Por Bruna Bopp - Agência FAPESP – 21 de novembro de 2024 - Uma expedição…
Bali se transforma em um depósito de lixo plástico
Por João Lara Mesquita – Mar Sem Fim –
Bali, Indonésia, ‘paraíso’ ou depósito de lixo plástico?
Um dos vícios da indústria do turismo é batizar parte dos litorais do planeta como ‘paraíso’, às vezes vão além, ‘paraíso intocado’.
Quantas vezes já vi isso em papéis de agências de turismo ou, mais recentemente, nas páginas da internet?
Perdi a conta. São inúmeras as praias assim batizadas.
Mas neste mundo superpopuloso continuar nesta toada é quase um ato criminoso. No mínimo, é enganador. Bali, Indonésia, ‘paraíso’ ou depósito de lixo plástico?
Uma das regiões que recebeu esta alcunha é a ilha de Bali, Indonésia; na verdade, hoje, um ‘paraíso’ de lixo plástico.
Até um ícone do jornalismo mundial como a National Geographic ainda utiliza o adjetivo, mesmo ao publicar matéria que mostra como Bali se transfigurou nos últimos tempos.
“Qual é a primeira coisa que vem à mente quando se fala em Bali? Provavelmente, as praias lindas e intocadas da região. Contudo o que aparece com cada vez mais frequência nas praias dessa paradisíaca ilha do arquipélago indonésio não são conchas, mas lixo plástico.”
Praias intocadas?
A matéria foi publicada em novembro de 2019 com o título Bali luta para conservar suas lindas praias repensando o lixo plástico.
Na verdade, o que Bali mais quer é se ver livre do entulho e assim manter os recursos do turismo, uma das atividades que mais empregos gera, e das que mais cresce no mundo (um mundo sem pandemia).
Falta conscientização sobre o ciclo do plástico
O problema é mundial e não se resume apenas à praias, mas ao meio ambiente marítimo e terrestre.
Já comentamos inúmeras vezes os problemas, e também as virtudes, do material. A invenção do plástico, nos anos 50 do século passado, contribuiu demais com a humanidade.
Mas hoje sabe-se que ele nos trouxe um novo problema: como nos livrarmos do plástico usado?
O material é onipresente.
Eu mesmo já fiz o possível para usar menos plástico.
Mas jamais consegui algo a mais que migalhas.
Olhando em volta de onde escrevo me vejo cercado.
Lago Batur de Bali (Getty).
Das teclas do computador onde escrevo, às canetas que ficam em volta para anotações.
Sem falar no frasco de álcool em gel, das capas dos fios que saem da tomada e mantém vivo meu computador, do mouse que uso para clicar aqui ou ali.
Vivemos uma pandemia de plástico.
E Bali não é exceção, é a regra do nosso mundo. Pior, a reciclagem de plástico é quase impossível como já demonstramos.
De todo o plástico produzido no mundo, em 65 anos desde a sua invenção, apenas 9% foi reciclado.
Pior gestão do lixo plástico: Indonésia em segundo lugar
NG: “Em um estudo de 2015 publicado na revista científica Science sobre os 20 países com a pior gestão de lixo plástico, a Indonésia apareceu em segundo lugar.
O país gerou 3,2 milhões de toneladas de plástico em 2010, e quase metade disso acabou no mar.”
“A China ficou na primeira posição; os Estados Unidos, na vigésima.
O governo indonésio apresentou à National Geographic números um tanto menores que os informados no estudo, mas a conclusão é a mesma: a maior parte do lixo plástico não é bem gerida na Indonésia.”
Proibir sacolas plásticas, é tudo o que conseguimos?
O plástico hoje é um problema mundial.
O tema é debatido por grande parte dos países e organizações mundiais como a ONU.
E parece que tudo que conseguimos é banir, em alguns lugares, as sacolas e canudinhos de plástico.
É muito pouco para uma humanidade que se preparara para colonizar Marte.
NG: “Bali vem tentando enfrentar seu problema com o plástico e, nesse esforço, produziu alguns exemplos dignos de menção. No fim de 2018, o governador balinês Wayan Koster anunciou a proibição de sacolas plásticas, poliestireno e canudos plásticos.”
“O governo indonésio prometeu reduzir o lixo plástico marinho em 70% até 2025. O governo balinês, por sua vez, está transformando o maior aterro sanitário da ilha, o aterro de Suwung, de 32 hectares, localizado na capital Denpasar, em um parque ecológico e uma usina de geração de energia a partir de esgoto e lixo.”
Mesmo que Bali avance em suas metas publicadas pela National Geographic, isso está tão distante de acabar o problema como a distância da Terra ao planeta a que pretendemos chegar.
Já fizemos matéria mostrando os litorais mais imundos do planeta.
Quase todos ficam na Ásia, apesar do problema estar longe de ser asiático.
No Brasil nem é bom falar.
Basta ver o que acontece em cada virada do ano nas praias ‘paradisíacas’ que temos.
É de dar nojo. Isso sugere que enquanto todos os governos do mundo não se unirem para acharem uma solução o problema tende a aumentar até sermos engolidos por nossos rejeitos diários.
Enquanto isso, os produtores de plástico continuam livres, leves e soltos. Até quando?
NG: “A recente proibição das sacolas plásticas descartáveis pelo governo levantou objeções por parte dos produtores indonésios de plástico, preocupados com o freio que a proibição pode colocar no setor. Os produtores estão convencidos de que a gestão de resíduos precisa ser melhorada, além da redução do uso.”
Aqui há um ponto de concordância com o que já lemos e estudamos sobre o assunto.
A redução do uso é obrigação de cada cidadão consciente, e respectivos governos.
Mas a indústria do plástico não pode continuar a se eximir como se o problema fosse apenas de cidadãos e governos.
Ela é parte importante do problema e, como todos, tem necessariamente que dar a sua contribuição.
Mas, até hoje, ainda não vimos quase nenhuma ação por parte da indústria do plástico.
Enquanto alguns governos e cidadãos procuram dar sua contribuição, uns proibindo plásticos de uso único, outros procurando evitar quando podem o material, a indústria continua a produzir plástico que não é reciclável às carradas.
Alguns exemplos que podem e devem ser seguidos
Pesquisadores mundo afora estudam a criação de plásticos biodegradáveis, mas ainda não vimos (não quer dizer que não existam) nada que seja definitivo.
Proibição ainda engatinha
Governantes mais antenados aumentam a pressão proibindo a fabricação de alguns itens. Já são mais de 50 os países que baniram certos tipos de plástico.
Mas isso também é um paliativo. São quase 200 os países do mundo.
Empresas se unem contra o problema
Em razão da enormidade do problema, surgiu em 2019 a Aliança para o Fim dos Resíduos Plásticos que envolve algumas das maiores empresas do mundo, inclusive algumas produtoras de plástico.
A aliança é um movimento de união de cerca de 30 empresas tidas como ‘gigantes’ globais (setores plástico e bens de consumo), de quase todos os continentes, Américas, Europa, Ásia, África e Oriente Médio, e investimentos previstos de US$ 1,5 bilhão de dólares nos próximos cinco anos visando livrar o descarte incorreto do plástico, principalmente, mas não apenas, nos oceanos.
É um começo. Mas longe de ser suficiente.
Enquanto estas empresas se uniram em torno de um problema comum da humanidade, outras gigantes fazem o oposto.
Foto: conexaoplaneta.com.br
110 bilhões de garrafas de coca-cola em 2016
Para se ter uma vaga ideia do tamanho do problema, apenas uma delas tão onipresente em nosso cotidiano como o plástico, a coca-cola, produz 3.400 garrafas de plástico por segundo! Garrafas de plástico não reciclável. Em 2016 foram nada menos que 110 bilhões de garrafas.
Pressão popular, o que resta aos consumidores antenados
Depois de ingerida a bebida, onde vão parar as garrafas? Ao serem divulgados estes números assustadores começou um processo de pressão popular contra a marca. Até que em 2019 a empresa mostrou ínfima reação produzindo garrafas produzidas com plásticos recuperados e reciclados do oceano. Foram apenas 300 unidades.
Calcula-se que um milhão de garrafas plásticas são vendidas por minuto no planeta, algo em torno de 20 mil compradas a cada segundo.
O exemplo de Ruanda
Para os que não acreditam que os países podem e devem ir mais adiante, resta o consolo de Ruanda, na África, que desde 2008 proibiu qualquer plástico não biodegradável.
E foi pra valer.
As Nações Unidas nomearam a capital do país, Kigali, a cidade mais limpa do continente africano.
O exemplo serve para vermos como ainda estamos patinando.
A África hoje lidera o banimento de plástico no mundo,
Ruanda não está sozinha no continente.
O país agiu sem se incomodar com os prejuízos provocados para alguns setores da economia. ,
Pensou grande e tem colhido frutos demonstrando que o mundo está atrasado.
Pensar grande no mundo desenvolvido, dito rico, seria incluir obrigações às produtoras mundiais de plástico.
Bali, Indonésia, os ‘paraísos intocados’ vão se proliferar
Ou isso, ou os ‘paraísos intocados’ de Bali haverão de proliferar como a pandemia que colocou de joelhos a humanidade.
Não há no horizonte outro caminho.
Nem mesmo baixar os preços dos hotéis como Bali, em desespero, fez.
Claro, não é apenas pela imundície de suas praias, mas também pelo flagelo da pandemia.
De acordo com o independent.co.uk, “encontramos quartos disponíveis por £ 14 a noite.
Outro hotel, Yoga Amertham Retreat and Resort em Ubud, disse que os quartos estavam disponíveis por menos de £ 9 e as refeições estavam sendo vendidas por 5.000 rúpias indonésias – apenas 27p.”
Alguém se habilita a banhar-se no lixo?
Por falar em pandemia, em 2021 finalmente teremos a vacina contra a covid-19. E somos quase oito bilhões de pessoas. Oito bilhões que deverão ser vacinados. Vacinados com seringas.
Seringas são feitas de plástico…
Imagem de abertura: National Geographic
Fonte: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2019/11/bali-luta-para-conservar-suas-lindas-praias-repensando-o-lixo-plastico?fbclid=IwAR1OsjO4ZiW5_IuC-RaI4ADsVB8bwnYneq0ibt8pV_qFV7OvNqvlGGdiozQ; https://www.independent.co.uk/travel/news-and-advice/bali-hotels-cheap-rooms-tourists-b1762241.html?utm_content=Echobox&utm_medium=Social&utm_source=Twitter#Echobox=1606392606.
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