Miamiquer atrair ainda mais trabalhadores e ricos de fora da Flórida, como o magnata de fundos hedge Ken Griffin.
Mas antes disso, a prefeita Daniella Levine Cava enfrenta um enorme problema ambiental: pilhas de lixo e fossas sépticas transbordando.
Alguns dos grandes aterros sanitários da Grande Miami, conhecidos por nomes como “Mount Trashmore” – em alusão ao Monte Rushmore, monumento que homenageia quatro presidentes americanos – ficarão sem espaço até 2026, de acordo com um relatório do gabinete de Cava.
Mais urgentes são os sistemas sépticos que atendem aos 2,7 milhões de habitantes da cidade.
Muitos desses tanques de esgoto transbordam quando chove, liberando coliformes fecais e outros contaminantes que transformam trechos do paraíso tropical em pântanos tóxicos que matam peixes e adoecem a população.
Indian Creek, na Florida:Ilha exclusiva é conhecida por uma das comunidades residenciais mais ricas, privadas e seguras de Miami Beach e do mundo(Foto: Miami Luxury Homes)
Área exclusiva de Indian Creek na região de Miami Beach já teve casas de personalidades do megainvestidor Carl Icahn a Tom Brady e Ivanka Trump
“É um tema muito importante”, disse Cava, que se tornou a primeira mulher a liderar o condado de Miami-Dade em 2020.
“Temos de abordar tudo isso de forma agressiva.”
Os problemas afetam o status de Miami de ímã para pessoas que fogem de cidades envelhecidas com infraestrutura precária, aumento da criminalidade, impostos mais altos e clima frio.
Nenhuma outra grande cidade americana depende tanto de fossas sépticas, um sistema de tratamento de esgoto normalmente reservado para áreas rurais, quanto Miami.
É o caso de propriedades que vão desde os enclaves ricos de Coral Gables até Miami Beach e Homestead, perto dos Everglades.
“É inacreditável, não apenas para mim, mas para a maior parte da comunidade de planejamento e meio ambiente, que você possa ter um condado tão urbano como Miami-Dade e a população não ter água e esgoto”, disse Howard Nelson, que dirige a prática ambiental da Bilzin Sumberg.
O mesmo vale para o lixo. Miami, como muitas cidades dos Estados Unidos, enterra grande parte de seu lixo em aterros sanitários mais distantes da cidade, longe dos ricos.
São colinas fedidas, feitas artificialmente, que se elevam a 40 metros ou mais, repletas de moscas, pássaros, escavadeiras e caminhões.
Por lei, o condado não pode emitir licenças de construção a menos que tenha pelo menos cinco anos de capacidade de disposição de lixo.
O diretor de resíduos sólidos de Cava, Michael Fernandez, deixou o cargo abruptamente em julho, alertando que o condado não terá espaço suficiente para o lixo se Cava não agir rapidamente.
A essa altura, o condado terá que emitir uma moratória para interromper todo o desenvolvimento”, escreveu Fernandez em sua carta de demissão.
Cava contesta essa avaliação.
Democrata eleita pelas promessas de conduzir a cidade em meio às mudanças climáticas, Cava diz que apresentará uma solução em breve.
Ela propôs fazer pilhas mais altas nos aterros sanitários e construir um incinerador e uma usina de energia de US$ 1 bilhão, em parte para substituir um incinerador usado para processar 1 milhão de toneladas de lixo por ano e que pegou fogo durante o início do ano.
Manter o sistema de esgoto funcionando é um desafio mais complexo e caro. Há 108.000 residências e empresas com fossas sépticas no Condado de Miami-Dade.
Muitas delas banham o solo com dejetos humanos menos de 60 centímetros acima dos aquíferos de água potável, ficando aquém dos limites mínimos para evitar contaminação.
Há mais 50.000 no condado vizinho de Broward, parte da expansão da cidade.
Sob o comando de Cava, o condado gastou US$ 1 bilhão em redes de água e esgoto e alocou outros US$ 160 milhões.
Mas livrar a região das fossas sépticas custará pelo menos US$ 4 bilhões, de acordo com estimativas do governo.
Os residentes provavelmente terão que pagar mais impostos e taxas para financiar esses esforços, bem como a expansão de aterros sanitários e outros custos de coleta de lixo.
Eles já pagam mais de US$ 500 por ano pela coleta de lixo e poderão ter de pagar mais US$ 36 em taxas de coleta de acordo com o orçamento de US$ 10 bilhões proposto por Cava para 2023.
Os proprietários de casas também precisam cobrir o custo de conectar suas propriedades ao sistema de esgoto – US$ 20.000 em média.
Outras cidades também têm problemas.
Em São Francisco e Los Angeles, as chuvas fortes sobrecarregam frequentemente os sistemas de esgoto.
O antiquado sistema de água de Houston, no Texas, é tão frágil que, em alguns dias, apresenta mais de 1.000 novos vazamentos.
E o sistema de esgoto de Nova York frequentemente transborda quando chove.
Até que Miami resolva seus problemas, questões de infraestrutura podem impedir o desenvolvimento de que Cava precisa para atrair mais moradores ricos como Griffin, que transferiu seu império financeiro, Citadel, para Miami em 2022.
“Nós dizemos: ‘faça como Ken Griffin’”, disse Cava.
Crise se arrasta há anos
Em Belle Meade Island, um bairro à beira-mar na Baía de Biscayne, onde as casas custam US$ 10 milhões ou mais, as bombas de esgoto funcionam 16 horas por dia para dar conta do recado.
Isso é quase o dobro do tempo máximo de operação permitido, por isso há uma moratória do condado para novas construções no local.
No momento, se não tivermos capacidade de bombeamento de esgoto, o desenvolvimento será interrompido”, disse Cava.
São crises que se arrastam há décadas, exacerbadas pelas complexidades de governar a amálgama de 34 municípios que compõem a Grande Miami e postergar soluções caras.
Durante anos, Miami ignorou os avisos de uma calamidade de esgoto, mesmo depois que o governo federal cobrou multas enormes e ordenou mudanças.
Há um longo histórico de fossas sépticas com vazamentos que adoecem pessoas, contaminando as águas subterrâneas com a bactéria mortal E.coli e matando peixes quando os dejetos atingem o oceano.
Em 2020, 27.000 peixes morreram na Baía de Biscayne devido ao escoamento de fossas sépticas, e desde então houveram várias mortes relacionadas a isso.
Em 2018, o condado de Miami-Dade, em um de seus muitos estudos na última década, alertou:
“os sistemas sépticos que funcionam de forma inadequada podem representar um risco imediato à saúde pública”.
Mas Cava, ex-socióloga, tem se esforçado para encontrar uma maneira de resolver o problema.
“Não estamos em crise”, disse Cava quase quatro anos depois, em uma coletiva de imprensa em 17 de julho.
“Eu não vou permitir isso”.
— Com a colaboração de Nadia Lopez, Laura Nahmias e Joe Carroll.
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