Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Ambientalistas querem reduzir uso de sacolinhas
Jornal diário do grande ABC de 09 de setembro de 2007
Elas são práticas, funcionais e numerosas. Por minuto, 1 milhão de sacolas plásticas rodam de mão em mão em todo o planeta. Um consumo que deixa marcas por, no mínimo, 500 anos.
O fator ecológico levanta polêmica em busca de soluções. Modelos oxibiodegradáveis e bolsas permanentes estão no foco. A moda, agora, é inovar, de volta ao passado.
“Sabe aquela sacolinha que nossas avós usavam para fazer compras? Aquelas, feitas de plástico e de pano? Pois é, são essas que temos de voltar a usar. É possível e necessário viver sem o descartável”, diz o professor de design do Mackenzie Ivo Pons.
Ele é um dos coordenadores de uma campanha lançada pela Prefeitura de São Paulo pela conscientização ambiental. Com o lema Eu não sou de plástico, a Secretaria Municipal do Verde quer disseminar a idéia de cada cidadão ter a sua sacola de compras, que vai e volta.
“Estamos plastificando o planeta. Recebemos mais sacolas do que usamos. Precisamos diminuir essa prática, encher cada uma delas com o máximo de produtos que pudermos e depois encaminha-las para a reciclagem. O uso do plástico não pode ser indiscriminado, como está”, afirma o presidente da FUNVERDE, Cláudio José Jorge.
Não é difícil comprovar o desperdício. No Brasil, os supermercados distribuem, a cada mês, mais de 1 bilhão de sacos plásticos aos clientes. A conta, por dia, chega a 33 milhões. As redes brasileiras pouco fazem para evitar o uso exagerado do plástico. Nos caixas, o produto fica à disposição dos consumidores, que abusam da quantidade.
Levantamento feito pela FUNVERDE garante que 80% das sacolas de compras produzidas e distribuídas viram sacos de lixo doméstico, para banheiro ou cozinha.
O vendedor de saco de lixos Milton Tomaz reclama do movimento nas vendas. “Trabalho com isso há 27 anos e acompanhei a mudança de hábito das pessoas. Hoje, vendo menos, por causa das sacolinhas. Os grandes condomínios viraram meus maiores clientes, pela quantidade. Quem mora sozinho, só usa os saquinhos”, garante.
A praga das sacolas chegou às feiras. Agora, além dos saquinhos transparentes, que envolvem legumes, frutas e peixes, os clientes pedem, e até exigem, a sacola para carregar as compras. “Às vezes nem é preciso. O saquinho pode ser carregado na mão, mas não temos como negar, conta a feirante Fanny Francis Zampolo, obrigada a oferecer 15 kg de sacolas plásticas por semana.
O gasto vai contra a tradição. As bolsas de feira servem, exatamente, para acomodar os produtos e evitar o uso de outras embalagens. “O problema é que a maioria das pessoas usa o plástico em casa. Vendo peixe, que poderia ser embalado apenas com papel branco ou saquinho simples. Há clientes, porém, que pedem a sacola e, ainda, uma bandeja de isopor”, diz a vendedora Selma Kawagoe.
Pão e leite com desconto para quem tiver embalagem própria
A solução para economizar na embalagem do pão também requer esforço financeiro. A Abip (Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria) investe em um projeto que prevê desconto de até 10% no preço do pão e do leite para o cliente que levar sua própria sacola à padaria.
Uma idéia inspirada no esforço de comerciantes de Joinville, no Paraná. A diretora de meio ambiente da associação, Roseli Steiner Hang, explica que a adesão é positiva.
“Trabalhamos o projeto há três anos no município com o intuito de proteger a natureza do plástico. As padarias associadas incentivam o cliente a carregar sua própria embalagem. Pode ser uma cesta, uma bolsa de pano ou uma sacola de plástico mesmo, mas com maior durabilidade”, explica.
A Abip aposta no retorno da ação. “As padarias começam a ganhar maior credibilidade com o consumidor. Os clientes gostam de contar que ‘na padaria deles’, as pessoas se preocupam com o meio ambiente. Só na minha, reduzi em 60% o uso de sacolas”, conta Roseli.
A diferença é bastante significativa, mediante estatísticas que garantem que 40 mil pessoas freqüentam padarias em todo o País. Cada uma delas consome cerca de 25 mil sacolas por mês.
Cobrança por sacola de plástico força mudança de hábito
A mudança de hábito, porém, não requer muito esforço, apenas estratégia de resultado. A mais simples é cobrar pela sacola. Na região, o mercado atacadista Sams’Club mostra que é possível economizar na embalagem.
A rede cobra R$ 0,15 por sacola. A verba é revertida para a Fundação Abrinq, pelos direitos da criança e do adolescente. Os clientes aprovam e revelam que é fácil defender o meio ambiente.
“Já estamos acostumados. Sempre que vamos às compras colocamos nossas sacolas no carro para embalar os produtos depois do pagamento. Em vez de empacotar no mercado, empacotamos no estacionamento. É viável fazer isso”, diz o gerente de produtos Júlio Fidelis.
A mulher de Fidelis, Marisa Lago Machado, acredita que a diminuição da utilização das sacolas depende diretamente da cobrança. Apesar do baixo valor, a rede revela que arrecadou, somente em 2006, cerca de R$ 80 mil na venda de mais de 500 mil unidades.
“As sacolas que compramos aqui são maiores e bastante resistentes. Podemos usar várias vezes, sem precisar descartar logo. É uma utilização mais consciente. Meu marido guarda as sacolas no carro e trazemos quando precisamos embalar as compras”, revela a dona de casa Vânia Maria Furlan.
O ambientalista Cláudio José Jorge confirma. “As pessoas precisam sentir no bolso a diferença.”
Modelo oxibiodegradável não convence
O assunto sacola plástica oxibiodegradável desperta polêmica entre governo, ambientalistas, associações do setor e população. A briga pelo uso do aditivo químico responsável pelo desmanche do produto em até 18 meses chegou ao Palácio do Governo.
O governador José Serra vetou projeto de lei que obrigava supermercados a distribuírem apenas sacolas ecológicas. A justificativa está na política de investimentos, que aposta na reforma do sistema de coleta de resíduos sólidos.
A opção é pela reciclagem e o receio pela possibilidade de a sacola oxibiodegradável também causar poluição. Há recusa, ainda, por parte da Abre (Associação Brasileira de Embalagens) e Plastivida.
O presidente do Instituto Socioambiental dos Plásticos, Francisco de Assis Esmeraldo, afirma que a fragmentação da sacola ecológica se dá em pequenas partículas, que ficam dispersas e tornam a reciclagem inviável, gerando a chamada poluição invisível, que causa danos ao meio ambiente.
A mesma fórmula, porém, é usada com sucesso no Estado do Paraná.
Mas enquanto não se chega a um consenso, a dica é apelar para modelos alternativos, como a sacola de compra permanente.
“Há sacolas para todos os tipos de compras: produtos secos, gelados ou garrafas. É só ter criatividade e vontade de colaborar”, diz a coordenadora das costureiras da campanha Eu não sou de plástico, Deli Espíndola.
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