Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
A Bacia Amazônica tem a maior área com risco de erosão do mundo
O primeiro mapa global do potencial de erosão. A Bacia Amazônica é a região mais vulnerável (Foto: reprodução)
Esse é um dos resultados do primeiro mapeamento global das áreas com maior erosividade. O risco pode se intensificar com as mudanças climáticas
Um grupo de pesquisadores, com participação de um brasileiro, publicou hoje (dia 23 de junho) o primeiro mapa mundial em alta resolução com o potencial da chuva em causar erosão do solo. O estudo é um esforço de vários centros de pesquisa de dezenas de países, como Itália, Suíça, Austrália, Áustria, Coreia do Sul, Índia e Kuwait. O mapa mostra o que os pesquisadores chamam de erosividade. Ela é o potencial da chuva de causar a erosão do solo. O mapa foi publicado em um artigo da revista Scientific Reports, da Nature.
“Este artigo apresenta o primeiro mapa mundial de erosividade, baseado em dados de precipitação de alta resolução temporal”, explica um dos autores, Paulo Tarso Sanches de Oliveira, professor de hidrologia e recursos hídricos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. “A erosividade das chuvas quantifica o efeito climático sobre a erosão hídrica. Isso é de grande importância para cientistas do solo, stakeholders, agrônomos, hidrólogos e cientistas ambientais em geral. Além disso, é fundamental para uma nova avaliação dos impactos globais da erosão do solo, prevenção de riscos naturais, conservação do solo e água, segurança hídrica e alimentar.”
O mapa mostra em azul-escuro as áreas onde a chuva tem maior potencial para arrancar o solo. Elas se concentram na faixa tropical do planeta. A maior parte dessas áreas está no Brasil. A Bacia Amazônica tem a maior extensão de terras com alta erosividade do planeta.
“A Bacia Amazônica e a Região Norte como um todo possuem os maiores valores de erosividade observados no Brasil”, diz Paulo. Isso se deve pelos grandes acumulados de chuva verificados na região, que, no período de 1980 a 2013, foram de aproximadamente 2.200 milímetros por ano. De forma comparativa, no mesmo período a Região Nordeste apresentou média de 900 milímetros por ano. Os maiores valores médios de erosividade encontram-se em regiões tropicais. Com relação aos continentes, a América do Sul também apresenta os maiores valores médios de erosividade. “Isso indica que essas regiões com elevada erosividade da chuva e que estejam ocupadas por agricultura, por exemplo, precisam manter práticas de conservação do solo eficientes, garantindo boa cobertura do solo e favorecendo infiltração, tais como plantio direto, cultivo em nível e terraceamento”, afirma Paulo. “Caso contrário, vão intensificar o processo de erosão do solo.” A região litorânea do Sudeste e do Sul do Brasil apresenta valores intermediários de erosividade, principalmente nas regiões montanhosas.
O levantamento foi feito a partir da intensidade dos eventos de chuva forte isolados em cada lugar. O índice de erosividade corresponde à energia cinética por milímetro de chuva por hectare por hora no ciclo de um ano. “O índice de erosividade da chuva é calculado pelo produto da energia cinética da chuva e pela intensidade máxima do evento de chuva em 30 minutos”, explica. Os valores são calculados para cada evento individual de chuva erosiva. Posteriormente, os pesquisadores calculam o valor anual e fazem um levantamento da média de vários anos.
O estudo calculou apenas o potencial de erosão. Para saber da erosão ocorrida de verdade, é preciso considerar outros fatores como características do solo, topografia do terreno, uso e ocupação do solo e práticas de manejo. Mas a erosividade, como depende das chuvas, é vulnerável às mudanças climáticas. Alterações no regime de chuvas podem aumentar esse potencial. Em várias regiões do mundo, o aquecimento global aumenta a intensidade das chuvas. Com isso, elas passam a ter um poder maior para arrastar a camada superficial do solo.
Fonte – Alexandre Mansur, Blog do Planeta de 23 de junho de 2017
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