Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Banheiros “espaciais” transformam urina em água limpa e fertilizante
Quando falamos em reaproveitar resíduos produzidos durante um evento, a primeira coisa que vem à cabeça são os recicláveis, como copos descartáveis, certo?
Existe também a possibilidade de compostar resíduos orgânicos, como restos de alimentos de uma festa.
Mas, uma empresa holandesa deu um passo à frente e está reaproveitando a água usada nos banheiros dos eventos, transformando este resíduo em água de irrigação, fertilizante e composto.
Inspirada em instalações de tratamento de água usadas em missões espaciais, a Semilla Sanitation se uniu com a Agência Espacial Europeia e as Indústrias Nijhuis , para criar unidades de tratamento de águas residuais de circuito fechado autossuficientes e descentralizadas que convertem águas residuais em água limpa e fertilizantes.
O banheiro móvel da Semilla Sanitation. Foto: ESA
Com uma tecnologia avançada de saneamento, as estações de tratamento transformam o que seria um problema uma solução circular para o tratamento de água com urina e água de pias e chuveiros.
Para mostrar a eficiência do seu produto, o CEO da empresa, Peter Scheer, percorre eventos culturais em toda a Holanda, distribuindo xícaras de chá.
O chá é preparado com folhas de menta que crescem da água de irrigação e fertilizantes gerados no local a partir do tratamento da água usada pelo público do festival.
O slogan “From waste to taste” pode ser traduzido como:
“do resíduo ao gosto” e remete a esta capacidade de produzir chá com o que antes era um líquido indesajável.
Peter Scheer serve chá de menta no festival MadNes 2019. Foto: Yvonne Zoethout | Facebook | MadNes
As unidades modulares da Semilla Sanitation oferecem banheiros, urinóis e chuveiros.
Por meio de tratamento biológico ou físico no local, os três fluxos de águas residuais das instalações são convertidos em água de torneira higiênica, água de irrigação, fertilizante e composto.
Os módulos também podem ser configurados para produzir biogás e eletricidade.
O resultado é um sistema que fecha o ciclo entre o tratamento de água e o abastecimento de água, para fornecer três das necessidades básicas da vida: água, alimentos e saneamento.
Quem frequenta grandes festivais e eventos culturais sabe que é muito comum o consumo de cerveja, o que faz com que o número de pessoas que fazem xixi seja proporcional ao tamanho do evento e à quantidade de brindes. E o que poderia ser negativo, se torna uma fonte de boas quantidades de água, fertilizantes e até chá.
foto: Facebook | Semilla Sanitation
De acordo com Peter, em alguns eventos, a quantidade de líquido coletada chega a 40 mil litros.
“Não estamos apenas tratando e reutilizando a água usada para dar descarga nos banheiros, estamos criando uma nova fonte de água”, afirma o CEO.
Apesar de ser usada em eventos culturais, a tecnologia pode ser empregada em outros lugares, como campings e localidades sem uma rede de esgoto adequada.
Atualmente, a empresa trabalha para aperfeiçoar os sistemas de tratamento e se fortalecer, com eventos e projetos dentro da Holanda, mas também tem representantes no Quênia e em Unganda.
Foto: Facebook | Semilla Sanitation
Em um projeto com a Prefeitura de Amsterdã, alguns módous de tratamento de água estão sendo nas ruas da cidade.
O GreenPee, ou xixi verde em português, é um o mictório sustentável desenvolvido em parceria com Urban Senses.
Os mictórios são uma tentativa de impedir as pessoas de urinar em público. A urina é coletada e processada usando o método de tratamento de água amarela da Semilla Sanitation.
Foto: Greenpee
Tratamento de água amarela
Os módulos da Semilla Sanitation tratam água amarela (água com urina) e água cinza (usada em pias e chuveiros).
Já a água preta é semelhante ao lodo de esgoto, uma combinação de água com fezes ou qualquer outra coisa que seja descartada no vaso sanitário.
A água amarela coletada nos eventos é pré-tratada biologicamente e concentrada usando um evaporador a vácuo.
A luz ultravioleta é então usada para quebrar as cadeias complexas de quaisquer drogas ou produtos químicos que possam ter sido ingeridos pelo público.
O resultado é 90% de água limpa e 10% de fertilizante.
O fertilizante produzido a partir deste processo tem uma pegada de carbono 75% inferior em comparação com os fertilizantes artificiais e pode ser utilizado em campos esportivos públicos, espaços verdes ou na produção agrícola e de ração animal.
Menta cultivada com água e fertilizante gerados com o tratamento de água amarela e cinza. Foto: Facebook | Semilla Sanitation
A água limpa pode ser reutilizada para fins domésticos, sistemas de refrigeração, irrigação de lavouras ou vegetação local, ou liberada no meio ambiente para reabastecer as reservas de água subterrânea.
Tecnologia espacial para um mundo circular
A Semilla Sanitation tem como objetivo tratar a água de uma forma mais sustentável do que os métodos de tratamento atuais, fechando o ciclo entre o abastecimento de águas residuais e a demanda de água limpa.
Este processo pode produzir um valor adicional além do valor da água com a qual começou.
“Estamos trabalhando em conjunto com a Agência Espacial Europeia para projetar um sistema circular que possa fornecer as necessidades básicas da vida, tanto no espaço quanto aqui na Terra”, diz Scheer.
Foto: Facebook | Semilla Sanitation
Como parte deste planejamento, usar os módulos móveis de tratamento autônomos em regiões com escassez de água ou zonas de alívio de desastres.
“Aldeias remotas, por exemplo, podem realmente se beneficiar de ter uma maneira de higienizar suas águas residuais e transformá-las diretamente em um recurso utilizável para cultivar suas plantações e manter os espaços limpos”, finaliza o CEO da empresa.
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