Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Corra, criança, corra!!
Foto: Pricilla du Preez/Unsplash
Olá, muito prazer, somos seres humanos! Cientificamente autodenominados de homo sapiens. E, se estamos aqui, hoje, devemos muito a uma característica que desenvolvemos durante nosso processo de coevoluçãocom todos os demais seres que habitam nosso planeta: a habilidade de ficar de pé, liberando as mãos.
Somos os únicos primatas capazes de passar a maior parte da vida na postura bípede, caminhando e… correndo! Talvez tenhamos aprendido a correr até antes de consolidar o andar bípede, para apanhar ou fugir de outros animais. Pelo que sentimos, hoje, quando corremos, podemos imaginar que os primeiros homo sapiens podiam correr também por prazer, como uma forma de celebrar essa conquista tão incrível de se deslocar sobre duas pernas.
Sob uma perspectiva antropológica, corremos muito para chegar onde estamos. Correndo rapidamente e percorrendo longos trajetos conseguimos caçar e também desbravar novas terras. Conseguimos alimentos, expandimos nossa percepção de espaço, conhecemos outros seres humanos, vivos e não vivos que existiam no nosso entorno.
Nos dias atuais a corrida de rua é muito difundida. Todos os finais de semana, pessoas percorrem trajetos de diferentes distâncias em provas por todo o país. Há pessoas que correm 2 km e também quem corra 80km. E quando você conversa com elas, sempre há o relato da sensação de felicidade que a corrida gera. Sim, porque movimentar o corpo e fazer exercícios físicos libera e aumenta a produção de hormônios em nosso corpo que estão diretamente relacionados com as sensações de bem estar e de felicidade.
Se correr faz parte da nossa história, esta ação está impregnada em nossa genética. Precisamos correr. Mas para correr, do que precisamos? Antes de alcançar o estágio da corrida, desde pequenos precisamos desenvolver a marcha e o equilíbrio. E para isso, é imprescindível ter espaço para correr.
Um dia, uma professora que foi com as crianças de 1 a 2 anos ao parque da cidade nos contou: “eles corriam tanto, de braços abertos! Era uma sensação de liberdade!”, disse.
Ao ouvi-la, nos questionamos: será que esses braços abertos eram reflexo da sensação de liberdade, mesmo? Eles podem ter sido reflexo da experimentação de uma nova velocidade alcançada e servirem como apoio para o equilíbrio do corpo, especialmente num espaço aberto, numa superfície irregular como um gramado de um parque.
Outra questão que surgiu: neste parque eles estão num espaço novo, ao ar livre e muito maior que o parque da escola. Elas podem correr como nunca correram. Qual distância você consegue correr? Qual velocidade você consegue alcançar? Como você se sente quando pra de correr? São tantas sensações e tantas descobertas envolvidas!
Esta reflexão que tivemos junto com esta professora nos fez pensar nos espaços da infância atuais: cada vez menores, cada vez mais cheios de mobílias, cada vez mais cheios de crianças. Elas precisam destes espaços amplos para experimentar correr. Precisam do espaço para desfrutar dessa conquista que levamos milhões de anos para alcançar e que está totalmente impregnada em nossas células.
Então… que as crianças tenham mais espaços, mais distâncias e convites pra correr! Que seja permitido correr em qualquer lugar! Corra, criança, corra!
Fonte – Ana Carolina Thomé e Rita Mendonça, Conexão Planeta de 06 de julho de 2018
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