Por Pedro A. Duarte - Agência FAPESP - 12 de novembro de 2024 - Publicado…
A técnica inovadora capaz de transformar areia do deserto em terra fértil
Faisal Mohammed Al Shimmari tem uma fazenda em uma das regiões mais inóspitas do mundo para agricultura: Al Ain, um oasis no deserto dos Emirados Árabes Unidos, onde as temperaturas podem alcançar os 50º C.
“É caro porque temos que comprar água para irrigar as plantas”, diz ele.
Os agricultores precisam contratar navios tanque para levar água para as fazendas, que precisa de três vezes mais irrigação do que uma área de cultivo em clima temperado.
Como a agricultura no deserto é pouco prática, os Emirados Arábes acabam importando 80% dos alimentos consumidos no país.
Uma pesquisa do cientista norueguês Kristian Morten Olesen, no entanto, pode revolucionar a agricultura na região – e, potencialmente, no mundo.
Olesen fez um acortdo com Shimmari para testar em sua fazenda nos Emirados Árabes uma nova técnica para acondicionar o solo do deserto, mesclando nanopartículas de argila com água e partículas de areia.
Argila Líquida
A tecnologia, chamada “Liquid Nanoclay” (nanoargila líquida), está sendo desenvolvida desde 2005.
Faisal Al Shimmari espera que a tecnologia o permita ampliar a área verde que cultiva
“O tratamento recobre as partículas de areia com argila e muda completamente suas propriedades físicas, permitindo que a areia retenha a água”, diz Olesen.
É um processo, que segundo o cientista, não necessita do uso de nenhum agente químico. “Podemos transformar os solos arenosos de baixa qualidade em terras agrícolas de alto rendimento em sete horas.”
“Simplesmente misturamos argila natural na água que colocamos sobre a areia e criamos uma capa de meio metro no solo que converte a areia em terra fértil”, explica Ole Morten Olesen, filho de Kristian e diretor de operações da empresa Desert Control, fundada por seu pai para vender a tecnologia.
As partículas de areia normalmente têm uma baixa capacidade de retenção de água, mas com a Liquid Nanoclay, as partículas se unem e podem reter água por mais tempo, aumentando o rendimento.
Na fazenda de Shimmari, a tecnologia foi usada para preparar áreas de cultivo para tomates, berinjelas e quiabo.
“Estou surpreso em ver o sucesso da empreitada”, diz o agricultor. “A técnica reduziu o consumo de água e mais de 50%, o que significa que posso duplicar a área verde com a mesma quantidade de água.”
O solo precisa receber uma pequena manutenção a cada quatro ou cinco anos.
Mudanças Climáticas
A técnica pode vir a ser útil a agricultores de diversas regiões do planeta no futuro por causa do avanço da desertificação e da necessidade de cultivar alimentos em condições cada vez mais hostis.
A cada ano no mundo, uma área equivalente a metade do Estado de São Paulo se converte em deserto como consequência do aumento da seca, do desmatamento e dos métodos intensivos de cultivo.
Cada hectare tratado com a nova tecnologia gera um custo que varia de US$ 1,8 mil a US$ 9,5 mil (R$ 6,3 mil a 33,5 mil) – ou seja, ainda é muito caro para a maioria dos agricultores.
Os pesquisadores da Desert Control dizem que o plano é inicialmente vender o produto para governos regionais e, quando a tecnologia tiver sido desenvolvida o suficiente para se tornar acessível, ampliar o rol de clientes.
“É algo que pode mudar as regras do jogo para agricultores em áreas áridas”, diz Olesen.
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