Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Documento de 15000 cientistas: o planeta em crise, a mudança é agora ou nunca mais
Para uma civilização cujo desenvolvimento é medido em milênios, 25 anos não é nada. Certamente não deveria ser suficiente para devorar um planeta inteiro. Mas é para isso que estamos nos encaminhando, e em um aviso para a humanidade, os cientistas explicam que, no espaço de uma ou duas gerações tomamos o caminho da autodestruição.
Era 1992, quando a Union of Concerned Scientists (UCS, uma organização internacional de cientistas envolvidos em campanhas pela sustentabilidade, sediada nos EUA) publicou o primeiro “Aviso dos cientistas do mundo para a humanidade”. Assinado por mais de 1.400 especialistas, o documento mostrava indicadores alarmantes, do desmatamento às reservas hídricas, até o crescimento da população: as atividades humanas estavam destruindo os ecossistemas, conduzindo a própria humanidade a uma crise global, sem precedentes.
Depois de um quarto de século, e não por acaso publicado exatamente durante as negociações da 23ª Conferência das Partes, em Bonn da Convenção das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, os cientistas da UCS emitiram um segundo aviso.
Usando dados de organizações governamentais e não-governamentais, os especialistas avisam: estamos a ponto de provocar um “dano irreversível” ao planeta Terra, estamos a um passo de atingir os limites de tolerância da biosfera. Eles reiteram a mensagem escrita muito claramente 25 anos atrás: “É preciso uma mudança drástica na gestão dos recursos terrestres” para evitar o colapso do sistema Terra, o ser humano incluído.
Os signatários do documento, liderados por William Ripple, professor de ciências florestais na Universidade Estadual de Oregon, desta vez são 15 000 (dos quais 280 operam em instituições italianas), provenientes de 184 países e incluem a maioria dos ganhadores do prêmio Nobel ainda vivos. Nunca tantos especialistas se reuniram em um único documento científico.
Seria fácil rotular o apelo como um alarmismo com viés catastrófico-ficcional. O trabalho dos cientistas é estudar as mudanças a longo prazo nos ecossistemas, explica Ripple. “E aqueles que assinaram não estão levantando um falso alarme: estão apenas avisando sobre os sinais claros de que estamos seguindo ladeira abaixo, rumo a um percurso insustentável”. Os progressos realizados para uma coexistência entre a espécie humana e todas as outras formas de vida, e para garantir um futuro para nós mesmos, são poucos, mas importantes. Quem escreve isso é Ripple e seus colegas na revista Bioscience, onde publicaram o relatório.
Foram registrados progressos na redução de compostos químicos responsáveis pelo buraco de ozônio, no aumento da produção de energia a partir de fontes renováveis, mas também no declínio da fertilidade (ligado a programas de educação e de sensibilização) em algumas regiões, e, por fim, no declínio da taxa de desmatamento, que passou de 0,18% por ano em 1992 para 0,08% ao ano atualmente. Essas são as melhorias, de outra forma, todo o resto continua muito preocupante.
É grave a situação dos recursos hídricos per capita, que diminuíram em 26% desde 1992 (vocês não sentiram o problema? Muito possivelmente sim, no mais é uma média e significa que em algum lugar alguém provavelmente ficou sem água). Continuam a diminuir os estoques de pescado, embora o boom da aquicultura tenha dado algum fôlego para os oceanos. Aumentam, e dramaticamente, as “zonas mortas” marinhas: milhares de quilômetros de costa tornaram-se estéreis pelo afluxo de poluentes originados pelo setor agropecuário (por exemplo, os fertilizantes para a agricultura).
Estamos derrubando menos árvores, certamente, mas ainda assim perdemos 122 milhões de hectares de florestas em 25 anos, dizendo um não a um dos melhores seguros contra o aquecimento global. Disso decorre o problema da atmosfera, aquecida por emissões de gases de efeito estufa que aumentaram implacavelmente em 62% em vinte anos. Tudo isso causou um aumento na temperatura média global na Terra de 167%, e repercute sobre nossos coinquilinos do reino animal: desde 1992, perdemos 29% das espécies, entre mamíferos, anfíbios, répteis, peixes e aves.
Os cientistas insistem que é crucial, para superar essa longa descida rumo ao colapso, a redução da taxa de crescimento da população humana, que aumentou em 2 bilhões em 25 anos, equivalente a um aumento de 35% desde o primeiro aviso da UCS.
E a Itália, em tudo isso? Qual é a sua contribuição? De acordo com Alberto Basset, professor de ecologia da Universidade de Salento, e signatário do aviso, “o fato de que em alguns países, como a Itália, muitos dos indicadores estejam na contratendência não é motivo de tranquilidade e nem mesmo de satisfação. De fato, nossa ‘pegada ecológica‘ geral vai além do território italiano e contribui para as tendências globais destacadas no relatório”. “Na Itália, as mudanças na superfície florestal e na população estão na contratendência em relação aos dados globais. A preservação das espécies animais e vegetais é muito avançada, a perda de habitat reduzida e em alguns casos verificou-se uma recuperação de habitats prioritários, como, por exemplo, é o nosso rico patrimônio lagunar. No entanto, existem outros pontos fracos, como a invasão de espécies exóticas, o abandono das terras agrícolas, a exploração excessiva das águas subterrâneas, e o nível de poluição geral, todos elementos de desequilíbrio significativos para o nosso país”, explica o ecologista.
Basset afirma que “a principal prioridade é a difusão da cultura ecológica no nosso país que leve os cidadãos a estarem cientes da interdependência da nossa saúde e do nosso bem-estar com aqueles das outras espécies com as quais compartilhamos o território. O conhecimento científico e as políticas de prevenção mais avançadas são certamente importantes, mas o elemento decisivo é o nosso comportamento e nossa percepção do valor dos ecossistemas”.
Uma visão, esta, compartilhada pelos autores do relatório, segundo os quais a intervenção política é fundamental, mas, dizem, “chegou o momento de re-examinar e mudar os comportamentos individuais, incluindo nossa reprodução (limitar-se a dois filhos por família), e a diminuição drástica do consumo per capita de combustíveis fósseis e de carne“.
É o segundo aviso, e desta vez pede a nossa participação, das nossas comunidades, das nossas famílias. Haverá tempo para uma terceira advertência?
Fontes – Jacopo Pasotti, La Repubblica / tradução Luisa Rabolini, IHU de 14 de novembro de 2017
Este Post tem 0 Comentários