuam subindo, o gelo marinho do Ártico vai continuar diminuindo, o que é uma péssima notícia para ursos polares, cuja expectativa é de que caiam em 30% em população nas próximas três ou quatro décadas. “O gelo marinho é o principal habitat dos ursos polares: eles usam isso para viajar, caçar, encontrar parceiros e se reproduzir,” explicou Kristin Laidre do Centro de Ciência Polar da Universidade de Washington. “Olhando para o futuro, todas as subpopulações vão ser negativamente impactadas pela perda de gelo.”
Os efeitos do aumento rápido das temperaturas vão muito além de ursos famintos. Como o mais recente relatório sobre o Ártico destaca, mudanças ecológicas devastadoras estão acontecendo pela terra e mar.
As temperaturas mais altas estão estimulando o crescimento do fitoplâncton, o que significa que partes do oceano Ártico estão se tornando mais biologicamente produtivas. Ao mesmo tempo, os níveis elevados de CO2 atmosférico estão engatilhando a acidificação oceânica, fazendo pequenos organismos se dissolverem. Isso pode ter efeitos devastadores na cadeia alimentar. Conforme a calota de neve retrai, a tundra fica mais verde e marrom, com essas superfícies escuras absorvendo mais calor. O permafrost está descongelando e ameaça liberar quantidades vascas de carbono enterrado no solo para a atmosfera.
Por fim, a Groenlândia continua derretendo, liberando toneladas de gelo a cada ano e fazendo o nível global do mar subir. Em 37 anos de observações de satélite, em apenas uma vez a Groenlândia começou a derreter mais cedo do que em 2016.
“Tivemos um ano de 2016 no Ártico como nenhum outro antes,” disse Jeremy Mathis, do programa de pesquisas da NOAA. “O relatório desse ano mostra claramente um sinal mais forte e persistente de um aquecimento acentuado do que qualquer outro ano em nossos registros.”
“Quando [o relatório] começou, você precisava ouvir de perto porque o Ártico estava sussurrando uma mudança,” disse Perovich. “Agora ele não está mais sussurrando. Ele está falando de uma mudança e gritando sobre essa mudança.”
Fonte – Maddie Stone, Gizmodo de 14 de dezembro de 2016
Imagen – NOAA
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