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Argentina. Escolas rurais de Entre Rios são pulverizadas por agrotóxicos

A movimentação do governo Michel Temer para garantir votos contra o avanço do processo de impeachment gerou, na história recente, uma série de acordos nocivos à sociedade e foi amplamente noticiado pelos meios de comunicação. Junto à bancada ruralista, Temer negociou uma revisão na legislação sobre o uso de agrotóxicos.

O uso de agrotóxicos tem causado efeitos para além das lavouras – está contaminando escolas. O fato levou à prisão o presidente da empresa Villaguay Aero Litoral SA, Erminio Bernardo Rodríguez, o dono do campo que contratou o serviço, José Mario Honecker e o piloto César Martín Visconti. A condenação a um ano e meio de prisão ocorreu devido à contaminação de uma professora e alunos de uma escola rural em Santa Anita, ao sul de Entre Rios.

Este julgamento é o primeiro que foi fundamentado na província pela fumigação de uma escola. O caso começou com a queixa da professora Mariela Leiva, que estava à frente da classe quando o evento ocorreu. A reivindicação foi acompanhada pela campanha “Pare com a fumigação nas escolas”, liderada pela seção uruguaia da Associação de Magisterium Entre Ríos (Agner). Leiva foi uma das vítimas, juntamente com outras cinco crianças, que relataram vômitos, náuseas, dores de estômago, erupções cutâneas e mucosas, e tiveram quer ser tratadas no Hospital Reverendo Padre Becher.

Embora não haja registro recente de fatos como este no Brasil, o país vive uma realidade semelhante em áreas rurais, tendo em vista que é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo. No ano passado, uma análise feita pelo Greenpeace Brasilencontrou a presença irregular de agrotóxico em merenda escolar do Rio de Janeiro.

Alimentos como arroz, feijão, couve estariam contaminados com procimidona, metamidofós e mais “ingredientes” de nomes estranhos. Na pesquisa inédita, a organização adquiriu 20 amostras de alimentos, ou 40 kg de comida, de um fornecedor da rede de ensino carioca. Foram encontrados agrotóxicos em 60% das 20 amostras. E 45% apresentaram alguma irregularidade, como a presença de um pesticida proibido no Brasil.

Junto com o Brasil, a Argentina também lidera o ranking do consumo de agrotóxicos no continente. Foi lá, na cidade de Rosário, durante o Encontro Intercontinental Mãe Terra – Uma só Saúde, que a pesquisadora do agronegócio, Integrante do Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração (ETC) Silvia Ribeiro falou sobre o impacto causado pelo uso de veneno na terra.

“A estrutura agrícola sofreu um processo de concentração corporativa e uma reforma agrária ao contrário, concentrou a terra em menos mãos. A isso se soma as doenças provocadas pelos agrotóxicos. Um dado alarmante é o fato de que a Argentina e o Brasil consomem 21% do agrotóxico de todo o mundo”, explicou.

Para debater o tema e em alusão ao Dia Mundial da Alimentação, celebrado na segunda-feira, 16-10, a Organização das Nações Unidas – ONU e a Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS divulgaram recentemente o Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e no Caribe 2017. O documento informa que o Brasil, que deixou de figurar no Mapa da Fome em 2014, é um dos países capazes de extinguir a fome entre sua população. O bom presságio ocorre diante de um índice de fome inferior a 2,5%, mantido ao longo dos últimos anos e garantido por políticas públicas que, por recomendação das duas entidades, devem ser conservadas. Uma observação do documento, entretanto, é a opção por formas limpas de produção de alimento, como a agricultura familiar e orgânica.

Junto a representantes da ONU e da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que se reuniram em Brasília para debater o tema, o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, disse que “se, por um lado, os grupos de produtores rurais, em grande parte formados por imigrantes, estão particularmente vulneráveis a desastres naturais, porque mais expostos ao esgotamento de recursos naturais e às secas, por outro lado, são eles quem leva às mesas alimentos mais saudáveis, através da agricultura familiar. “Alimentos impregnados de agrotóxicos podem servir ao mercado, mas não são alimentos seguros”, afirmou.

Na ocasião, o ator e comediante Gregório Duvivier deu destaque a estas movimentações em seu programa Greg News. Na edição que foi ao ar em 18 de agosto, ele destacou que “não foi só dinheiro que a bancada ruralista faturou. Também ganharam de Temer a promessa de mudanças na lei para afrouxar o processo de aprovação dos agrotóxicos”, disse ele, explicando o atual processo de licença dos químicos.

Para embasar seus argumentos, Duvivier utilizou e citou o Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Para a produção do episódio, ele foi assessorado por Karen Friedrich, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e integrante da coordenação do Grupo Temático Saúde e Ambiente (GTSA/Abrasco).

“Dos 50 princípios ativos mais usados nos agrotóxicos 22 são proibidos na Europa. Desde 2004 os chineses também começaram a reduzir o uso desses venenos. Em 2007 cinco produtos foram proibidos em Pequim, e sua exportação explodiu no Brasil (…)”. Ele falou ainda que enquanto o Congresso está “afrouxando” a legislação em relação ao uso de agrotóxicos no Brasil, essas substâncias seguem causando mutações genéticas e problemas como o câncer.

Fonte – Lara Ely, IHU de 12 de outubro de 2017

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