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Toque de recolher

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A velocidade é a nova pandemia que faz adoecer os humanos do século XXI. Infectados pelos males da rapidez, também fazemos adoecer, no mundo natural, tudo aquilo que conseguimos tocar.

A sociedade do fast-food, em nome da rapidez, determina que o amadurecimento daquilo que nos alimenta seja mais curto. Encurtar o ciclo das frutas, abreviar o amadurecimento dos legumes, diminuir o tempo de vida dos animais que nos dão a carne, fenecer com avidez as verduras. Mexemos com a vida ao sabor de nosso apetite.

A sociedade de mercado determina que a produção de cereais seja maior. Há um campeonato a ser jogado, e no afã de chegar em primeiro, ganha aquele que aumentar mais a produção. Mas, nesse esporte o dopping é permitido.

Aceitam-se compostos químicos que, com suas moléculas high-tech, arrasam outras formas de vida. Para ter rapidez, eliminam-se competidores e predadores. Turbinar o concorrente com venenos, aqui, não é imoral, inda que isso custe o equilíbrio do local. Até porque, se duplicamos a safra, tudo se justifica. Afinal, o equilíbrio pretendido não é o ambiental e sim o da balança comercial.

Mexemos com a vida ao sabor de nossa ganância.

E assim, a vida gira, gira, gira. E o tempo passa, passa, passa. E a luz está acesa para que a galinha bote sem descanso. E os campos, revolvidos, produzindo o tempo todo. E a máquina, azeitada, repetindo movimentos por toda a eternidade…

Contrariamente ao frenesi humano, o resto da natureza segue seu curso. A uma estação sucede-se outra.  De velocidade diferente.

O outono, que sucedeu o verão, já chegou. É a estação das grandes colheitas; dos dias e noites de mesma duração; é, como dizem, quando a seiva das plantas começa caminhar para a raiz, para o seu recolhimento.

O ciclo da vida comporta descanso. Nada na natureza é artificialmente contínuo como o homem dá a entender. A um período mais ativo, segue-se um período de descanso. A natureza descansa. As pessoas também deveriam se acalmar. Como a natureza, deveriam retirar a pressa.

Ao outono, sucede o inverno.

– É frio, hein padrinho?

Pois então, como a seiva, recolha-se. Ou sente-se e leia. Ou durma mais cedo. Recarregue-se… Assim, quando chegar a primavera, você volta para o sol e floresce de novo!

Não é bom correr tanto. Quem vive tudo agora, tem que antecipar o futuro. Gastando o futuro agora, fica-se sem ele para depois. Sem futuro para ir, nada mais fará sentido.

Para esta sociedade estressada, é preciso um toque de recolher.

De minha parte, na flor de meus 53 anos, assim expresso meu propósito:

Outonou meu
Verão
Os que viverem
Verão
Outro tom
Outro eu.

Luiz Eduardo Cheida

This Post Has One Comment

  1. Olá! Gostaria de te parabenizar pela forma que você escreve, muito bom, gostaria de pedir tb algumas dicas sobre o meu blog, que está citado acima.Muito obrigado e novamente, parabéns pelo seu trabalho, abraços.

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