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Estudante de Química transforma lama de Mariana em produto para indústria têxtil

Sueli de Freitas – UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

Os rejeitos de minério de ferro da barragem de Fundão, em Mariana (MG), que se rompeu em novembro de 2015, foram transformados no laboratório do curso de Química da UFES em um material capaz de tratar efluentes da indústria têxtil contaminados com corantes. O projeto é do estudante da graduação Lucas Lorenzini (na foto, ao lado da professora), que desenvolveu ferritas a partir da lama, orientado pela professora Maria de Fátima Fontes Lelis.

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Lorenzini, que acaba de ter seu trabalho de conclusão de curso aprovado com nota máxima, explica que a lama coletada é tratada, e logo em seguida queimada junto com uma fonte de matéria orgânica, como fibra de coco, pó de café e bagaço de acerola, por exemplo. Nesse processo são produzidos óxidos de ferro, denominados de ferritas.

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Quando jogado em um tanque por onde passam os efluentes da indústria têxtil, o produto promove a adsorção (fixação de moléculas de um fluído em uma superfície sólida) dos corantes utilizados para tingir os tecidos. Numa etapa seguinte, a ferrita, por um processo catalítico, promove a degradação das moléculas orgânicas responsáveis pela forte coloração do efluente, deixando a água limpa e tratada para ser descartada nos rios, lagos ou no mar. “Para cada litro de efluente, gastamos 0,2 gramas de ferrita produzida a partir da lama”, diz o estudante. A ferrita ainda pode ser reutilizada, pois pode ser retirada do tanque com a utilização de imãs.

Segundo a professora Maria de Fátima Lelis, além de significar uma destinação útil ao rejeito da barragem, outra vantagem da produção dessa ferrita é que ela substitui produtos oriundos da natureza, que hoje são os mais usados no setor têxtil para tratar seus efluentes.

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“A indústria pode deixar de usar a argila bentonita, o carvão ativado ou sílicas, a utilização de materiais não renováveis, e produzir em grande escala as ferritas a partir dos rejeitos e aproveitando a biomassa disponível”, afirma. Segundo ela, os testes de bancada realizados até agora apontam para o sucesso total do experimento.

“O material está pronto para ser levado para testes em maior escala. O que fizemos até agora foram testes de bancada, em laboratório. E neste momento estamos avaliando o mecanismo de degradação do composto tóxico, apurando o que fica em solução após a total descoloração do corante”. O que falta agora? “Os engenheiros comprarem a ideia”, afirma.

 Projeto Candonga

A pesquisa foi desenvolvida dentro do Projeto Candonga, que, além da UFES, envolve também a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Esse projeto foi criado para dar soluções para os rejeitos vindos da barragem de Fundão, que foram parcialmente dragados pela Hidrelétrica Risoleta Neves (MG), também conhecida como Candonga.

No Departamento de Química da UFES, estudantes da graduação, mestrado e doutorado, orientados pelos professores Maria de Fátima Lelis e Marcos de Freitas, participam do projeto realizando diversas pesquisas com os rejeitos. Além da produção das ferritas, um outro projeto propôs a produção de madeira sintética a partir da lama.

Outros departamentos da UFES também trabalham em pesquisa na região afetada pelo rompimento da barragem de Fundão. É o caso do professor do Departamento de Oceanografia Ângelo Fraga Bernardino. Ele coordena a rede de pesquisa Solos e Bentos do Rio Doce. O monitoramento da vida no estuário em Regência, no município de Linhares, mostra que o Rio Doce não está morto, mas tem contaminação crônica devido aos metais vindos junto com a lama.

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