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Pesquisa revela quais lugares verão guerras pós-apocalípticas por água

Imagem: Aleksandr Zykov (Flickr)

Um relatório das Nações Unidas publicado na semana passada diz que nós temos cerca de uma década para controlar as mudanças climáticas, o que, sejamos honestos, não parece que vai acontecer. Então, arrume suas máscaras e armas, um futuro de Mad Max nos aguarda! Agora, como uma nova pesquisa aponta, nós sabemos até mesmo em que lugares da Terra as inevitáveis guerras pela água vão acontecer.

Deixando de lado o sarcasmo, o documento é bem sério, de verdade.

Publicado hoje no Global Environmental Change, o artigo identifica vários pontos por todo o globo onde “questões hidropolíticas”, nas palavras dos pesquisadores, provavelmente farão tensões geopolíticas emergirem, possivelmente chegando a conflitos.

Os autores do novo relatório, uma equipe do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia (CCI), dizem que os efeitos cada vez maiores das mudanças climáticas, em conjunto com tendências em curso de crescimento populacional, podem disparar instabilidades regionais e inquietações sociais em regiões onde a água potável é escassa e onde nações que fazem fronteira precisam gerir e compartilhar esse recurso.

Obviamente, causas de tensões geopolíticas e conflitos são complexas, mas o novo relatório deixa claro que não devemos subestimar o papel que a água terá no futuro. A competição por recursos aquáticos cada vez menores, dizem os autores, vai exacerbar tensões em uma escala global nas próximas décadas, com certas regiões mais vulneráveis que outras. Mas como os vários fatores que influenciam a demanda por água e sua disponibilidade podem afetar as populações por todo o mundo?

O novo estudo, liderado pelo cientista Fabio Farinosi, do CCI, foi uma tentativa de responder a essa questão crítica e também de criar um modelo que pudesse prever onde e quando as guerras por água podem surgir.

Além de delinear as áreas geográficas e países que têm mais probabilidade de passar por questões hidrossociais, os cientistas do CCI também esperam provocar conversas entre todas as partes envolvidas para evitar conflitos por água antes que eles comecem.

Os Estados Unidos não estão imunes a conflitos relacionados à água. O uso excessivo do rio Colorado foi um dos cinco pontos críticos identificados no novo estudo. Imagem: União Europeia.

A equipe de Farinosi usou uma abordagem com aprendizagem de máquina para investigar os vários fatores que tradicionalmente causam tensões relacionadas à água. Um algoritmo estudou os episódios anteriores de conflitos por recursos aquáticos, e eles não são poucos — dê uma olhada nesse impressionante banco de dados de conflitos relativos à água para ter uma noção de quão comuns são as guerras por recursos hídricos na nossa história.

O algoritmo considera acesso à água doce, estresse climático (dois cenários de emissão de gases do efeito estufa são considerados, um moderado e um extremo), tendências demográficas, pressão humana sobre o fornecimento de água e condições socioeconômicas, entre outros.

Olhando para os resultados, os pesquisadores descobriram que conflitos são mais prováveis de acontecer em áreas onde água “transfronteiriça” está presente, como um lago, uma bacia ou um rio compartilhados, ou quando a água doce é escassa, a densidade demográfica é alta, desequilíbrios de poder estão presentes e o estresse climático existe. Várias áreas potencialmente problemáticas foram identificadas, incluindo cinco pontos: os rios Nilo, Ganges-Bramaputra, Indo, Tigre-Eufrates e Colorado.

Mapa mostrando onde as interações relacionadas à água — boas e ruins — provavelmente acontecerão nos próximos 50 a 100 anos, dadas as tendências atuais da mudança climática e do crescimento populacional. Imagem: União Europeia

Para isso, os pesquisadores do CCI também criaram um índice e um modelo para ajudar a identificar regiões com riscos de escalada de conflitos hidropolíticos. E eles estão trabalhando em uma análise mais aprofundada das bacias hídricas da África em colaboração com instituições locais.

O estudo revela algumas coisas assustadoras sobre nosso futuro, mas há algumas limitações cruciais. Os resultados foram gerados por computador e se baseiam em episódios históricos de conflitos por água. É uma análise normativa que não leva em conta desenvolvimentos futuros, como mudanças geopolíticas que poderiam exacerbar ou aliviar as tendências destacadas no estudo. A análise depende de dois cenários climáticos, mas o futuro pode mudar se começarmos a reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

De qualquer forma, o futuro parece árido. Se esses modelos estiverem corretos e falharmos em resolver as questões antes que elas cresçam, corremos o risco de estratificar ainda mais a população humana. Há muitas questões que nos dividem hoje, e as mudanças climáticas prometem deixar isso ainda pior.

Fontes – Global Environmental Change /  George Dvorsky, Gizmodo Brasil de 18 de outubro de 2018

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