Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Fracking ameaça a maior bacia leiteira do Paraná
Reunião na Assesoar em Francisco Beltrão contou com a participação da COESUS e 350.org Brasil que apresentaram os riscos e perigos da exploração do gás de xisto. Foto: COESUS/350Brasil
Com uma produção anual de um bilhão de litros de leite, a região Sudoeste do Paraná é a primeira bacia leiteira do estado, sendo o segundo polo produtor do país. Neste cenário de alta performance econômica, que envolve em sua grande maioria pequenas propriedades rurais, explorar o gás de xisto pelo método não convencional chamado fraturamento hidráulico, ou fracking, é uma temeridade, para não dizer uma irresponsabilidade.
A afirmação foi feita por Juliano Bueno de Araujo, coordenador e Campanhas Climáticas da 350.org e coordenador nacional da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida, que esteve nesta terça-feira, 14, em Francisco Beltrão, cidade polo do Sudoeste paranaense para debater os riscos e perigos do fracking.
Juliano explicou que a tecnologia usada para extrair do subsolo o metano do folhelho pirobetuminoso utiliza milhões de litros de água, toneladas de areia e um coquetel com mais de 720 produtos químicos, muitos cancerígenos e até radioativo. Onde acontece o fraturamento hidráulico, a água da superfície e subterrânea é contaminada pelo fluído tóxico e pelo gás metano, que ao escapar para a superfície pelas fissuras provocadas pelas intensas explosões polui o ar e causa câncer e outras graves doenças nas pessoas. Há grave comprometimento na fertilidade das mulheres, provoca abortamentos e má formação congênita. Os impactos ambientais, econômicos e sociais são permanentes e irreversíveis, já que não há meios de mitigar os danos provocados pelo fracking.
“Com fracking, a região não receberá mais licenças fitossanitárias, ficando portanto impossibilitada de comercializar sua produção já que muitos países não compram produtos onde o fraturamento hidráulico acontece exatamente por temor à contaminação tóxica”, garantiu o coordenador da COESUS. Além de aniquilar a economia da região, o fracking também provoca danos à biodiversidade e afeta diretamente as pessoas e animais, que adoecem por conta dos produtos usados no processo de fraturamento da rocha de xisto.
Ampliar a discussão
Após a palestra, as lideranças se comprometeram a apoiar a realização de seminários técnicos nas 42 cidades da região Sudoeste e um grande evento com a participação de todos municípios e assim consolidar a mobilização para proibir dos testes sísmicos e o fracking no Paraná.
Com a presença de Juliano Bueno de Araujo, foi aberto o escritório regional da Campanha Não Fracking Brasil e a indicação de representantes das diversas entidades presentes e a adesão de outras 62 novas organizações à COESUS. “Vamos ampliar as ações da campanha no Sudoeste do Paraná, região que também tem forte atuação em Santa Catarina, Rio grande do Sul e Mato Grosso do Sul. O objetivo é em semanas apresentar e aprovar uma legislação municipal banindo os testes sísmicos e o fracking. Também foi definido o apoio e participação desta regional em realizar pressão e exigir do Congresso Nacional a votação do projeto de Lei que bani o fracking em todo o país”, informou.
A reunião em Francisco Beltrão aconteceu na Associação de Estudos Orientação e Assistência Rural (Assesoar) graças ao apoio de Paulo de Souza, coordenador do Fórum Regional das Organizações e dos Movimentos do Campo e da Cidade. A Assesoar aderiu a Coalizão Não Fracking Brasil e estará intensificando a campanha na região. Participaram os vereadores Camilo Rafagnin (Francisco Beltrão), Landerson Biancatto (Marmeleiro), Eder Borga (Coronel Vivida), a ex-deputada federal e estadual Luciana Rafagnin. Também se fizerem representar mais de uma dezena de secretários municipais de diversas cidades da região, presidentes de sindicatos rurais de trabalhadores e patronais, sindicatos comerciais, cooperativas, Associação dos Municípios do Sudoeste , Federação de Transportes , Unioeste , Rede Ecovida, cooperativas de crédito, UTFPR, Embrapa, CRESOL, FETRAF, e outros grandes produtores de aves e laticínios.
Lei municipal
Durante a palestra, Juliano Bueno de Araujo falou da importância de cada cidade aprovar um projeto de lei que proíba operações de fracking para proteger as reservas de água, a produção de alimentos e a saúde das pessoas e ambiental. “Temos a Lei Estadual 18.947/2016 que suspende por 10 anos o licenciamento para exploração do gás de xisto. Porém, somente a aprovação de uma legislação municipal irá garantir o banimento dessa técnica tão maléfica para a Vida”, salientou.
A COESUS e 350.org Brasil realizam desde 2013 a campanha Não Fracking Brasil para impedir que a exploração do gás de xisto aconteça no país. “Em todo o mundo o fracking está sendo banido por seu alto custo ambiental, deixando um rastro de destruição e morte. O Brasil tem grande potencial para geração de energia renovável, 100% limpa e segura que irá nos garantir um futuro com qualidade de vida e segurança alimentar”, completou Juliano.
Testes sísmicos
A ameaça do fracking preocupa a população do Sudoeste do Paraná, uma vez que a Global Service, empresa americana contratada pela Agência Nacional do Petróleo e Gás (ANP), está na região para realizar a pesquisa sísmica para levantar informações das reservas de hidrocarbonetos do subsolo.
O coordenador nacional da COESUS disse que “os testes sísmicos são tão nocivos quanto a própria tecnologia em si, pois induzem terremotos e impactam o meio ambiente. Além de proibir o fracking, nosso projeto de lei proíbe também os testes, tudo para salvaguardar a água e a vida das pessoas”.
Atualmente, mais de 280 cidades brasileiras já aprovaram a legislação sugerida pela COESUS e parceiros, e mais de 100 estão discutindo a proposta nas Câmaras Municipais. “O objetivo é garantir que os testes sísmicos cessem, já que eles geram subsídios para os próximos leilões da ANP. Os mais de 11 milhões de paranaenses já disseram não e as autoridades e gestores públicos devem nos ouvir e proibir definitivamente o fracking”, finalizou.
Fonte – Não Fracking Brasil de 15 de fevereiro de 2017
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