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Pesquisa identifica microplásticos em peixes na maioria das espécies da Praia de Iracema

Escrito por – Diário do Nordeste –

Descarte irregular de lixo e tratamento de esgoto são origens do material tóxico que se acumula no ambiente marinho do Ceará – Legenda: Hábitos humanos estão relacionados com o aumento de microplásticos no mar – Foto: Natinho Rodrigues 

Natália Carla Dantas, ao desenvolver sua pesquisa de doutorado em engenharia de pesca pela Universidade Federal do Ceará (UFC), precisou mudar de tema ao se deparar com a realidade encontrada nas visitas técnicas.

“Na primeira vez que passamos a rede, a gente não conseguiu pegar peixes, mas só lixo.

Principalmente copos plásticos, latinhas de cerveja e refrigerantes, garrafas pets, sacolas plásticas que quase entupiram a rede”, lembra.

No estudo, foram coletados 214 peixes na Praia de Iracema em que 55%, cerca de 118 animais, apresentaram microplásticos, poluentes de tamanho menor do cinco milímetros, no trato digestivo. “Foi um fato chocante porque, quando a gente começou a abrir os estômagos, tinham muitos (microplásticos).

De 10 espécies que a gente abriu, sete tinham microplásticos, a gente chegou a ver estômagos que tinham plásticos pontiagudos e rígidos”, ressalta.

A partir daí, o estudo em parceria com o Instituto de Ciências do Mar (Labomar) e com o Departamento de Física da Universidade, também se propôs a buscar as características dos poluentes. Fibras de coloração azul estavam entre os principais materiais encontrados.

“A origem é basicamente, por ser fibra têxtil, que a fonte mais provável seja resíduos das máquinas de lavar domésticas. Na Praia de Iracema a gente vê várias galerias ao longo do ano inteiro, que vão diretamente para o mar”, explica.

Natália Dantas reflete que os ambientes estão conectados e o comportamento humano possui efeitos ainda desconhecidos sob a natureza.

“É muito desafiador quando a gente encontra uma problemática que ainda precisa de muito estudo. É preciso incentivar esses estudos, para que, a partir daí, a gente possa pensar em políticas públicas direcionadas para a resolução”, conclui a doutora.

“Independente do hábito alimentar das espécies, se ela se alimenta na superfície da água, na coluna ou no fundo, não existe diferença. Todas as espécies estão consumindo microplásticos, seja diretamente quando estão revirando substratos ou indiretamente, quando as presas dos quais eles se alimentam já tenham absorvido esse microplástico”

Os efeitos sob a saúde humana e animais ainda são objetos de estudos entre vários pesquisadores, como pontua Natália Dantas, mas já se sabem que esses materiais carregam substâncias danosas.

“Os microplásticos podem aderir, nas suas superfícies, compostos químicos persistentes. Esse processo pode vir se acumulando e chegar nós que nos alimentamos das espécies, esses compostos tóxicos podem ser passados ao longo da cadeia”, reforça.

A Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) atua, em parceria com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), na fiscalização do lançamento de esgoto ou resíduos sólidos nos logradouros públicos e nos recursos hídricos que possam poluir o mar.

São feitas verificação dos imóveis que não estão interligados à rede pública de esgoto, bem como os imóveis que lançam efluentes de forma irregular na rede pública de esgoto ou nas galerias pluviais e recursos hídricos. A multa para esses casos varia de R$ 90,00 a R$ 14.400,00

Já o lançamento de efluentes e esgotos urbanos e industriais sem o devido tratamento em recursos hídricos é uma infração gravíssima.

As penalidades em multa variam de R$ 303,75 a R$ 48.600,00. Em 2020, até o último dia 27, “para o combate ao lançamento de resíduos ou poluentes na orla, foram realizadas 2.016 fiscalizações, 107 autuações e 545 notificações. Em 2019, foram 5.200 fiscalizações, 195 autuações e 771 notificações”, acrescenta o órgão.

RESOLUÇÕES

A presença de microplásticos no mar é um tema relativamente novo, mas já se desenham estratégias para diminuir a inserção desse tipo de lixo no meio ambiente.

Natália Dantas destaca que é preciso cooperação das pessoas ao não deixar o lixo nas praias ou nas ruas, que são carregados pelo vento até o mar, e o desenvolvimento de tecnologias que filtre o material dos esgotos domésticos.

“A gente ainda está entendo o impacto que a gente ser humano exerce nos ambientes, é uma problemática que a gente está detectando nos últimos anos, é muito desafiador quando a gente encontra uma problemática que ainda precisa de muito estudo. É preciso incentivar esses estudos, para que a partir daí a gente possa pensar em políticas públicas que possam estar sendo direcionadas para a resolução”, propõe a pesquisadora.

Em nota, a Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP) informou que a limpeza da orla da cidade é realizada a partir de serviços executados pela Ecofor Ambiental e por equipes das Regionais.

Na Praia de Iracema, a Secretaria especificou que a limpeza acontece diariamente.

Entre os serviços, são feitas limpezas no calçadão, ruas, canteiros centrais, recolhimento de cocos na faixa de areia e recolhimento de resíduos.

A população pode denunciar o descarte irregular de lixo pelo Canal 156.

Já a Cagece informou que o monitoramento do esgoto tratado nas regiões em que a companhia atua é realizado em conformidade com a legislação, cujas determinações estão previstas nas resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema)

 

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