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Febre!

Nunca o verdadeiro pode alcançar o imaginado

Nestes tórridos dias, 360 anos depois, a bela frase do italiano Baltazar Gracián encontra seu desmentido: o verdadeiro alcançou e já ultrapassou o imaginado.

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), órgão da ONU, concluiu que, do pouco que sabemos sobre as conseqüências das mudanças climáticas, já dá para creditar à humanidade boa parte destas mudanças; que os oceanos subirão pelos próximos mil anos; que, até o ano 2100, a temperatura média da Terra aumentará mais 3 graus, mas não se descarta que chegue a 4 graus, e um tal James Lovelock, naquela de só sei que nada sei, acha melhor prever 6!

Esta cesta de previsões é suficiente para colocar mais de 50% da população mundial sofrendo pela falta de água; aumentar de 25% a 80% o número de famintos; quebrar safras inteiras; destruir mais de 20% das espécies conhecidas; acabar com grande parte dos ecossistemas; derreter o pólo norte; transformar em cerrado 20% da Amazônia.


Até há bem pouco, você imaginaria 600 cientistas, de 40 países, colocando sua assinatura e prestígio em um documento com tal número de pesadelos?

Alguém imaginaria?

O verdadeiro alcançou e já ultrapassou o imaginado.

Contudo, o espanto deve ceder a um justificável otimismo.

Apesar deste verdadeiro drama, ando otimista, e vou dizer por quê.

Desmatamentos, incêndios florestais, lixões, queima de combustíveis fósseis e outras fontes de alterações climáticas, existem como conseqüência de um modelo de desenvolvimento. A mola mestra deste desenvolvimento é uma conhecida lógica de consumo. Se os consumidores modificassem seu padrão de consumo, orientando-o para alternativas ambientalmente adequadas, tudo isso se inverteria.

O consumidor é quem chancela as normas que condenam a Terra a este verdadeiro cataclisma.

Em outras palavras, o freguês tem sempre razão.

Mas, no mundo globalizado, não mais existe o indivíduo consumidor. Agora, o consumidor é plural. E atende a desejos difusos, que nem sequer são seus. O objeto de consumo não é o que se compra, mas o ato de comprar.

Para uma população compulsiva, falar em alternativas ambientais é clamar no deserto. A hipnose do consumo veda qualquer possibilidade de diálogo. Em vão bramem as propostas ambientais, batendo de encontro aos rochedos consumistas.

Repentinamente, entretanto: a praia vai acabar! a temperatura está subindo! vai faltar água! não vai ter mais comida!

Esse ruído todo as desperta do transe. Como um choque.

Assim, despertas, podem tornar-se acessíveis a novas idéias; solidárias a este momento de angústia e crise por que passa o planeta que habitam. Somar-se aos que desejam um fim a esta orgia regada à base de recursos naturais.

Antes do Japão bombardear Pearl Harbor, menos de 10% dos americanos apoiava a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra. Uma semana após o bombardeio, o choque de realidade foi tamanho que, segundo os institutos de pesquisa à época, mais de 80% deles mudou de opinião.

Um choque de realidade. Um inimigo comum. É do que a humanidade carece.

Estou otimista. É esta a única chance que se tem de capilarizar a questão ambiental a tal ponto que indianos e paraibanos, budistas e indigenistas, de todos os rincões, entendam a única língua que a Terra fala neste momento.

O planeta arde. Está com febre.

Nós somos o planeta. (Recado do Cheida)

 

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