Por Pedro A. Duarte - Agência FAPESP - 12 de novembro de 2024 - Publicado…
Para o filósofo Ricardo Abramovay, o Brasil precisa repensar modelos de produção agrícola
Por Redação do Globo Rural – 27 de dezembro de 2023 – ‘Romper com a monotonia da nossa oferta agropecuária é dificílimo, mas isso precisa ser debatido. Esse sistema não é sustentável’, afirma filósofo Ricardo Abramovay — Foto: Divulgação Mapa.
O Brasil precisa debater como romper com a “monotonia” da oferta agropecuária, afirma o filósofo Ricardo Abramovay.
“O fato de termos 65% da superfície agrícola brasileira ocupada por um só produto não é sustentável”, alerta Abramovay, um estudioso de clima e da Amazônia.
“É preciso fazer uma reflexão estratégica sobre o sistema agropecuário não mais à luz do que foi a Revolução Verde, mas agora, na era do Antropoceno”.
Abramovay participou do debate “Transição de Sistemas Alimentares: o Caminho para uma Economia Sustentável”, promovido há poucos dias, em São Paulo, pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.
A entidade, formada em 2015, reúne mais de 350 representantes do setor privado, financeiro, da academia e da sociedade civil preocupados em inserir o Brasil na economia de baixo carbono.
Abramovay, professor titular da cátedra Josué de Castro, da Universidade de São Paulo, referia-se ao processo de transformação da agricultura em escala global que se deu por meio do desenvolvimento de novos meios tecnológicos na produção nas décadas de 1960 e 1970 — a Revolução Verde.
E falou sobre a nova era geológica em que estamos, marcada pelo impacto do homem no planeta — o Antropoceno.
“Romper com a monotonia da nossa oferta agropecuária é dificílimo, mas isso precisa ser debatido”, afirmou Abramovay, sugerindo a criação de um grupo na Coalizão que dê início a essa discussão.
José Carlos da Fonseca, cofacilitador da Coalizão Brasil e CEO da Associação Brasileira de Embalagens em Papel, completou:
“A humanidade tem mais de 400 produtos cultiváveis. Mas mais de 90% da nossa alimentação está concentrada em apenas 15 produtos”.
Abramovay lembrou que o cenário é ainda pior, com 50% da alimentação humana concentrada em quatro produtos.
“A monotonia não se refere apenas à produção agrícola, mas se exprime também na produção animal”, seguiu.
A avicultura está concentrada em poucas raças, e documentos que discutem o tema se omitem em relação a problemas socioambientais da produção de aves e suínos.
“Como esses setores não são altamente emissores de gases-estufa, somem da discussão global”, diz.
O ponto central da palestra de Abramovay foi a declaração “Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Mudanças Climáticas” apresentado na COP 28, a conferência da ONU sobre clima que aconteceu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
O documento político, assinado por 160 países, inclusive o Brasil, reconhece o impacto do clima nos sistemas alimentares e na agricultura e diz que é preciso aumentar a resiliência, promover segurança alimentar e apoiar agricultores.
“A declaração diz que a agricultura tem de ser sustentável — às vezes, falar o óbvio é importante — e que é um absurdo ter forme no mundo. Mas tem duas lacunas imperdoáveis”, seguiu o professor.
Uma delas é a discussão sobre a monotonia dos sistemas agropecuários.
A outra, o predomínio cada vez maior dos alimentos ultraprocessados.
“A característica fundamental dos sistemas alimentares contemporâneos é o fato de que são compostos cada vez mais por produtos ultraprocessados que estão na raiz das doenças que mais matam no mundo. Matam mais do que a fome e originam a pandemia global de obesidade”.
Abramovay lembrou que 60% das calorias ingeridas nos Estados Unidos e no Reino Unido vêm de produtos ultraprocessados e que 40% da população americana é obesa.
Em 1970, 5% das crianças eram obesas; hoje, são 20% — ou 19 milhões de pessoas entre 2 anos e 19 anos.
“Se não falarmos disso, estamos falando de um setor, que é a agricultura, mas não estamos falando de alimentação.
A indústria está fora dessa conversa, que conseguiu incluir o setor de transformação agrícola.
Mas o que se consome está fora do debate”, disse, criticando a declaração da COP 28.
Abramovay citou o mais recente relatório do Fórum Econômico Mundial, publicado no início de dezembro.
“Faz um diagnóstico fulminante dos prejuízos que os produtos ultraprocessados estão causando à saúde humana globalmente e os prejuízos daí decorrentes para os orçamentos de saúde pública”.
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