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Contaminantes Emergentes: Uma ameaça real na água usada para consumo humano

ciasabesp

A partir de 2012 os estudos sobre contaminantes emergentes (CE) se tornaram mais comuns no país, motivados pelo número crescente de geração desses produtos, com o consequente descarte ou eliminação dos mesmos no meio ambiente, principalmente nos cursos d’água. O CE é uma alusão aos produtos tóxicos que não são removidos ou eliminados pelos processos tradicionais de tratamento de água para consumo humano. Entre esses produtos estão os hormônios endógenos, hormônios sintéticos, anticoncepcionais, fármacos de diversas composições, cafeína, sucralose, nanomateriais, bactericidas, inseticidas, algicidas, herbicidas, produtos de limpeza e de higiene pessoal, protetores solares, produtos de cloração e ozonização de águas, entre outros totalizando mais de mil compostos.

Muitos desses contaminantes são caracterizados como interferentes endócrinos, como é o caso da cafeína, fármacos, sucralose, nanomateriais e subprodutos do tratamento de água. Designam-se por substância ou mistura que altera a função do sistema endócrino, causando efeitos adversos em um organismo saudável ou em seus descendentes. O triclosan, por exemplo, fármaco utilizado como bactericida, é comprovadamente ineficiente. Entretanto, causa destruição em alguns tipos de algas e torna-se perigoso na proporção de apenas 1,5 nanograma por litro.

Um agravante em relação ao CE, é que os mesmos têm sido gerados em grandes quantidades, em função do perfil consumista da sociedade atual, não só brasileira mas também mundial. Outro problema é que eles não persistem por um longo tempo no meio ambiente para causar efeitos negativos ao meio ambiente e à saúde humana. O preocupante é que estas substâncias têm como via principal a água, ou seja, após serem usadas ou ingeridas pelas pessoas caem no sistema de esgoto, passam pelo sistema de tratamento e acabam em diferentes ecossistemas.

Por se tratar de estudos recentes, ainda há carência de dados referentes à ocorrência de muitos contaminantes emergentes em matrizes ambientais brasileiras.

Outro agravante, está relacionado aos subprodutos gerados pela alteração das moléculas originais, conhecidos como metabólitos. Muitas vezes esses “novos produtos” costumam ser mais tóxicos do que suas moléculas originais, tornando mais difícil e dispendioso sua detecção ou identificação. Esse, aliás, tem sido um dos grandes desafios da agricultura em relação ao comportamento dos agrotóxicos no ambiente.

Estudos realizados pelo Instituto de Química da Unicamp mostram evidências incontestáveis de que esses compostos emergentes têm causado sérios danos à fauna aquática. Está comprovado, por exemplo, que eles podem provocar a feminização de peixes, alteração no desenvolvimento de moluscos e anfíbios e decréscimo de fertilidade de aves. No entanto, não se sabe ainda que tipo de problema a exposição crônica a esses contaminantes pode causar aos seres humanos. O bom senso orienta que se espere 20 ou 30 anos para se obter essa resposta. Assim, de forma preventiva, o melhor a fazer é alterar a legislação e passar a exigir a remoção desses compostos na água tratada para consumo humano o quanto antes”.

Diante do exposto, fica o desafio de se buscar meios efetivos para a eliminação ou controle mais rígido dos contaminantes emergentes presentes na água, sobretudo a destinada ao consumo humano. Assim ocorrendo, haverá como consequência, uma redução significativa desses produtos nos efluentes gerados, contribuindo positivamente para a saúde humana, dos animais e dos organismos aquáticos de um modo geral.

Fonte

PESCARA, I. C. Ocorrência e remoção de contaminação emergentes por tratamentos convencionais de água e esgoto. Instituto de Química. Unicamp. Campinas, 2014. 167p. (Tese de Doutorado).
http://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/jornal/paginas/ju_623_paginacor_06e07_web.pdf (Jornal da Unicamp Campinas, 27 de abril de 2015 a 10 de maio de 2015 – ANO 2015 – Nº 623).

Marco Antonio Ferreira Gomes e Lauro Charlet Pereira, Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente

Fonte – EcoDebate de 01 de novembro de 2017

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