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O ribeirão pede socorro

O Diário do Norte do Paraná de 11 de janeiro de 2009

Mau-cheiro e espuma no Bandeirantes do Sul denunciam poluição de ribeirão que passa pela zona oeste de Maringá; município atrasa entrega de Plano Hídrico à Suderhsa

Jari Crevelin, 65 anos, fala com pesar sobre o ribeirão que passa nos fundos da sua propriedade, na zona oeste de Maringá. O ribeirão Bandeirantes do Sul, um dos afluentes do rio Ivaí, aparenta estar poluído pelo despejo de resíduos químicos.

“O ribeirão está morto”, lamenta Crevelin. O Ribeirão Bandeirantes do Sul vai fazer parte do mapeamento de córregos e nascentes de Maringá. O diagnóstico das águas integra o Plano de Gerenciamento dos Recursos Hídricos; documento que todos os municípios paranaenses devem entregar à Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa) este ano.

O prazo para a entrega do plano já foi prorrogado por duas vezes para dar mais tempo aos municípios. Até sexta-feira, apenas 49 prefeituras do Paraná haviam entregue o projeto – o que corresponde a 12% do total de 399 municípios do Estado. Maringá está na lista dos municípios que não entregaram o plano (leia box nesta página).

Crevelin recebeu a reportagem de O Diário na sua vinícola. Na ampla varanda da casa, enquanto selecionava os quiabos que iriam mais tarde para a panela, o agricultor contou sobre os bons tempos do Bandeirantes do Sul.

“A gente podia tomar água direto do ribeirão. Pescávamos os lambaris sem precisar de vara, era tudo no ‘litro'”, relembra. Criado na beira do Bandeirantes, Crevelin mora há 60 anos no mesmo sítio e acompanhou a trajetória do ribeirão.

“Eu conheci todas as qualidades desse rio”, afirma. “Só que, de 30 anos para cá, ele foi perdendo a vida. Hoje, o gado não bebe a água desse córrego.”

A reportagem de O Diário, acompanhada de Crevelin, conferiu de perto a situação do Bandeirantes do Sul. O mau-cheiro que exala do ribeirão, no trecho em que as águas cortam os fundos da vinícola da família, é o primeiro sinal de que as coisas não vão bem.

Já ao lado do córrego, as espumas brancas e a cor da água denunciam a poluição. “Parece que eles jogam produtos químicos no ribeirão”, diz o representante comercial Wilson Bespalhuk que, em novembro passado, percorreu, até Paiçandu, toda a extensão do Bandeirantes do Sul e registrou em fotografias o que viu.
Diante da situação do ribeirão, um abaixo-assinado está sendo organizado para pedir providências urgentes para cessar a poluição no local. O documento e as fotos feitas por Bespalhuk serão entregues ao Ministério Público.

Sinal de alerta

Do outro lado da cidade, são o ribeirão Maringá e o córrego Mandacaru que acionam o sinal de alerta dos ambientalistas. O presidente da organização não-governamental (ONG) FUNVERDE, Cláudio José Jorge, diz que, como não há fiscalização sobre os fundos de vale, o despejo de lixo é corriqueiro. “Lá, encontra-se lixo de tudo quanto é tipo”, diz.

Nos últimos cinco anos, a ONG tem feito a recomposição da vegetação de fundos de vale em Maringá, e Jorge conta que, ao longo desse período, já encontrou restos de tecido e de sofás, garrafas PET e de vidro, sacolas plásticas e até lixo hospitalar às margens do ribeirão Maringá e do córrego Mandacaru. “O rio se transformou em um depósito de lixo a céu aberto.”

Desde 2004, a FUNVERDE planta, anualmente, 10 mil árvores para recompor as margens dos córregos em Maringá. O trabalho da ONG já recuperou os córregos Mandacaru, Diamante Nazaré e Maringá.

Neste ano, a recomposição da vegetação estará concentrada no córrego Borba Gato, que nasce no Horto Florestal.

O projeto tem o apoio do Ministério Público, da Prefeitura de Maringá e de empresas, que se comprometem com a doação das mudas. A Prefeitura é encarregada de fazer as covas para as mudas.

Todos os sábados, de março a novembro, voluntários, estagiários de universidades e integrantes da ONG vão até os fundos de vale para fazer o plantio.

“Já plantamos mais de cem espécies de árvores de, no mínimo, 1,5 metro”, calcula Ana Domingues, instituidora da FUNVERDE. Vinte e cinco por cento das espécies plantadas às margens dos córregos são árvores frutíferas nativas.

As mudas são plantadas em propriedades da Prefeitura e de pessoas de baixo poder aquisitivo. “Hoje, não podemos plantar árvores para todos, mas, em breve, vamos plantar até para os ricos”, conta.

Já são mais de cem sábados plantando árvores para recompor as matas ciliares. Segundo o presidente da FUNVERDE, a falta de colaboração da população e as queimadas se tornaram um empecilho para o projeto. “Quando plantamos as árvores, rezamos para que ninguém coloque fogo no local.”

Plano é ‘obrigação moral’

Dos 13 municípios que compõem a Região Metropolitana de Maringá, apenas três enviaram o Plano de Gerenciamento dos Recursos Hídricos à Suderhsa: Doutor Camargo, Marialva e Sarandi.

A apresentação dos planos municipais tem como objetivo realizar a gestão integrada das águas nas esferas municipal, estadual e federal, além de assegurar às futuras gerações a disponibilidade da água com qualidade adequada para o consumo.

Os planos vão identificar se há necessidade de implantação de programas para recuperação e conservação das águas e mostrar se as prefeituras possuem políticas e diretrizes de proteção dos recursos hídricos.

As informações reunidas nos planos municipais de gestão das águas vão auxiliar na construção do Plano Estadual de Recursos Hídricos, que o governo do Estado prevê entregar até junho deste ano.

A assessoria de comunicação da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema) informou que os municípios que não entregaram o plano – entre os quais se inclui Maringá – e os que entregaram após o prazo, a princípio, não sofrerão sanções.

O Plano Municipal dos Recursos Hídricos fará o diagnóstico e estabelecerá metas e propostas para intervenções nas micro e macrobacias hidrográficas.

O promotor de Defesa do Meio Ambiente, Manoel Ilecir Heckert esclarece que o plano vai mostrar a situação das águas na cidade.

“O levantamento vai apontar qual o tamanho da área preservada, se nascentes e córregos estão em área industrial ou residencial, além de estabelecer metas para preservar as águas”, afirma. “Entregar o plano dentro do prazo é uma obrigação moral do município.”

Heckert diz que a prefeitura que não fizer o plano de gerenciamento pode ter de responder processo. “Os municípios estão brincando com uma coisa muito séria, que é a preservação da vida”, opina.

Apesar de o mapeamento ainda não ter sido entregue pela Prefeitura de Maringá, o promotor faz uma análise positiva – ao contrário do presidente da organização não-governamental (ONG) FUNVERDE, Cláudio José Jorge – sobre as águas que cortam a cidade.

Ele acredita que 70% de rios e nascentes estão preservados. “É uma situação boa, já que, no Paraná, essa preservação não chega a 50%, pelo menos nas áreas desenvolvidas economicamente”, considera.

De onde o promotor tirou que 70% dos rios e nascentes estão preservados? Queremos que ele vá dar uma volta conosco pelos rios da cidade para ele ver a real situação – de abandono – dos rios de Maringá.

Para Heckert, o índice de preservação ambiental de Maringá é o maior dentre as cidades do norte e noroeste do Estado. Segundo ele, esse cenário é fruto da atuação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), da promotoria e da Policia Força Verde, que aplicaram multas a quem poluía as águas, e dos municípios, que incentivaram a recuperação das matas ciliares.

Procurada pela reportagem, a Prefeitura informou que não se manifestaria sobre o assunto.

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