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Desmatamento do cerrado é economicamente irracional

Estudo mostra que milhões de hectares da soja plantada no cerrado estão em áreas de alto ou médio risco produtivoEstudo mostra soja plantada no cerrado em áreas de alto ou médio risco produtivo. Divulgação

Levantamento divulgado nesta terça (5) pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) indica que boa parte do desmatamento no cerrado para a prática da agricultura é economicamente irracional.

Segundo o estudo do pesquisador Tiago Reis, 5,6 milhões de hectares da soja plantada no cerradoestão em áreas de alto ou médio risco produtivo, inadequadas para a agricultura por causa do clima e do solo. Essas áreas, que apresentam produtividade muito baixa, representam 27% de toda a área de soja no cerrado.

“Estamos cansados de saber que o desmatamento é irracional do ponto de vista social, e o levantamento mostra que ele também é irracional do ponto de vista econômico; essas são áreas para onde a agricultura não deveria se expandir”, diz Reis.

Os produtores não só estão plantando em áreas de baixa produtividade, onde o padrão de chuvas é irregular e o solo não é bom, como eles estão deixando de produzir em regiões mais adequadas para a agricultura, que já foram abertas para a pecuária e não “precisariam” ser desmatadas.

De acordo com o estudo do Ipam, apresentado durante o Seminário Nacional do Cerrado, 33 milhões de hectares de pastagens no cerrado estão em área de baixo risco produtivo (muito adequadas para agricultura). Isso corresponde a 58% de todas as pastagens plantadas do cerrado e equivale a quase 80% de toda a área de grãos no Brasil.

“É um desperdício, essas áreas poderiam ser utilizadas para a soja”, diz Reis. “E a pecuária poderia ser conduzida em áreas de baixa ou média produtividade agrícola, por exemplo, ou de forma mais intensiva.”

Ele aponta que o lucro operacional da soja em áreas já abertas é de R$ 423 por hectare, diante de R$ 100 por hectare da pecuária. Já o lucro operacional obtido em áreas onde a vegetação original é desmatada para se plantar soja no cerrado é muito menor: R$ 87 por hectare.

Segundo estimativas dos especialistas, mais de 50% da vegetação original do bioma já foi destruída –e o desmatamento vem acelerando nos últimos anos. No biênio 2014-2015, o desmate anual do cerrado foi de 10 mil quilômetros quadrados (equivalente a cinco municípios de São Paulo), mais de 50% superior à taxa de desmatamento da Amazônia.

Na região do Matopiba (que compreende os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), há 7,7 milhões de hectares de pastagens em áreas de alta probabilidade de lucro para plantação de soja, aponta o estudo.

“Existe uma área enorme de pastagem no cerrado que poderia atender à demanda de produção agrícola até 2050 sem gerar desmatamento”, diz Arnaldo Carneiro, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

Hoje em dia, segundo Carneiro, 70% da expansão agrícola no cerrado já se dá em áreas de pastagens. Ele aponta para a necessidade de construir infraestrutura –armazéns e estradas– nessas regiões de pastagens, e não na proximidade de regiões de vegetação nativa, uma vez que a infraestrutura é um dos vetores da expansão agrícola.

Bernardo Pires, gerente de sustentabilidade da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), aponta, no entanto, para a dificuldade de convencer os produtores a abrir mão de desmatar ou produzir em áreas já abertas sem oferecer incentivos econômicos para isso, e a complexidade de lidar com as cerca de 3 milhões de fazendas no cerrado.

Agropecuária no cerrado – Plantações e pasto disputam espaço

5,6 mi de hectares
de plantações estão em áreas de risco elevado (inadequadas para a agricultura), somando 27% de toda área produtiva do cerrado

33 mi de hectares
de pastagens plantadas no cerrado estão em áreas adequadas para agricultura (baixo risco)

7,7 mi de hectares
de pastagens no Matopiba (MA, TO, PI e BA) estão em área de elevada probabilidade de lucro para soja

51,9%
de toda soja plantada no Brasil está no cerrado

Fonte: Ipam, Mapbiomas

Fonte – Patrícia Campos Mello, Folha de S. Paulo de 06 de dezembro de 2017

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