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O Custo Humano dos Agrotóxicos: fotojornalista argentino retrata vítimas da contaminação

Argentino Pablo Piovano, autor do trabalho documental ‘O Custo Humano dos Agrotóxicos’ | Foto: Guilherme Santos/Sul21

O fotojornalista argentino Pablo Ernesto Piovano, que trabalha no jornal Página 12, apresentou nesta sexta-feira (12), durante o FestFoto, realizado no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, em Porto Alegre, o trabalho fotográfico “O Custo Humano dos Agrotóxicos”. A obra documental é o resultado de cinco viagens que ele fez a regiões agrícolas do país vizinho para retratar vítimas de contaminação por venenos agrícolas. São imagens de pessoas com manchas e caroços na pele, mãos, braços e pernas deformadas, crianças com problemas resultantes de malformações fetais.

Piovano conta que a ideia para o projeto surgiu em 2014, após ser apresentado a dados médicos sobre a contaminação de pessoas pela utilização de agrotóxicos. “O que acontecia é que logo após pulverizações de agrotóxicos, as salas médicas se enchiam de crianças. Com o tempo, perceberam que os casos se tornavam cada vez mais perigosos”, diz o fotojornalista. O que lhe chamou mais a atenção é que, com o tempo, foi se percebendo que a contaminação não causava apenas problemas na pele e no sistema respiratório, mas também doenças mais graves, como câncer.

Ele diz que, como a força dos grandes latifundiários que utilizam agrotóxicos e dos fabricantes desses produtos é muito grande na Argentina, o tema da contaminação não é pauta na imprensa tradicional do país, apenas em veículos independentes. “O maior barulho que se fazia era o silêncio”.

De forma independente e com recursos próprios, ele partiu, no final de 2014, para uma viagem pelas regiões norte, litoral do Pacífico e central, principais áreas agrícolas do país, onde se produz especialmente soja. Esta viagem inicial – a primeira de cinco – durou cerca de um mês. “Ali, me dei conta que o tema era muito sério”, diz.

O fotojornalista explica que o material era tão intenso que lhe “queimava as mãos”, mas não conseguia publicá-lo na Argentina.  Tive que fazer a dupla tarefa de divulgá-lo”, afirma, salientando que passou então a postular a possibilidade de captar financiamentos e apresentar o trabalho já realizado em festivais internacionais. Acabou conseguindo o financiamento no meio das cinco viagens e, atualmente, prepara um livro a ser publicado ainda este ano na Alemanha.

Ao longo do caminho, contou com a companhia de jornalistas que escreveram textos para acompanhar suas fotos, publicadas na Argentina e no exterior. Conseguiu ainda exibir o trabalho em um museu de Buenos Aires, mas, quando foi realizar uma segunda exposição em outro local, foi avisado dois dias antes do lançamento que tinha sido cancelada.

A soja transgênica e o uso do glifosato foram autorizados na Argentina em 1996. Em duas décadas, 60% da área cultivável do país passou a ser ocupada por lavouras transgênicas que recebem, anualmente, mais de 300 milhões de litros de agrotóxicos. Segundo Pablo, com viés de esquerda, os governos Kirchner não fizeram muito para barrar esse avanço. No entanto, desde que o liberal Maurício Macri assumiu o poder, o governo tem trabalhado para liberar ainda mais o comércio desses produtos.

Eles querem contar suas histórias

Antes de iniciar suas viagens, Piovano conta que realizou um trabalho de produção e investigação em que se relacionou com cientistas, médicos e ativistas que foram lhe ajudando a identificar as personagens de seu trabalho. Uma vez lá, no entanto, descobriu que o contato com a maioria das famílias atingidas era fácil, porque elas “sentiam a necessidade de terem suas histórias narradas”. “Centenas de portas foram abertas para mim e isso é muito delicado, porque é a intimidade das pessoas”, relata.

Nessas conversas, percebeu que, salvo exceções, a maioria dos agricultores não utiliza os equipamentos de proteção adequados. “Eu entrevistei uma pessoa que pilotava um avião pulverizador. O filho tinha câncer e seguia dizendo que não acontecia nada. Diante de mim, tomou uma tampinha com glifosato. Isso aconteceu em 2014. Em 2015, a Organização Mundial da Saúde declara que o glifosato é possivelmente cancerígeno. Voltei a vê-lo, o discurso era outro e não voltou a tomar o veneno”, relata Piovano. Segundo ele, na época, não soube se o homem tinha problemas de saúde, mas diz que sabe-se que a região em que mora, San Salvador, tem alta incidência de câncer.

Por outro lado, verificou que, com o passar do tempo, com o aumento das pesquisas e investigações sobre o tema, as famílias foram tomando conhecimento sobre os efeitos dos agrotóxicos e os danos que traziam à saúde. Perceberam ao menos que a incidência de malformações em crianças, muito acima nos povos onde ocorria a pulverização do que a média nacional, estava relacionada à utilização de agrotóxicos. Os índices de câncer são três vezes maiores nessas regiões. “Ele começam a fazer uma associação entre as enfermidades e o agrotóxico”.

O que não tinham era alternativa, uma vez que o modelo de produção está “implementado de tal forma que é muito difícil fugir dele”, diz. “Na província das Misiones, onde há produção de tabaco, as pessoas que compram a produção são as mesmas que vendem os agrotóxicos. Então, as pequenas chácaras, de um, dois ou três hectares, para poder vender, têm que comprar os químicos”, diz.

Confira algumas das fotografias de Piovano

Foto: Pablo Piovano/Divulgação

Foto: Pablo Piovano/Divulgação

Foto: Pablo Piovano/Divulgação

Foto: Pablo Piovano/Divulgação

Foto: Pablo Piovano/Divulgação

Fonte – Luís Eduardo Gomes, Sul 21 de 14 de maio de 2017

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