Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Amazônia pode entrar em ciclo de desmatamento e seca
Desmatamento reforça seca na região amazônica
Pesquisa revela que desmatamento e seca são fenômenos que se reforçam mutuamente na região. Ação humana e redução de chuvas podem transformar floresta em savana.
A Floresta Amazônica corre o risco de cair em um círculo vicioso de seca e desmatamento provocado pela ação humana e pela redução das precipitações na região, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira (13/03) na revista científica Nature.
Baseada numa complexa e inovadora análise dos fluxos de água, a pesquisa, liderada pela cientista Delphine Clara Zemp, do Instituto de Pesquisa Climática de Potsdam (PIK), aprofunda a estreita relação existente entre o desmatamento e a seca.
“Por um lado sabemos que a redução de precipitações aumenta o risco de desmatamento e, por outro, este desflorestamento pode intensificar a seca na região”, afirmou Zemp.
Vídeo – Poeira do Saara ajuda a manter a Amazônia viva.
“Por isso, quanto maior a seca, menor a floresta, e quanto menor a floresta, maior a seca. E assim sucessivamente. As consequências deste círculo vicioso entre as plantas e a atmosfera que as rodeia não estão claras”, acrescentou.
A pesquisadora destacou que o estudo “proporciona mais luz sobre esta questão, sublinhando o risco de que o desmatamento está diretamente relacionado à redução de precipitações”. Embora a média de chuvas não varie drasticamente, a extensão das secas afetará a região que poderia se transformar numa savana, segundo as previsões lançadas pela publicação.
De acordo com o coautor do estudo Henrique Barbosa, da Universidade de São Paulo (USP), o ciclo de água na Amazônia é extremamente suscetível às mudanças ambientais.
“A ação humana está impondo perturbações maciças no Amazonas, pela poda de árvores e pelos gases do efeito estufa que reduzem a umidade e as precipitações, e acaba afetando até as partes inexploradas da floresta”, detalhou Barbosa.
Além disso, o estudo sustenta que uma das fortalezas que tem a floresta para resistir a essa ameaça é a diversidade na vegetação.
“Como cada espécie reage de maneira diferente, ter uma grande diversidade na vegetação pode significar que o ecossistema resista melhor”, afirmou Marina Hirota, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também coautora.
“Preservar a biodiversidade se transforma não só numa questão de amar a natureza, mas num elemento estabilizador do sistema terrestre”, concluiu.
Mundurukus às margens do Tapajós
Junto às margens – Os índios da etnia munduruku habitam principalmente as regiões de florestas, às margens de rios. Estão distribuídos especialmente no vale do rio Tapajós, no Pará, e nos estados do Amazonas e Mato Grosso. Atualmente, estima-se que a população de índios munduruku seja de 12 a 15 mil.
A cacica – Atualmente, algumas aldeias de munduruku são representadas por mulheres, conhecidas como cacicas. Maria Anicéia Akay Munduruku, da região do Alto Tapajós, faz parte do movimento pela demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu e contra a construção de hidrelétricas. Ela não fala português: para se comunicar com os demais fora da comunidade, ela precisa da ajuda na tradução, feita pelo marido.
As ameaças – Os moradores da Terra Indígena Sawré Muybu aguardam a homologação do território que habitam há pelo menos três séculos. A área, de 178 mil hectares, sofre ameaça principalmente de madeireiros, garimpeiros e, agora, pode ser impactada pela construção de hidrelétricas. Como estratégia, os indígenas iniciaram a autodemarcação do território com instalação de placas que imitam as oficiais.
A essência da vida – Para os mundurukus, o rio Tapajós é a essência da vida indígena. Eles dependem de suas águas principalmente para se alimentar e se locomover. Estudos apontam a existência de mais de 110 espécies de peixes, além do peixe-boi e ariranha. Animais como anta e tamanduá-bandeira também vivem às margens do rio.
Este Post tem 0 Comentários