Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Populações de animais caíram 60% em 44 anos
Mico-leão-dourado: espécie está na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza Foto: Ana Branco / Agência O Globo/24-3-2017
Alto índice de devastação da Amazônia pode fazer ecossistema chegar a ponto de ‘não retorno’, entrando em colapso
Alerta vermelho para o planeta: um novo relatório do WWF estima que as populações de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram cerca de 60% entre 1970 e 2014. Nas regiões tropicais, como a América do Sul, a redução foi de 89%.
Coordenadora do núcleo de Ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano atribui a devastação da fauna à sua superexploração e à perda de habitats, motivada principalmente pela agricultura.
— Temos 3.286 espécies no país, sendo que 785 estão criticamente em perigo, que é o pior estágio, e a maioria na Mata Atlântica, nosso bioma mais desmatado — ressalta. — Infelizmente, o governo federal não investe em modelos de desenvolvimento econômico que valorizam a floresta em pé, como explorar seu potencial para a indústria química e cosmética, ou então incentivar o ecoturismo.
A importância da natureza foi medida em cifras: estima-se que serviços como o fornecimento de ar fresco, água potável, alimentos e energia rendam cerca de US$ 125 trilhões por ano. Sua destruição, portanto, pode provocar também um dano financeiro inestimável.
Segundo o Relatório Planeta Vivo, lançado hoje em cem países, a Amazônia já perdeu 20% de sua área. Se o desmatamento ultrapassar a marca de 25%, o ecossistema chegará a um “ponto de não retorno” e pode entrar em colapso, deixando de ser uma floresta.
A análise adverte que os seres humanos já empurraram quatro fronteiras necessárias para assegurar uma “operação” normal do planeta, como o ataque à biosfera e as mudanças climáticas. Daí partem índices perigosos, como o fato de que, segundo as estatísticas, 90% das aves marinhas têm fragmentos de plástico no estômago — em 1960, eram apenas 5%. E, também, a perda de metade dos corais de águas rasas em apenas 30 anos.
‘Nem tudo está perdido’
Diretor de Ciências da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), que forneceu um dos indicadores usados no relatório, Ken Norris reconhece que as estatísticas são “assustadoras”, mas diz que nem tudo está perdido:
— Temos a oportunidade de projetar um novo caminho que nos permita coexistir de forma sustentável com a natureza da qual dependemos.
Os autores do relatório propõem a criação de um “conjunto de ações coletivas, juntamente com um roteiro para metas, indicadores e métricas para reverter a perda da natureza”, que incluiria cenários para mudanças no uso da terra, na dieta e no trato a unidades de conservação.
A escolha da data para o lançamento do relatório foi estratégica. No início deste mês, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas divulgou uma lista de medidas que devem ser cumpridas para limitar o aquecimento do planeta em 1,5 grau Celsius em relação ao período pré-industrial. E daqui a algumas semanas serão realizadas a Conferência do Clima, na Polônia, e a Convenção de Diversidade Biológica, no Egito.
— Este é mais um passo para uma série de acordos globais que devem ser assinados em 2020, quando serão revistos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio — afirma Mariana Napolitano, acrescentando que o momento político brasileiro influenciará a performance do país nas negociações e o modo como é visto pela comunidade internacional. — O presidente eleito Jair Bolsonaro deve reconhecer e manter as boas conquistas da área ambiental. Temos um dos maiores recursos de água doce e de biodiversidade. O que ocorre aqui, o modo como lidamos com as metas climáticas, repercute em todo o mundo.
O WWF-Brasil destaca que o país tem um papel decisivo na degradação ambiental, com mais de 60% de seu território coberto por vegetação natural, e também uma posição extremamente importante na produção de alimentos para o mundo. Estudos mostram que essa atividade pode crescer sem apelar para o desmatamento.
Fonte – Renato Grandelle, O Globo de 30 de outubro de 2018
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