Entrevista concedida pela FUNVERDE para a revista HM! sobre as malditas sacolas plásticas de uso…
Antonio Indaiá garante a limpeza do Rio Ivaí
Na pacata Ivatuba, cidade da Região Metropolitana de Maringá com menos de 3 mil moradores, com um de cada três morando na zona rural, todo mundo conhece Antonio Indaiá como o homem que cuida do Rio Ivaí. Ele recolhe o lixo que se acumula nas margens e defende uma política de conscientização sobre preservação ambiental.
Antonio na verdade é o empresário Antonio de Souza, que viu o Indaiá incorporado no seu nome por ser proprietário do Hotel Indaiá, o mais antigo hotel de Maringá ainda em funcionamento, tem 64 anos e mora em Maringá há 50.
Não é ecologista de carteirinha, mas dá exemplo de sensibilidade ambiental. E o que no começo foi apenas um trabalho sem grandes pretensões acabou tornando-se uma cruzada que ganhou apoio e poderá atrair outros produtores rurais da região.
Pescando mentes
Proprietário de uma fazenda de 16,5 alqueires às margens do Rio Ivaí, a cinco quilômetros da área urbana de Ivatuba, onde planta soja e milho e cria gado, Antonio percebeu que o lugar em que costumava ficar para sua pesca de barranco acumulava grande quantidade de garrafas plásticas, sacolas, pneus velhos, latas de cerveja, pedaços de redes de pesca, tarrafas e outros objetos.
No começo, ele limpava apenas o lugar a que tinha acesso ao rio, por meio da mata ciliar, mas com o tempo passou a recolher o lixo que se acumulava na margem ao longo do trecho que fica dentro de sua propriedade, de cerca de 3 quilômetros.
Como não tinha onde se desfazer do material, teve que guardar tudo e algum tempo depois tinha um barracão repleto de coisas velhas chegadas pelo rio.
Reciclar é preciso
Souza recentemente entregou a uma empresa de reciclagem mais de meia tonelada de lixo recolhido nas margens do Ivaí e já tem no seu galpão vários sacos com garrafas, pedaços de isopor, sacolas e outros objetos recolhidos nos últimos dias.
“As pessoas vêm para o rio para se divertir, nos finais de semana, mas não carregam consigo a consciência de dar a destinação correta ao lixo que produzem, acabam usando o rio como depósito de lixo sem se preocupar com o problema que isso pode causar”.
O empresário, que se dedica também à agricultura e nos finais de semana é defensor da natureza, diz que gostaria que outros proprietários rurais que estão próximos do rio fizessem o mesmo, mas acha que a questão principal não é exatamente limpar e sim evitar sujar.
“Pelo tipo de lixo que recolhemos dá para perceber que quem suja o rio não são os agricultores localizados nas margens, e sim pessoas que vêm para o Ivaí para se divertir, principalmente nos finais de semana”, denuncia.
“É impressionante o desrespeito com a legislação ambiental”, diz ele, citando que a questão é cultural. “Assim como algumas pessoas jogam lixo nas ruas, não cuidam do ambiente em que vivem, jogam objetos também nos rios, sem pensar que assim estão matando um dos nossos mais importantes recursos da natureza”.
Força da cooperativa
A cruzada de Antonio Indaiá ganhou o apoio do operador de máquinas Reinaldo Alves do Vale, que mora na fazenda com a mulher e dois filhos, passa a semana plantando ou colhendo e nas horas de folga percorre a margem do rio recolhendo lixo.
Também a unidade da Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar) em Ivatuba entrou na luta e colabora com a destinação do material recolhido, dá divulgação à ação de Indaiá e tenta convencer outros cooperados a seguirem o exemplo. “O Ivaí é um patrimônio de todo o povo e se não tivermos cuidado com ele agora, em pouco tempo ele será um rio sem vida”, diz o agrônomo Silvan Marchesan, gerente da unidade.
Vai longe
685 km é a extensão do Rio Ivaí, desde a nascente, no município de Ivaí, até a foz, em Pontal do Tigre, no Rio Paraná.
Rio Ivaí bom de peixe só na lembrança dos pescadores
Reinaldo, que conhece o rio há anos, alerta que o Ivaí está deixando de ser um rio piscoso. “Antigamente era possível pescar pintados, dourados, curimbas, mas hoje está cada vez mais difícil pegar um peixe bom”.
Tanto Reinaldo quanto Indaiá consideram que a queda na piscosidade é resultado da presença de produtos químicos na água, acúmulo de lixo e pesca predatória. Segundo Indaiá, é grande a quantidade de pescadores com redes, tarrafas, espinhéis e anzol de galho no Ivaí.
“A Polícia Florestal faz patrulhamento, mas o rio é grande e o efetivo é pequeno”. Ele entende que há necessidade de fiscalização permanente do rio.
“Já está na hora de a comunidade e o Ministério Público do Meio Ambiente cobrarem providências dos órgãos competentes antes que seja tarde demais”, conclui.
Fonte – Luiz de Carvalho, O Diário do Norte do Paraná de 24 de outubro de 2010
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