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Justiça brasileira suspende registro de três tipos de agrotóxicos, entre eles, o glifosato

Foto: domínio público/pixabay

Depois da condenação histórica da Monsanto, gigante multinacional fabricante de pesticidas, transgênicos e sementes, nos Estados Unidos, vários países decidiram rever a comercialização de agrotóxicos que têm efeitos nocivos à saúde humana já comprovados pela ciência.

A Monsanto terá de pagar uma indenização de US$289 milhões ao jardineiro californiano DeWayne Johnson, de 46 anos, diagnosticado com um câncer terminal, em consequência da exposição constante ao herbicida, a base de glifosato, Roundupque ele aplicava nos jardins das escolas onde trabalhava.

Aqui no Brasil, na semana passada, uma decisão da 7ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal suspendeu o registro dos agrotóxicos abamectina, glifosato e tiram no país.

“Está mais que suficientemente demonstrada a toxidade dos produtos para a saúde humana, não restando dúvidas à necessidade da proibição”, afirmou a juíza federal substituta Luciana Raquel Tolentino de Moura, que proferiu a ordem, embasada em diversos estudos científicos.

Segundo a determinação, “os produtos já licenciados devem ser retirados do mercado em até 30 dias; novas licenças estão suspensas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem prazo até o final do ano para concluir reavaliação toxicológica”.

A decisão de Luciana Moura atendeu uma ação do Ministério Público Federal (MPF), de 2014, contra a União e a Anvisa, pedindo uma reavaliação toxicológica de diversos ingredientes de agrotóxicos por um prazo de 180 dias, além da suspensão de registros atuais e da concessão de novos até que esse trabalho tivesse sido feito.

A lentidão de um parecer se deve ainda à tentativa das empresas Monsanto, Nortox, FMC, além da Aprosoja Brasil e do Sindicato da Indústria de Defensivos Agrícolas, em barrarem a iniciativa.

Glifosato: o veneno no olho do furacão

O herbicida a base de glifosato é o mais utilizado no mundo todo. Registrado em 130 países, tem seu uso aprovado para mais de 100 cultivos diferentes. No Brasil, a quantidade considerada aceitável na lavoura é 5 mil vezes maior do que na Europa, conforme relatamos aqui, nesta outra reportagem sobre agrotóxicos no país.

Em um relatório publicado em 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou que o glifosato pode causar câncer em animais tratados em laboratório e que é um potencial causador de alterações na estrutura do DNA e cromossomos das células humanas.

A condenação da Monsanto gerou um movimento mundial de alerta sobre o agrotóxico. Na Inglaterra, as principais lojas que comercializam o produto RoundUp anunciaram que irão rever a venda do herbicida.

Na França, o ministro do meio ambiente Nicolas Hulot afirmou, no último domingo (12/08), que o país entrará em uma “guerra contra os agrotóxicos”. No ano passado, entretanto, o governo tentou proibir o uso do glifosato, mas sua proposta foi derrotada, já que fazendeiros franceses dizem não haver outro herbicida alternativo para ser usado na lavoura.

No Sri Lanka, a importação do glifosato foi proibida em outubro de 2015, depois de forte pressão sofrida graças a uma campanha contra o produto iniciada por um monge budista. Todavia, em julho último, o governo cedeu ao lobby de organizações do setor agropecuário e revogou a decisão, mas apenas para os cultivos de chá e borracha.

#PL do Veneno

Enquanto isso, na mesma Brasília onde a justiça suspendeu o registro de alguns agrotóxicos, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 6299/2002, chamado de PL do Veneno, que como principal objetivo afrouxar o registro dessas substâncias químicas no país, incluindo aquelas com potencial ou comprovadamente cancerígenos e que causem mutações genéticas, malformações fetais, problemas reprodutivos e hormonais.

Atualmente a liberação desses produtos no Brasil depende de autorização de órgãos do Ministério da Agricultura, Saúde e Meio Ambiente, processo este que pode levar até cinco anos. O PL do Veneno faria com que o prazo fosse diminuído para 12 meses, caso nenhuma autoridade tenha se mostrado contrária a ele neste período.

Vale lembrar que o projeto de lei foi apresentado pelo ex-senador e atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, coincidentemente um dos maiores produtores de soja do Brasil.

Ou seja, seu autor e seu relator são dois empresários ruralistas, extremamente interessados em sua aprovação, que caso aconteça, fará com que seus negócios faturem muito mais milhões por ano.

Infelizmente, nem toda a mobilização realizada pelo meio acadêmico e pela sociedade civil contra o PL do Veneno conseguiu impedir que o texto do projeto fosse aprovado na Comissão Especial da Câmara, e agora, será votado pelo plenário (leia mais aqui).

Mais de 1,6 milhão de brasileiros já assinaram a petição online #ChegaDeAgrotóxicos para defender a aprovação de outro projeto de lei, mas este do bem ! O PL 6670/2016 quer instituir a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA). A proposta tem como meta reduzir gradativamente o uso de agrotóxicos no Brasil, desenvolver alternativas biológicas e naturais de defensivos agrícolas e controlar esses produtos.

Se você ainda não aderiu à esta causa, participe! Assine já a petição neste link.

Fonte – Com informações do Amigos da Terra Brasil e do site Phys.Org / Suzana Camargo, Conexão Planeta de 15 de agosto de 2018

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