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Por que ESG é tão importante para as empresas e startups?
Por Felipe.spina – 11 de maio de 2021
Quem lê sobre investimentos certamente já ouviu falar em ESG. Mas você sabe o que, exatamente, a sigla quer dizer?
ESG significa environmental, social and governance, ou, em português, “ambiental, social e governança”.
Na prática, consiste em três critérios que permitem medir os impactos sociais e ambientais de um investimento em uma empresa.
Esses fatores têm ganhado destaque em uma sociedade que, cada vez mais, valoriza empresas responsáveis com o meio ambiente, a sociedade e a própria gestão.
Por conta disso, investidores e fundos de investimento passaram a olhar para critérios como sustentabilidade e governança corporativa na hora de decidir onde colocar dinheiro.
Neste artigo, você aprenderá o que é ESG, como esse conceito surgiu, exemplos de ações que as empresas podem fazer na prática, iniciativas globais e muito mais. Acompanhe!
O que é ESG?
ESG é a sigla em inglês para as palavras environmental, social and governance, que, em português, podem ser traduzidas como “ambiental, social e governança”.
O termo ESG é usado para descrever o quanto uma empresa procura reduzir danos ao meio ambiente, atuando de maneira sustentável, além de adotar as melhores práticas administrativas.
Além disso, a sigla também é utilizada para falar de investimentos que levam em conta critérios de sustentabilidade, e não somente índices financeiros.
Ou seja, para aplicar dinheiro em determinado negócio, o investidor interessado observa também fatores ambientais, sociais e de governança da empresa.
Entenda melhor o significado de cada letra que compõe a sigla ESG:
Environmental (ambiental): a letra E da sigla diz respeito às práticas da empresa no que concerne à conservação do meio ambiente.
Isso inclui a sua atuação sobre assuntos como a poluição do ar e da água, o aquecimento global e a emissão de carbono na atmosfera, o desmatamento, a escassez da água, dentre outros.
Social: a letra S tem relação com a maneira como a empresa lida com as pessoas que fazem parte dela, e também com a comunidade do seu entorno. Isso inclui proteger os dados dos clientes, ter uma equipe diversa e engajada e respeitar a legislação trabalhista vigente.
Governance (governança): a governança, por sua vez, tem relação com a administração da empresa, por exemplo, a sua conduta corporativa, a relação com governos, a existência de um canal de denúncias.
Por que o ESG tem ganhado destaque?
A sigla ESG tem ganhado destaque entre empresas em um contexto em que a sociedade valoriza negócios que respeitam o meio ambiente, as pessoas e uma boa gestão.
São exigências que refletem o comportamento das novas gerações, como a geração Z, que cada vez mais priorizam o consumo de marcas transparentes e responsáveis.
Por conta dessas exigências dos consumidores, pesquisas têm mostrado que negócios que seguem boas práticas ambientais, sociais e de governança são mais estáveis e podem trazer mais lucratividade no longo prazo.
Nesse contexto, investidores e fundos de investimento também passaram a olhar para esses critérios na hora de decidirem onde investir dinheiro.
Leia também: Como os fundos de venture capital incorporam critérios de ESG em suas decisões de investimento?
Como surgiu o ESG?
Apesar de o termo ESG ter se popularizado recentemente, a preocupação com investimentos em empresas sustentáveis existe há bastante tempo.
O termo Socially Responsible Investing (SRI ou, em português, investimento sustentável responsável) surgiu entre as décadas de 1970 e 1980, quando fundos de investimento passaram a considerar critérios sociais na tomada de decisão sobre quais empresas deveriam receber investimentos.
Naquela época, por exemplo, alguns fundos passaram a vetar investimentos em empresas que tinham negócios na Africa do Sul, por conta do Apartheid.
Foi também na década de 1970, mais precisamente em 1971, que foi criado o primeiro fundo de investimento responsável, o norte-americano Pax Sustainable Allocation Fund Investor Class (PAXWX), que não investia em empresas que financiaram a Guerra do Vietnã.
Mais tarde, nos anos 1980, o foco era evitar investimentos em empresas responsáveis por catástrofes ambientais, como o Desastre de Bhopal na Índia, no qual toneladas de gases tóxicos vazaram de fábricas de pesticidas, e o acidente do navio petroleiro Exxon Valdez, da ExxonMobil, no Alasca, em 1989.
Foi nessa época que negócios começaram a perceber a importância de reduzir impactos negativos no meio ambiente para não perderem influência no mercado.
Entre os anos 1990 e 2000, surgiram os primeiros índices socialmente responsáveis.
Um deles é o MSCI KLD 400 Social Index, que foca em investimentos sustentáveis e busca reduzir investimentos em empresas de armas, cigarros e álcool.
Outro índice do tipo é o Dow Jones Sustainability Index, criado em 1999 para avaliar a performance de empresas conforme critérios que mais tarde seriam chamados de ESG.
A preocupação com investimentos SRI, com o passar do tempo, foi se fundindo às novas preocupações de responsabilidade corporativa dos negócios.
A sigla ESG surgiu oficialmente em 2005, no relatório Who Cares Wins (ou, em português, “ganha quem se importa”), resultado de uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU).
Na iniciativa, instituições financeiras de diversos países, dentre os quais o Brasil, se reuniram para definir diretrizes de como considerar questões de meio ambiente, sociais e de governança em investimentos.
Dessa forma, os critérios ESG passaram a ser considerados para tomar decisão sobre investimentos, além de servirem como incentivo para as empresas melhorarem sua performance de investimentos no longo prazo.
O movimento de ESG cresce em ritmo acelerado no Brasil.
Dados mostram que startups brasileiras com soluções para as melhores práticas ambientais, sociais e de governança receberam investimentos da ordem de US$ 991 milhões desde 2011, como mostra o inédito Inside ESG Tech Report, estudo produzido pela plataforma de inovação aberta Distrito, que será divulgado mensalmente ao mercado.
Segundo o relatório, o montante investido no setor está distribuído da seguinte forma:
Social com US$ 699,8 milhões (70,60%);
Governança Corporativa com US$ 209,6 milhões (21,15%);Ambiental com US$ 81,8 milhões (8,25%).
Foram mapeadas 740 startups voltadas para o consumidor, pequenas e grandes empresas ou até mesmo para o governo, com impacto em uma ou mais das categorias ESG, prova de que essa é uma área com enorme potencial.
Há startups de 28 setores diferentes mapeadas. Entre elas, a maior parte está na categoria social — 36,08%. Em seguida, temos 34,73% voltadas a questões ambientais e, por fim, 29,19% a governança corporativa.
Algumas dessas startups que são B2B já atendem clientes do porte da Ambev, Votorantim, Natura, Itaú e Unilever.
Entre os exemplos de governança corporativa podemos citar a Plataforma Verde, um software que rastreia a cadeia produtiva; a Autentify, dedicada à prevenção de fraudes; e a Egalitê, que promove a inclusão de profissionais com deficiência.
Já na categoria social destaca-se o Zenklub, dedicado ao cuidado emocional dos colaboradores de empresas.
Por fim, entre as dedicadas a questões ambientais, temos a EuReciclo, que foca na logística reversa de embalagens para empresas, e a Trashin, que faz a gestão e logística de resíduos.
ESG na prática: exemplos de ações que as empresas podem fazer
Na prática, os fundos de investimento analisam e classificam as empresas conforme os critérios ESG para direcionar aportes.
Há alguns, inclusive, que só investem em negócios que adotam as boas práticas.
O resultado para os negócios que apostam nessas boas práticas são positivos não só na atração de investidores, como também na percepção que o mercado tem.
Se o seu negócio deseja adotar essas práticas, mas você não sabe como começar, veja algumas iniciativas voltadas para cada uma das letras que compõem a sigla ESG:
Ambiental Desenvolver embalagens recicláveis, ou que utilizem menos plástico.
Usar materiais reciclados no escritório e digitalizar o que for possível para reduzir desperdícios;
Usar energias limpas e renováveis, que não emitam poluentes, como a eólica e a solar;
Fazer a destinação correta de resíduos e efluentes;
Social – Permitir que as mulheres conciliem carreira e maternidade, oferecendo um ambiente propício para tal;
Privilegiar o diálogo entre colaboradores e líderes;
Realizar projetos sociais com a comunidade local;Promover ou patrocinar eventos culturais e sociais.
Governança Ter um conselho administrativo que priorize membros que não são contratados pela empresa;
Contratar fornecedores e colaboradores terceirizados que tenham integridade;
Ter uma hierarquia bem definida, com cargos e funções determinados;
Ter transparência, tornando públicas as principais informações.Conheça startups focadas em ESG
O ESG ganhou tanta importância que hoje já existem no mercado startups focadas em soluções de ESG para empresas, as chamadas ESG techs.
Só no Brasil, já são 740 negócios desse tipo, conforme o estudo Inside ESG Tech Report, realizado pelo Distrito Dataminer.
O estudo categorizou essas startups em três categorias: governança, ambiental e social.
Elas têm recebido investimentos consideráveis, sendo a categoria social a que mais recebeu aportes.
Apesar de ter o menor volume de empresas (135) dentre as três categorias, as ESG social techs acumulam 67% do volume investido até hoje em startups focadas em ESG no país.
Ao todo, foram mais de 450 milhões de dólares em investimento nas ESG techs, em 50 deals.
Abaixo, você conhece três startups focadas em ESG, cada uma de uma categoria — ambiental, social e governança.
Moss.Earth
A Moss.Earth é uma startup focada em reduzir o impacto das empresas no meio ambiente, encaixando-se, portanto, na categoria ambiental.
Funciona assim: grandes empresas podem compensar o impacto ambiental negativo causado pelas suas atividades por meio da compra de créditos no valor necessário para neutralizar os danos. Essa compra é feita por meio do token de crédito de carbono disponibilizado pela Moss.
O valor pago pelos créditos é, então, investido em programas de conservação da floresta amazônica.
Fundada em 2020, a startup já recebeu 3,4 milhões de dólares em investimentos e atualmente conta com 47 funcionários.
Zenklub
A Zenklub é uma plataforma de serviços de bem-estar e saúde emocional voltada para colaboradores das empresas.
O objetivo é conectar psicólogos e possíveis pacientes usando tecnologia e dados para dar o “match”. O app também tem conteúdos educativos, guias, dicas e exercícios para os usuários.
Com foco em auxiliar na criação de uma cultura organizacional forte e respeitosa, a startup se encaixa na categoria social. Criada em 2016, conta atualmente com 265 funcionários e acumula 11,9 milhões de dólares em investimentos recebidos.
Egalitê
Auxiliar pessoas com deficiência (PCD) a adentrarem o mercado de trabalho e as empresas a cumprirem a lei de cotas com recrutamentos assertivos é o objetivo da Egalitê, startup criada em 2009 e que conta atualmente com 10 funcionários.
A solução desenvolvida é uma plataforma que torna a área de Recursos Humanos para PCD mais inteligente, automatizando e digitalizando processos. Por estimular a diversidade no quadro de funcionários das empresas, a Egalitê se encaixa na categoria de governança das ESG techs.
Iniciativas globais em ESG
No mundo, há uma série de iniciativas globais focadas em garantir que as empresas sigam práticas mais sustentáveis, diversas delas promovidas pela Organização das Nações Unidas.
Conheça as principais:
Global Reporting Initiative (GRI)
O Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização sem fins lucrativos criada em 1997 para padronizar os relatórios de sustentabilidade das empresas globalmente.
Esses documentos são utilizados para auxiliar empresas e também o governo a mensurar e administrar os impactos que causam nos âmbitos ambiental, social e de governança, divulgando-os de maneira transparente.
Para isso, o manual GRI conta com quatro frentes a serem avaliadas: mudança climáticas, direitos humanos, governança e bem-estar social.
A ferramenta é interessante para empresas que desejam ter uma gestão mais sustentável. Considerando os indicadores unificados pela ONG, os negócios podem avaliar melhor o impacto de suas operações, além de definir metas e divulgar o desempenho.
Pacto Global
O Pacto Global é uma iniciativa criada pela ONU em 2000 com o objetivo de encorajar empresas a adotarem políticas de responsabilidade social e sustentabilidade.
A adesão é voluntária e o Pacto Global estabelece 10 princípios universais, que devem guiar as estratégias das empresas que desejam atender aos direitos humanos, direitos do trabalho, proteção ambiental e anticorrupção.
Ao aderir ao Pacto Global, o negócio se compromete a apoiá-los e a submeter um relatório periódico mostrando sua evolução.
Criada em 2000, a iniciativa hoje reúne milhares de negócios signatários ao redor do mundo.
Princípios para o Investimento Responsável (PRI)
Criado em 2005 para guiar instituições de acordo com a agenda de sustentabilidade global, os Princípios para o Investimento Responsável (PRI) trazem 6 princípios voluntários para incorporar os critérios ESG em práticas de investimento.
Quem adere à iniciativa se compromete a incorporar temas ESG em análises de investimento e processos de tomada de decisão, dentre outros pontos.
Atualmente, a iniciativa tem mais de 3 mil signatários, com ativos sob gestão que ultrapassam os 100 trilhões de dólares.
Acordo de Paris
O Acordo de Paris é um tratado mundial cujo objetivo principal é a redução do aquecimento global.
O documento foi negociado durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2015 e assinado por diversos países em 2016.
O foco do acordo é reduzir as emissões de gases de efeito estufa para limitar o aumento da temperatura global, que deve ficar abaixo de 2ºC, de preferência em 1,5ºC.
Agenda 2030
A Agenda 2030 é mais uma iniciativa da ONU, um plano de ação para o desenvolvimento sustentável global criado em 2015, em Nova Iorque, na presença de líderes de 193 estados-membros da Organização.
O foco são as dimensões social, ambiental e econômica, além de ampliar as metas definidas em 2000 nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
A agenda traz 17 objetivos e 169 metas que devem ser seguidos pelos estados-membros da ONU.
Dentre os objetivos, estão:
- Erradicação da pobreza
- Fome zero e agricultura sustentável
- Saúde e bem-estar Educação de qualidade Igualdade de gênero
- Água potável e saneamento Energia limpa e acessível
- Consumo e produção responsáveis Redução das desigualdades
Além disso, é preciso promover o debate contra as mudanças climáticas para que o país atinja as metas.
Os países que fazem parte da Agenda 2030 devem se comprometer com a promoção de programas e ações para orientar a atuação interna do país, o que inclui a agenda financeira.
Sustainability Accounting Standards Board (SASB)
O intuito da organização sem fins lucrativos Sustainability Accounting Standards Board (SASB), criada em 2011, é promover e divulgar dados sobre a sustentabilidade corporativa das empresas para investidores, tornando os mercados globais de capital mais eficientes e dialogando de forma transparente com as empresas.
Para isso, a SASB tem diretrizes para a divulgação dessas informações. Em termos ESG, os padrões SASB se baseiam em 26 fatores, divididos em 5 temáticas:
Capital Humano, Capital Social, Liderança e Governança, Modelo de Negócio e Inovação e Meio Ambiente.
Diferentemente do GRI, que é mais focado no relato dos impactos para um desenvolvimento sustentável, o SASB é focado em ESG, já que tem como objetivo priorizar a materialidade e os riscos de sustentabilidade específicos de cada setor.
Como ter melhores índices ESG?
Se, depois de ler o artigo, você tiver interesse em atingir melhores índices ESG na sua empresa, saiba que isso é possível contando com parceiros estratégicos.
Uma boa opção é fazer parcerias com startups que desenvolvem soluções com esse foco, por exemplo.
Distrito lança ESG Digital Hub
O Distrito lançou também um pacote de iniciativas do tema, começando pelo ESG Digital Hub, que se soma aos demais hubs digitais da empresa, dando a corporações e startups acesso direto aos dados em tempo real e análises desse ecossistema.
O ESG Digital Hub oferece diversos serviços com o intuito de apoiar e dar mais assertividade às companhias em sua jornada de inovação aberta.
Ao acessar a plataforma, o usuário pode acessar os dados, entender os movimentos do mercado, analisar as tendências e conferir as informações de startups do setor – como descrição, maturidade e contato dos fundadores -, além de criar conexões diretas, implementando a transformação da empresa de maneira mais ágil e assertiva.
O CEO do Distrito, Gustavo Araujo, explica como o acesso ao hub pode alavancar a inovação em ESG.
“Nosso objetivo é conectar pessoas, soluções e tecnologias que auxiliem na gestão e geração de impacto, atendendo assim a uma demanda crescente da sociedade em direção a um mundo mais sustentável”, diz o executivo.
Pela plataforma, as empresas podem ainda cadastrar seus desafios para que as startups as ajudem a resolver ou fazer um busca ativa de soluções para essas questões, realizar trilhas de inovação, participar e promover eventos, receber mentorias, divulgar conteúdos e iniciativas, receber reports mensais analíticos e mais. Tudo isso com a ajuda de um especialista em inovação dedicado a atender àquela corporação.
Aceleração e mega evento
As empresas interessadas na transformação com foco em ESG têm ainda a chance de promover junto com o Distrito um programa de aceleração para startups voltadas à sustentabilidade, medidas sociais e de governança.
É o ESG Scale, que acontece no segundo semestre do ano e vai selecionar algumas das startups com maior potencial do Brasil para receber um intenso treinamento de algumas semanas com a ajuda de experts como mentores e a conexão com o mercado.
O objetivo é fazer com que esses negócios se desenvolvam e possam inclusive fechar parcerias com as corporações participantes ou até serem investidas.
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