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Cinco razões para ter esperança na proteção climática
Por Folha de São Paulo – 18 de dezembro de 2023
Apesar da percepção de que muitas pessoas não levam as mudanças climáticas a sério a ponto de mudarem algo no seu cotidiano, o think tank alemão NewClimate Institute assegura que houve, sim, muitas mudanças de atitude na última década.
Para os autores de um recente estudo sobre progressos sociais e tecnológicos na implementação do Acordo Climático de Paris de 2015, algumas tendências dão confiança de que o aquecimento global ainda pode ser limitado a 1,5ºC.
Consciência climática
Antes do Acordo de Paris, a consciência dos perigos do aquecimento global não era tão generalizada, diz o relatório.
Desde então o tema se tornou popular e é debatido em todos os setores da sociedade.
Os meios de comunicação informam mais sobre as questões climáticas, apesar de também haver cada vez mais notícias falsas, observam os autores.
Uma consequência dessa mudança de consciência é que há cada vez mais protestos climáticos.
Especialmente os jovens reunidos em movimentos ativistas, como Fridays for Future, Extinction Rebellion, Just Stop Oil e Letzte Generation, estão apelando para que haja ações rápidas.
Esses apelos acabam pressionando os políticos a agir.
E a isso somam-se ainda os processos judiciais contra Estados e empresas, que são cada vez mais numerosos.
Os autores dos processos pressionam pelo cumprimento de leis nacionais de proteção climática e ambiental e obtiveram ganho de causa em inúmeros casos.
Em 2021, como resultado de um processo climático, a corte suprema da Alemanha exigiu do governo federal que reduzisse mais rapidamente as emissões até 2030.
Em paralelo, as pesquisas científicas de atribuição climática ajudam a entender até que ponto eventos climáticos extremos — e os prejuízos por eles causados — podem ser atribuídos às mudanças climáticas.
Meta de zero emissões
Antes do Acordo de Paris, o foco principal estava na redução de emissões.
Agora formou-se um consenso generalizado de que “as emissões, em todos os países, devem cair para zero”, de acordo com a análise do NewClimate Institute.
A meta de uma economia de impacto neutro no clima é a nova norma em países, regiões e cidades, inclusive no Sul Global —um grande passo à frente.
Essa meta de zerar emissões mostra que houve uma “mudança significativa”.
E as metas climáticas nacionais são hoje muito mais ambiciosas e podem ajudar a reduzir a velocidade do aquecimento global no médio prazo.
No entanto, essas metas “ainda não são apoiadas por medidas suficientes”, sublinham os autores.
Mas, no geral, eles veem o mundo num rumo muito melhor do que antes do Acordo de Paris.
Investimentos sustentáveis
O aquecimento global é hoje um risco crescente para empresas e investidores.
Os investimentos que respeitam o clima se tornaram mais atraentes também do ponto de vista econômico, e não apenas porque as empresas sentem mais pressão social.
Muitas empresas estão publicando seu próprio risco climático, em parte por iniciativa própria, em parte devido a novas leis.
Das 500 empresas de capital aberto mais importantes dos Estados Unidos, segundo a classificação da agência de rating Standards and Poor, mais de 70% divulgam suas emissões.
“Se há mais de uma década era um nicho, hoje o investimento sustentável é a norma no mundo financeiro”, concluem os autores.
No entanto, eles observam que os modelos de negócios baseados no petróleo e no gás ainda são muito lucrativos e dominam o mercado.
Globalmente, a mudança necessária ocorre de forma muito lenta e, em muitos lugares, é atrasada pelos grupos de lobby.
Expansão das energias solar e eólica
Há 20 anos, tanto a energia eólica como a solar eram muito mais caras.
Especialmente no Sul Global elas eram frequentemente vistas como um luxo inacessível e pouco competitivo.
Isso mudou completamente, dizem os autores: “As energias renováveis tornaram-se o novo normal”.
Abandonar os combustíveis fósseis já não é mais uma questão de se, mas de quando.
Ao mesmo tempo, a geração de energia a partir do sol, do vento e de biomassa é cada vez mais descentralizada e permite modelos mais flexíveis, inclusive para residências.
Cada vez mais, as energias renováveis são a opção mais em conta:
“Turbinas eólicas onshore e projetos solares recém-construídos são hoje 40% mais baratos do que as instalações baseadas em combustíveis fósseis”, afirmam os autores.
O investimento global em energias renováveis já é cinco vezes superior ao investimento em combustíveis fósseis.
A energia fotovoltaica, em particular, cresceu muito mais rapidamente do que o esperado em todo o mundo, de acordo com a análise.
No entanto ainda existem obstáculos em muitos lugares quando se trata de expandir a energia eólica.
Carros elétricos e aquecimento
A eletricidade desempenha um papel cada vez mais importante nos transportes e no aquecimento.
E, ao contrário do que ocorria antes de 2015, hoje a indústria também está no processo de desenvolvimento de “modelos para evitar a emissão de CO2”, como observam positivamente os autores.
De acordo com o estudo, as bombas de calor que usam energia elétrica estão se tornando cada vez mais a “tecnologia chave para a descarbonização” dos sistemas de aquecimento de edifícios.
Na Europa houve um aumento de 38% em 2022.
E as vendas de carros elétricos aumentaram em todo o mundo bem mais rapidamente do que se esperava dez anos atrás.
Em 2023, 18% de todos os carros novos vendidos têm motor elétrico, calculam os autores do estudo.
Em alguns países esse já o padrão de mercado.
Todas as grandes montadoras de automóveis pretendem adotar os veículos elétricos como padrão nos próximos anos, e a União Europeia, o Canadá e o Chile já definiram datas para o fim dos motores de combustão em carros novos.
Segundo os autores, até agora o aumento no número de carros elétricos foi verificado sobretudo nos países ricos e na China.
Nesses países cada vez mais caminhões e ônibus elétricos estão sendo usados.
No entanto, a expansão das estações para carregar as baterias está atrasada em muitos locais, e em muitos países os elevados preços de venda dos carros elétricos ainda são um obstáculo para sua disseminação.
Por fim, os autores enfatizam que são necessários esforços significativamente maiores em todo o mundo para implementar o acordo climático.
Mas, diante dos enormes desafios globais, é possível “tirar força das muitas mudanças positivas” que o mundo já alcançou.
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