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Vai uma sacolinha aí?

O governo de São Paulo anunciou a ambiciosa meta de transformar o Estado no primeiro do Brasil a banir o uso de sacolas plásticas no comércio

Invisível há até bem pouco tempo, a questão do impacto das sacolas plásticas no meio ambiente ganhou muito destaque nos últimos dias. Finalmente! Parece que todos acordaram para a questão: governo, sociedade civil, comércio e indústria. Por iniciativa própria ou por falta de opção, parece que agora vai. Finalmente conseguimos acordar o país para o imenso problema da sacola plástica de uso único, após mais de meia década de trabalho árduo, afinal, desde 2004 iniciamos uma guerra contra as sacolas plásticas de uso único, guerra esta que ainda não está ganha, mas as batalhas estão sendo, vencidas, uma a uma, arduamente, ano a ano, cidade a cidade.

O governo de São Paulo anunciou a ambiciosa meta de transformar o Estado no primeiro do Brasil a banir o uso de sacolas plásticas no comércio. Foi assinado um protocolo de intenções com a APAS – Associação Paulista de Supermercados – para acabar com o uso de sacolas plásticas descartáveis. E será um enorme passo, para um estado que consome aproximadamente 25 bilhões de sacolinhas plásticas de origem petroquímica, somente nos supermercados. No mesmo sentido, a iniciativa busca a conscientização, incentivando a substituição das sacolas plásticas por embalagens biodegradáveis, feitas de amido de milho, ou mesmo pelo uso de bolsas feitas de material reciclável ou reaproveitado, como as lonas. São mais de 30 bilhões de sacolinhas/ano no estado de São Paulo. E infelizmente, adotaram uma alternativa desastrosa para as sacolas plásticas, que é a sacola comida, feita com amido de alimentos – milho, trigo, batata, mandioca, arroz … qualquer comida que tenha amido está sendo desviada para fazer uma sacola que será usada por meia hora e depois jogada no ambiente, uma completa imbecilidade.

Em Jundiaí, no interior do Estado de SP, o uso da sacola descartável já foi praticamente abolido: a substituição de embalagem teve adesão de 95% dos supermercados, com aprovação de 75% da população. Aos poucos que não aderiram, há a opção de pagar R$ 0,19 por cada sacola biodegradável, feita de amido de milho. Além disso, os supermercados oferecem caixas de papelão para o consumidor.

Já em Belo Horizonte, a iniciativa tem força de lei, precisamente a número 9.529/08, que proíbe os comerciantes da cidade de distribuirem sacolas plásticas aos clientes e prevê multa de R$ 1 mil para os estabelecimentos que não a cumprirem, e o dobro, em caso de reincidência. O objetivo é estimular o uso das embalagens biodegradáveis e que são vendidas nos próprios estabelecimentos comerciais. Os consumidores ainda têm a opção de utilizar suas próprias sacolas retornáveis. Na fase de implantação do projeto, não serão aplicadas multas e acontecerá a campanha Sacola Plástica Nunca Mais. Os estabelecimentos que integrarem a iniciativa oferecerão um modelo de sacola retornável, no valor de R$ 1,98.

Voltando a São Paulo, a iniciativa enfrenta protestos de representantes do Sindicato dos Químicos e Plásticos do estado, com a acusação de reduzir entre 20 mil e 100 mil empregos diretos e indiretos, além de aumentar o lucro dos supermercados. É natural a redução de emprego no setor, mas pense assim, quando se impede a caça ou pesca de algum animal por estar causando sua extinção, os caçadores e pescadores ficam sem emprego e tem que se adaptar, ir para outro emprego.

Copo meio cheio ou meio vazio? Empresas, como uma localizada em Ibirité, MG, começam a se preparar para a mudança. Possui 200 clientes, 40 funcionários e produzia 25 toneladas ao mês. Com as novas sacolas, seus clientes pagarão o triplo pelas sacolas biodegradáveis, resultando numa diminuição de 70% das vendas na capital mineira. Já em SP, algumas empresas, como uma sediada em Arujá, já estão prevendo a terceira ampliação da fábrica, que somente atende aos pedidos de sacolas biodegraváveis.

No meio da cadeia, o varejo também faz a sua parte. O Walmart, por exemplo, oferece um Caixa Eco, dando preferência na fila aos clientes que não utilizam sacolas plásticas. Desde 2008, nos EUA e no Brasil, já se trabalha com agressivas metas de redução de consumo das embalagens, com desafios de redução próximos de 30% de um ano para o outro. O Pão de Açúcar, além de incentivar o uso de sacolas retornáveis, colabora na coleta seletiva nos bairros onde atua, através de parcerias com fabricantes e cooperativas.

Mas por que tanta atenção à aparentemente inofensiva sacolinha? No Brasil são produzidas 210 mil toneladas anuais de plástico filme (matéria-prima da sacolinha). Este material demora 100 anos para se decompor nos aterros sanitários e se misturar ao solo. Já a sacola biodegradável se desfaz em até 180 dias em usina de compostagem e em dois anos em aterro. Bela evolução, não? Sacola biodegradável de comida só se biodegrada em ambiente de compostagem, isto é em composteira, senão faz mais mal do que bem e não se biodegrada no tempo esperado. Sacolas plásticas demoram mais de 500 anos para se decomporem. Sacolas plásticas representam 10% de todo o lixo gerado diariamente em qualquer cidade do país.

E quem mais se preocupa com ela? Pesquisadores afirmam que há no oceano pacífico uma enorme concentração de lixo plástico flutuante, a maior concentração de lixo do mundo, com mais de 1000 km de extensão! Podendo atingir uma profundidade de mais ou menos 10 metros, o resultado é próximo a 100 milhões de toneladas de plásticos de todos os tipos, incluindo as sacolinhas.

Pesquisando mais sobre o tema, descobri que há uma verdadeira cruzada mundial para a abolição do seu uso! Somente no estado de SP, cada habitante usa 59 sacolinhas plásticas por mês, em média. No mundo, são vendidas mensalmente aproximadamente 500 bilhões de sacolas plásticas!

A preocupação é tanta, que na África do Sul a venda de sacolinhas plásticas é crime passível de cadeia ou de multa de 13 mil dólares. Estudo realizado no Reino Unido indica que uma sacola retornável deve ser usada, pelo menos, 171 vezes para oferecer mais benefícios – em termos de aquecimento global – em relação a uma sacola plástica! Sob outra ótica, o prazo é três meses. Cada paulistano deve usar por pelo menos três meses sua sacola plástica retornável – considerando a estatística mensal de 59 sacolas plásticas ao mês – para que a troca tenha algum valor favorável em termos de aquecimento global. Temos na FUNVERDE pessoas que usam a mesma sacola desde 2005, quando começamos a produzir nossas próprias sacolas retornáveis, fazendo testes para saber o tamanho ideal da sacola, o tamanho da alça, o melhor tecido para sua fabricação … fomos cobaias para saber o que funcionava e o que não funcionava numa sacola retornável, até porque todos já tinham esquecido o que era uma sacola retornável e tínhamos que reaprender sozinhos. Tem algumas que estão bem acabadas, feiosas, mas temos tanto amor por elas que continuaremos usando-as até ficarem imprestáveis, até por uma questão de pesquisa, para saber quantos anos elas podem durar.

Pois vejo esta movimentação com muito otimismo e bons olhos. Estamos diante de mais um momento de ruptura, de quebra de paradigmas, dessa vez na busca da manutenção do conforto de todos, reduzindo substancialmente o impacto disso no meio ambiente. E toda vez que vejo uma grande parcela da população mundial, unida por uma causa pacífica e social, renovo minhas esperanças de crença nas pessoas. Você já aderiu? Reflita, decida e vamos juntos!

Fonte – Alessandro Saade, Portal Administradores de 14 de junho de 2011

Sacolas retornáveis, já!

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