Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Agricultura intensiva está a impulsionar a sexta extinção em massa na Terra
A agricultura e a pecuária intensivas estão a impulsionar a sexta extinção em massa de vida na Terra, argumentou o académico Raj Patel
A agricultura e a pecuária intensivas estão a impulsionar a sexta extinção em massa de vida na Terra, argumentou Raj Patel, académico e autor do best-seller “O Valor do Nada”.
“A pegada da agricultura mundial é enorme. A agricultura industrial é absolutamente responsável por provocar a desflorestação e por impulsionar as monoculturas industriais e isso significa que é responsável pela perda de espécies”, disse o académico.
Em conversa com o The Independent, o escritor apontou vários exemplos da pegada destrutiva da agricultura intensiva. Um deles foi a “zona morta” – uma zona num ambiente aquático onde o nível de oxigénio é demasiado baixo para a maioria dos organismos aquáticos – no Golfo do México, que já atingiu o tamanho do País de Gales, devido às enormes quantidades de fertilizantes que são levadas, pelo rio Mississípi, das explorações agrícolas norte-americanas até ao oceano.
“Essa zona morta não é um acidente. Livrar-se do lixo e poluição noutro lugar é um requisito da agricultura industrial, já que este tipo de agricultura não é viável sem se atirarem os custos para outro lugar qualquer”, defendeu o professor da Universidade de Texas em Austin.
“A história da agricultura intensiva tem tudo a ver com a externalização dos custos e a exploração da natureza.”
A desflorestação na Costa do Marfim para a conversão das florestas em plantações de cacau | 1ª e 2ª foto: Mighty Earth
Em países da América do Sul, como o Brasil, a Bolívia e o Peru, é comum a desflorestação de áreas de floresta, mesmo em plena Amazónia, para a sua conversão em pastagens ou em plantações de soja, que se destinam a produzir alimento para o gado.
“A extinção diz respeito à eliminação da diversidade. O que acontece no Brasil e em outros lugares é que se fica com desertos verdes – monoculturas de soja e nada mais”, explicou Raj Patel. “Se alguma vez forem a uma plantação de soja, [vão notar que] a vida animal é extremamente rara lá. É só soja.”
A agricultura industrializada também é responsável por ameaçar alguns dos animais mais carismáticos do mundo, como os elefantes, os jaguares e os pinguins-africanos. Nas ilhas de Samatra e do Bornéu, as florestas que são casa de espécies criticamente em perigo, como os elefantes e os orangotangos, estão a ser destruídas e convertidas em plantações de palmeiras para a produção de óleo de palma e derivados, como a farinha de palma, que também é usada na alimentação do gado.
Criação de gado na Amazónia | Foto: Daniel Beltra/Greenpeace
Nem o mar escapa. Pequenos peixes, como as anchovas e as sardinhas, estão a ser pescados em grande escala para serem transformados em farinha de peixe, utilizada para alimentar o salmão de viveiro, os porcos e as galinhas. Isto está a colocar em risco os animais que habitualmente se alimentam destes peixes, como os pinguins-africanos.
“Estamos a perder espécies de que nunca ouvimos falar, aquelas às quais ainda nem demos nomes e a agricultura intensiva é claramente uma das responsáveis.”
Pinguins-africanos
Quando questionado sobre a forma como os consumidores podem evitar contribuir para estes problemas, Raj Patel defendeu que devemos olhar para além do nosso papel como consumidores e pensar como cidadãos responsáveis.
“‘Como consumidores’ podemos comprar algo que é de produção local e sustentável, rotulado como biológico ou de comércio justo”, respondeu. “Mas ‘como consumidores’ não conseguimos fazer muito. Como cidadãos, como pessoas decentes, podemos exigir mais do nosso governo, dos nossos empregadores, de nós próprios. Podemos estar mais conscientes do nosso poder como parte de uma sociedade onde podemos mudar as coisas. Temos este poder de mudar as coisas no futuro. O que precisamos de fazer é efetuar essa mudança.”
O professor defendeu ainda a necessidade de se começar a partilhar e proteger os recursos e de se aprender a viver com menos coisas, afirmando que as atuais ambições das pessoas se baseiam em “imagens de consumo totalmente insustentáveis”.
“Reimaginar-se um mundo com menos coisas mas com mais alegria é provavelmente o caminho a seguir”, disse. “Existem razões fortes para se dizer que há espaço para (…) menos consumo individual e isolamento e mais partilha, sentarmo-nos juntos a uma mesa, em vez de nos sentarmos sozinhos em frente à TV.”
Fonte – The UniPlanet de 18 de novembro de 2017
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