Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Montanha de roupas no Chile já pode ser vista do espaço
“Não é isso que vai fazer a diferença” é um pensamento muito comum para justificar o consumo dos mais diversos produtos.
Mas, a verdade é que esta ideia multiplicada por milhões ou bilhões de pessoas faz uma diferença enorme para o planeta.
E poucas imagens ilustram tão bem esta realidade quanto às montanhas de roupas de segunda mão que se formaram no Deserto do Atacama, no Chile.
As roupas do chamado mercado de fast-fashion, ou moda rápida, são mais baratas e também duram menos.
A qualidade não é tão boa e as coleções são lançadas em uma velocidade difícil de acompanhar.
O resultado: o descarte de uma quantidade impressionante de peças de roupa usadas ou até mesmo sem uso.
Muitos estes produtos chegam ao Chile como roupas de segunda mão, mas na verdade se transformam rapidamente em lixo têxtil.
Foto: iStock
As imagens impressionantes do mar de roupas que tomou vastas áreas do Atacama podem inclusive ser vistas do espaço.
A SkyFi, uma empresa de aplicativos de imagens de satélite, pediu aos membros de seu canal Discord que ajudassem a identificar as coordenadas das enormes pilhas de roupas.
SkyFi’s Satellite Image Confirms Massive Clothes Pile in Chile’s Atacama Desert
Com essas informações, a empresa conseguiu acessar imagens de satélite que mostravam claramente o depósito de roupas inutilizadas.
Em seu blog, a SkyFi explica que a empresa tem como missão “facilitar o acesso aos dados de observação da Terra” o que ajuda a esclarecer notícias ou histórias que circulam pela internet.
No caso das montanhas e roupa no Chile, uma imagem com resolução de 50cm, considerada muito alta, revela a dimensão do problema.
A imagem mostra o tamanho da área ocupada pelas peças descartadas em relação à uma cidade na parte inferior do quadro.
“A imagem de satélite que pedimos da pilha de roupas no deserto do Atacama, no Chile, realmente coloca as coisas em perspectiva. O tamanho da pilha e a poluição que ela está causando são visíveis do espaço, deixando claro que há uma necessidade de mudança na indústria da moda”, relata a empresa em seu blog.
“Nossa missão de tornar os dados de observação da Terra fáceis e transparentes é vital para identificar e resolver problemas como este. Com nossos aplicativos da web e móveis, qualquer pessoa pode acessar imagens de satélite para confirmar histórias e ver o mundo de uma nova perspectiva”, informa a Skyfi.
Foto: iStock
A agência de notícias France-Presse (AGP), revelou que cerca de cerca de 59 mil toneladas de roupas não vendidas chegam ao porto chileno de Iquique a cada ano, e cerca de 39.000 toneladas das roupas acabam despejadas no deserto.
A área para onde as roupas são enviadas por diversos países e marcas do mundo é livre de impostos, uma iniciativa que deveria ajudar a economia local.
Mas, no caso das roupas, o que acontece é que os produtos que chegam como “roupas” na verdade são resíduos que acabam abandonados no deserto – uma solução mais rápida e barata para quem deveria assumir a responsabilidade pelo que está produzindo e descartando.
Foto: iStock
As roupas vêm de todo o mundo, com muitas peças feitas na China ou em Bangladesh, depois enviadas para os EUA e países da Europa e Ásia, antes de finalmente serem enviadas para o Chile para revenda ou despejo.
“O problema é que a roupa não é biodegradável e tem produtos químicos, por isso não é aceita nos aterros municipais”, explica Franklin Zepeda, fundador da EcoFibra, empresa que desenvolve isolamento a partir de roupas não utilizadas.
Fast Fashion
De acordo com Earth.org, a indústria da moda rápida contribui com mais emissões de carbono do que a aviação e o transporte marítimo combinados.
Economicamente, consumidores e empresas perdem coletivamente US$ 500 bilhões todos os anos em roupas não utilizadas e descartadas.
A indústria da moda rápida também é conhecida pelo tratamento antiético dos trabalhadores, poluindo o meio ambiente com tudo, desde produtos químicos a microplásticos e usando grandes quantidades de água para produzir roupas.
Foto: Earth.org
No entanto, espera-se que esses problemas piorem, já que a indústria deve crescer de cerca de US$ 106 bilhões em 2022 para mais de US$ 185 bilhões até 2027.
Brechós trazem mais sustentabilidade para a moda. Foto: Becca Mchaffie | Unsplash
O que fazer com suas roupas usadas?
Se por algum motivo você não vai mais usar determinada peça de roupa, o primeiro passo é verificar se ela está em condição de uso e pode ser usada por outras pessoas.
Se sim, uma ótima opção é doar esta peça, seja para conhecidos ou para ajudar quem não pode comprar.
Outra opção é vender a peça em brechós ou aplicativos que comercializam produtos usados.
Se a peça não pode mais ser doada ou vendida, procure um ponto de coleta para o descarte de roupas – elas podem ser recicladas e se tornarem matéria prima para novos produtos.
Foto: Divulgação | Plataforma Circular Cotton Code
Escolha bem
Antes da etapa do descarte, vem a compra.
Antes de comprar, repense e veja se esta é realmente uma necessidade ou se é apenas um impulso – isso te ajuda a poupar dinheiro e poupar recursos naturais usados na fabricação de produtos.
Se a compra for realmente necessária, veja se existe algum brechó ou outras opções para comprar peças usadas.
Mais uma vez você pode poupar dinheiro, já que estas opções são normalmente mais baratas, e recursos naturais, já que você vai estar prolongando a vida útil de uma roupa que já foi fabricada e estimulando a economia circular.
Comprar roupas em brechó poupa dinheiro e recursos naturais. Foto: Priscilla du Preez | Unsplash
Caso vá comprar em uma loja, a dica é optar por roupas de melhor qualidade que vão poder ser usadas por mais tempo e escolher peças que combinem com o seu estilo e gosto pessoal.
Roupa “da moda” pode sair de moda rapidamente ou acabar incomodando depois de um tempo, se ela não estiver alinhada com o seu estilo particular.
Uma boa pedida são peças mais neutras que podem compor diferentes visuais com acessórios ou combinações com outras roupas.
Mulheres procuram roupas usadas em meio a toneladas descartadas no deserto do Atacama, em Alto Hospicio, Iquique, Chile MARTIN BERNETTI – AFP
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