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Relatório da ONU liga mudanças climáticas ao aumento da fome

(Daniel Berehulak/Getty Images)

Aumento da temperatura e falta d’água atingem diretamente a produção de alimentos

O índice de fome ao redor do planeta cresceu pelo terceiro ano consecutivo, de acordo com o relatório anual de segurança alimentar da ONU. O número total de pessoas que enfrentam privação crônica de alimentos aumentou em 15 milhões desde 2016. Cerca de 821 milhões de pessoas agora enfrentam insegurança alimentar, levando os números para o mesmo nível de quase uma década atrás.

De 2005 a 2014, os níveis de desnutrição se mantiveram em queda, porém com uma taxa de declínio cada vez menor, até parar completamente e se inverter, há três anos. Na visão dos estudiosos, um dos fatores responsáveis pela inversão são as mudanças climáticas.

Nos últimos 50 anos, a temperatura média global vem aumentando rapidamente, com recordes registrados em 2014, 2015 e 2016. Outros fenômenos climáticos que acontecem com mais frequência e intensidade são as secas e tempestades. Como resultado, algumas regiões estão se tornando mais úmidas, enquanto outras enfrentam longos períodos de estiagem.

Relação direta entre clima e produção de alimentos

A agricultura é uma das indústrias que mais sofrem com essas alterações. Cultivos de alimentos e criação de gado são muito sensíveis a mudanças de temperatura, precipitações, geadas e ondas de calor. Produzir comida suficiente para o mundo todo depende muito do clima. Isso significa que será impossível reduzir a fome sem se preparar para a adaptação às mudanças climáticas.

Outro efeito dramático que atinge diretamente a produção de alimentos é a falta d’água. Apenas o consumo de carne responde por 22% do uso da água no mundo todo, e esse nível aumentará em um planeta mais quente. A alteração no regime de chuvas também atinge diretamente a produção das fazendas, podendo ser menor que o necessário ou acontecer em momentos diferentes do esperado.

Tecnologia como aliada

Diante dos danos potencialmente irreversíveis das alterações climáticas que já estão em curso, o investimento em tecnologia se torna a saída possível a um iminente cenário de caos, em que se projeta que 100 milhões de pessoas estarão em situação de extrema pobreza em 2030.

O aprimoramento do sistema agrícola inclui sistemas de posicionamento global, sistemas de informações geográficas e sensores para fornecer os dados necessários para mapear os insumos adequados a cada porção de terra do planeta, aumentando a produtividade e o fornecimento de alimento para a população.

Outra aliada é a nanotecnologia, que poderá tornar os sensores de campos menores e mais compactos, além de ajudar a melhorar a forma como fertilizantes e pesticidas são introduzidos no solo. Colocando insumos químicos em pequenas cápsulas ou em géis, é possível controlar quando e como são liberados para torná-los mais eficazes e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões químicas e o escoamento.

Uma resposta eficaz à mudança climática também será fundamental para avançar em uma série de outros desafios de segurança alimentar, como reduzir a perda de alimentos, melhorar a nutrição e promover sistemas de produção sustentáveis. Os países produtores de alimentos precisarão de políticas criativas e novas tecnologias para enfrentar esses desafios com sucesso.

Fonte – Ariane Alves, Exame de 23 de outubro de 2018

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