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Dia Mundial dos Oceanos: consciência é saída para evitar catástrofe

Beleza de recife no litoral de Honduras disputa espaço com as grandes quantidades de plástico: globalização da poluição (Foto: Luciano Candisani)Beleza de recife no litoral de Honduras disputa espaço com as grandes quantidades de plástico: globalização da poluição (Foto: Luciano Candisani)

De acordo com a ONU, se não houver mudanças no descarte de lixo, em 2050 planeta terá mais plástico do que peixes nas águas

Eles cobrem cerca de 70% da superfície da Terra e são um importante elo que permite o equilíbrio da vida em nosso planeta. Mesmo assim, têm suportado toneladas diárias de lixo em forma de desrespeito, falta de educação e consciência sobre o futuro. Tudo em nome de um progresso que busca a praticidade e o conforto. No Dia Mundial dos Oceanos, o site do Terra da Gente abre espaço para o fotógrafo brasileiro Luciano Candisani, que há duas décadas percorre o mundo registrando os incríveis pontos de resistência da natureza e os cada vez mais comuns problemas com a poluição das águas.

“Nosso mundo está sendo inundado por resíduos plásticos prejudiciais. As partículas de microplástico hoje presentes no oceano superam as estrelas de nossa galáxia”, António Guterres, secretário-geral da ONU

“Sou testemunha ocular de que não temos muito o que comemorar. Atualmente, não há lugar no mundo que não tenha problemas com o plástico, por exemplo”, afirma o fotógrafo. “Por outro lado, podemos enaltecer a resiliência dos oceanos que, mesmo com as graves consequências dos nossos atos, ainda apresentam lugares de grande riqueza natural que mantêm o seu cenário original. Gosto de registrar esses locais para mostrar que ainda podemos ter esperança em mudar essa história”, diz.

População de baleias jubartes que buscam a costa brasileira para a reprodução aumenta a cada ano: refúgio precisa ser protegido (Foto: Luciano Candisani)População de baleias jubartes que buscam a costa brasileira para a reprodução aumenta a cada ano: refúgio precisa ser protegido (Foto: Luciano Candisani)

O plástico é o principal vilão dos mares que banham os continentes e representam 97,5% do total de água existente no planeta, abrigando 29% da biodiversidade conhecida até o momento. Levantamentos da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que, por ano, são consumidas até 5 trilhões de sacolas plásticas em todo o mundo. Também anualmente, 8 milhões de toneladas de garrafas plásticas vão parar nos oceanos, prejudicando 600 espécies marinhas, das quais 15% estão ameaçadas de extinção. Para se ter uma ideia do problema, a cada minuto, são compradas 1 milhão de garrafas plásticas.

Mas o drama vai além da água, outro triste dado é que 90% das aves marinhas já ingeriram plástico pelo menos uma vez na vida, de acordo com o mesmo estudo internacional. O secretário-geral da ONU, António Guterres, é ainda mais enfático: “Se as tendências atuais continuarem, em 2050 nossos oceanos terão mais plástico do que peixes”.

“Cada clique é uma manifestação do meu encantamento por esses pontos nos oceanos que ainda possuem uma riqueza natural. Mas, como fotógrafo, vivo um questionamento: trabalho para falar de conservação, mas o meu próprio deslocamento pelo planeta gera impacto”, Luciano Candisani, fotógrafo de natureza

Barbeador no ninho

O fotógrafo Candisani viu de perto os efeitos maléficos da indústria do consumo. Até mesmo na Ilha da Trindade, localizada no Oceano Atlântico, a cerca de 1,2 mil quilômetros da costa brasileira, o lugar habitado mais remoto do País, ele encontrou resíduos de plástico na água. “A quantidade de lixo plástico vista ali, naquele lugar tão distante de tudo, foi impressionante. Ao ler os rótulos das embalagens foi possível perceber que aquilo vinha de várias partes do mundo. As pessoas descartam em qualquer ponto e não têm noção do quão distante o oceano pode carregar aquilo”, lamenta o brasileiro.

Vida silvestre no arquipélago dos Alcatrazes, no Litoral Norte de São Paulo: paraísos ameaçados  (Foto: Luciano Candisani)Vida silvestre no arquipélago dos Alcatrazes, no Litoral Norte de São Paulo: paraísos ameaçados (Foto: Luciano Candisani)

Outra experiência ruim foi na Reserva Biológica Atol das Rocas, também no Atlântico – localizada a pouco mais de 260 quilômetros de Natal (RN). O fotógrafo estava registrando andorinhas do mar quando percebeu algo de estranho nos ninhos desses pássaros. Eram objetos plásticos que haviam sido recolhidos para compor o lugar que receberia os ovos. Tubos de canetas esferográficas, canudos e até barbeadores descartáveis foram vistos ali.

“Não tem um lugar que eu tenha visitado, por mais remoto que seja, que não tenha os reflexos do nosso modo de vida. O primeiro passo para uma mudança é ver que todas as nossas atitudes têm impacto porque estamos inseridos nesse sistema de consumo constante. Precisamos estabelecer outra relação com a prosperidade. Muitos dos nossos confortos são insustentáveis. As pessoas estão muito dependentes de uma forma artificial de sobrevivência”, reforça o fotógrafo, levantando uma importante discussão.

“(A poluição nos mares) É o resultado do nosso modo de vida, são os efeitos colaterais. Todos fazemos parte do mesmo ecossistema e precisamos perceber que tudo o que é descartado vai para algum lugar. O que jogamos fora acaba indo para o estômago de muitas espécies”, Luciano Candisani.

Numa viagem a Honduras, Candisani registrava uma comunidade de pescadores que tiravam o seu sustento com muito respeito ao meio ambiente. Durante as fotos, porém, uma surpresa desagradável: uma onda de lixo espalhou pedaços de plástico pela praia. “Por mais que existam ações locais responsáveis (como a dos pescadores hondurenhos), de nada adianta se não mudarmos a mentalidade globalmente. Precisamos mostrar para as pessoas que uma reação precisa envolver a todos”, acredita o brasileiro.

Palestras

Na tentativa de dar a sua contribuição para essa mudança, o fotógrafo costuma apresentar palestras em escolas. Ali, ele repassa o seu encantamento pela natureza para os jovens estudantes e, ao mesmo tempo, planta sementes de boas práticas. Orientar as futuras gerações a respeitarem os oceanos pode ser a solução para minimizar os impactos que hoje ameaçam toda a vida dentro e fora deles. Candisiani tem dado a sua gotinha de esforço para oceanos mais limpos. Cabe, agora, a cada um de nós aumentar essa onda.

Fonte – Fábio Gallacci, Terra da Gente

Boletim do Instituto IDEAIS de 08 de junho de 2018

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