Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Adoçantes podem engordar: estudo
Se adoçantes fazem as pessoas ganharem peso ou não é uma questão acaloradamente debatida pelos cientistas há décadas.
Diferentes estudos produziram resultados com correlações bizarras entre uma tendência à obesidade e consumo de adoçantes artificiais de baixa caloria.
Agora, uma nova pesquisa pode ter descoberto um dos mecanismos biológicos por trás desse fenômeno, que parece à primeira vista contra-intuitivo.
A correlação
Desde a introdução de adoçantes modernos em nossas dietas, na década de 1980, vários estudos em grande escala têm mostrado correlações positivas entre seu uso e o ganho de peso.
Embora estes estudos não impliquem causa e efeito, ou seja, não possam dizer que foram os adoçantes que levaram ao ganho de peso, muitos pesquisadores tentaram encontrar maneiras de explicar a bizarrice. Afinal, por que o consumo de alimentos com baixas calorias faria alguém na verdade engordar?
A maioria das explicações acabaram sendo comportamentais. Por exemplo, foi sugerido que as pessoas que consumiam adoçantes artificiais compensavam seu consumo de calorias em outro lugar. Ou ainda que os adoçantes artificiais confundiam os processos metabólicos regulares do corpo. Por serem doces, mas não conterem calorias, mexiam com os sinais do organismo, fazendo as pessoas sentirem mais fome e comerem mais.
Em última análise, dependia do indivíduo não moderar a sua ingestão alimentar global. Mas será que é isso que está acontecendo, mesmo?
O novo estudo
Uma equipe da Universidade George Washington (EUA) encontrou uma possível razão biológica para a correlação.
A pesquisa concentrou-se no adoçante artificial sucralose (usado em marcas famosas como Splenda e Zerocal), testando seus efeitos diretamente em células-tronco extraídas de tecido adiposo humano.
Quando as células foram expostas a uma concentração de sucralose equivalente à de alguém bebendo quatro latas de refrigerante zero calorias por dia, por exemplo, observou-se um aumento de acumulação de gotículas de gordura nas células, assim como uma expressão mais elevada de genes que são marcadores de inflamação e produção de gordura.
Em uma próxima experiência, os pesquisadores compararam amostras de gordura abdominal de indivíduos que consumiram adoçantes de baixa caloria com a de indivíduos que não o consumiram. Na biópsia daqueles que consumiram adoçantes, eles viram evidências de aumento do transporte de glicose nas células.
A equipe também observou uma expressão 2,5 vezes maior de receptores de sabor doce no tecido adiposo dos indivíduos que consumiam os adoçantes. A suspeita é de que a expressão mais elevada destes receptores nas células de gordura permite o aumento do transporte de glucose para as células.
Fim dos adoçantes?
A conclusão é de que esta desregulação metabólica provocada pelo adoçante ativa mecanismos celulares para produzir mais gordura.
Os cientistas viram efeitos mais aparentes em indivíduos obesos, em comparação com indivíduos de peso normal. Logo, a correlação de ganho de peso é mais forte em pessoas que já possuem problema com isso.
A pesquisa ainda está em seus estágios iniciais e precisa ser confirmada em uma escala mais ampla, porém, nos deixa mais perto de compreender por que muitos estudos apontam que adoçantes artificiais não contribuem para a perda de peso.
Fontes – NewAtlas / Natasha Romanzoti, Hypescience de 05 de abril de 2018
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