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Práticas conservacionistas podem evitar que o clima aumente a erosão no Brasil

Erosão do solo na região de Piracicaba, no interior de São Paulo (Foto: Ana Paula Hirama - Wikimedia Commons)Erosão do solo na região de Piracicaba, no interior de São Paulo (Foto: Ana Paula Hirama – Wikimedia Commons)

As mudanças climáticas podem deixar algumas lavouras do Brasil mais vulneráveis à erosão. Mas algumas medidas boas para o meio ambiente também protegem o solo da agricultura

As mudanças climáticas podem deixar algumas lavouras do Brasil mais vulneráveis à erosão. Segundo um estudo inédito coordenado pelo engenheiro ambiental André Almagro, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, as mudanças nos regimes de chuvas têm o potencial para aumentar a vulnerabilidade de algumas regiões do Brasil à perda de solo. Os pesquisadores avaliaram os cenários até o fim do século. A análise sugere que as regiões mais afetadas, com aumento de até 109%, são o Nordeste e o Sul do Brasil. Do outro lado, reduções de até 71% na taxa de erosividade são estimadas para o Sudeste, o Centro-Oeste e o Norte do país. A pesquisa foi publicada na revista Scientific Reports.

Em entrevista a ÉPOCA, Almagro explica como esse tipo de estudo pode ser usado para orientar práticas preventivas. Com alguns cuidados, é possível proteger melhor o solo cultivado e reduzir as perdas. Essas boas práticas têm a ver com medidas de conservação ambiental.

ÉPOCA – O estudo mostra quando as mudanças climáticas podem aumentar ou diminuir o potencial de erosividade. Qual é o peso do clima em relação a outros fatores como taxa de desmatamento e práticas agrícolas no grau de vulnerabilidade dos solos?
André Almagro – Os fatores intervenientes nos processos erosivos, como chuva, topografia, tipo de solo, uso, cobertura e manejo do solo, são importantes e merecem atenção. No entanto, considerando que a erosão tem a chuva como força motriz, o clima ganha peso, uma vez que é determinante no regime das chuvas. As mudanças no clima alteram a distribuição, intensidade e frequência das chuvas, impactando diretamente na erosividade.

ÉPOCA – Como podemos usar o levantamento do potencial de erosividade? O que podemos fazer para lidar com esse risco aumentado?
Almagro – O levantamento do impacto das mudanças climáticas no potencial erosivo pode ser utilizado para a simulação de cenários, para que possamos saber o que esperar do futuro dos processos erosivos, diminuindo a vulnerabilidade e aumentando a resiliência. Mas esses dados devem ser utilizados em conjunto com demais fatores, tais como índices de seca, disponibilidade hídrica, aptidão agrícola do solo e infraestrutura local, visando ao desenvolvimento de planos de conservação de solo e água para as regiões brasileiras.
Para lidar com o aumento do potencial erosivo, devemos proteger o solo. É necessário que políticas públicas que incentivem a conservação do solo e da água sejam implementadas e efetivadas.

ÉPOCA – Quais são as boas práticas agrícolas que ajudariam a compensar o aumento no potencial de erosividade gerado pelo clima?
Almagro – Práticas conservacionistas como o terraceamento, adubação verde, manejo de pastagens [integração lavoura-pecuária-floresta], plantio direto, plantio de sementes na estação seca, controle de queimadas, recuperação de pastagens e a manutenção de áreas de preservação permanente e reservas legais são exemplos de boas práticas que devem ser adotadas na agricultura para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, garantindo segurança alimentar e hídrica.

ÉPOCA – Qual é a importância de manter cobertura vegetal nos topos de morros?
Almagro – As áreas de topos de morro apresentam declividade acentuada e altitude elevada. A vegetação é a grande responsável pela estruturação e estabilidade do solo nessas áreas. Quando a vegetação dessas áreas é suprimida, toda a energia da chuva – que antes era dissipada pela vegetação – atinge diretamente o solo exposto e os processos erosivos ocorrem de maneira mais intensa, desestruturando o solo e podendo ocasionar deslizamentos e acidentes.

ÉPOCA – Um solo erodido se recupera algum dia?
Almagro –  Um solo erodido pode ser recuperado. A erosão é um processo lento e natural de formação do ambiente que, no entanto, é acelerado pela ação humana. Da mesma forma, a recuperação natural de áreas degradadas levaria milhares de anos, mas pode ser acelerada por tecnologias disponíveis. A recuperação de áreas degradadas, por meio de técnicas de estabilização de encostas de voçorocas, plantio de leguminosas para recuperação da fertilidade do solo, plantio de mudas arbóreas para recuperação de matas ciliares e reestruturação do solo. Todas as técnicas de recuperação, no entanto, são mais custosas que as técnicas de conservação. Elas visam recuperar o equilíbrio do sistema. Não é possível o retorno ao estado original.

ÉPOCA – Segundo o estudo, os cenários de mudanças climáticas podem levar a uma redução no potencial de erosividade do Norte do Brasil. Por outro lado, as mesmas mudanças climáticas podem aumentar a fragilidade da floresta. Com menos floresta, há mais solo exposto. Essa redução na área de floresta não aumentaria o risco de erosão na região?
Almagro – Aumentaria. Com a diminuição da erosividade e o aumento da vulnerabilidade das florestas, projeta-se uma tendência de crescimento das áreas agrícolas no Norte do Brasil. De fato, se áreas de florestas forem convertidas em áreas de cultivo, as taxas de perda de solo no decorrer do século XXI podem atingir valores maiores do que os atuais. Por isso, destaca-se a importância da manutenção das áreas de reserva legal, de preservação permanente e da aplicação das boas práticas agrícolas, para que, mesmo com o crescimento do setor, não haja prejuízos dos serviços ambientais prestados pela natureza.

Fonte – Alexandre Mansur, Blog do Planeta de 25 de agosto de 2017

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