Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
A concentração de gases de efeito estufa em 2016
O aumento dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera teve uma alta recorde em 2016, em um momento em que o agravamento das mudanças climáticas faz com que o planeta fique mais perigoso e mais suscetível aos eventos climáticos extremos.
Por exemplo, os meses de maio e junho foram marcados por diversas catástrofes naturais decorrentes destes eventos extremos. Em maio, uma onda de calor na Índia quebrou o recorde de temperaturas. No dia 19/05/16, foram registrados 51 graus Celsius na cidade de Phalodi, no estado desértico do Rajastão. Dois dias depois um ciclone deixou 23 mortos e 500 mil deslocados em Bangladesh. Em 30 de maio 2016 um temporal deixou 900 desalojados em três cidades do Grande Recife. Ainda em maio, um imenso incêndio florestal provocou a evacuação da cidade petroleira canadense de Fort McMurray e arredores. Cerca de metade dos 1.550 bombeiros da província combateram o fogo que devastou mais de 2.500 km2 de floresta, além de destruir 2.400 casas na cidade e nos arredores de Fort McMurray, onde cerca de 100.000 personas foram evacuadas.
Em junho, um fenômeno de microexplosão atingiu Campinas e o interior de São Paulo em 05 de junho, provocando a destruição de muitas casas e benfeitorias. No mesmo dia, um incêndio fez 5 mil pessoas serem evacuadas na região de Los Angeles, nos Estados Unidos. Ainda em junho, enchentes e deslizamentos de terra deixaram ao menos 24 pessoas mortas e 26 desaparecidas e danificaram milhares de casas na região central da ilha indonésia de Java após chuvas torrenciais no dia 19 de junho 2016. Inundações na Virgínia Ocidental, nos EUA, dia 24/06/2016, provocou a morte de 26 pessoas e gerou danos enormes nos dias seguintes. Houve também inundações na Louisiana, na China, nas Filipinas e em quase todos os países.
Portanto, o aquecimento global já está provocando efeitos sobre as gerações atuais e vai prejudicar ainda mais as gerações futuras. Em abril de 2014, as concentrações mensais de CO2 na atmosfera ultrapassaram 400 partes por milhão (ppm), atingindo o nível mais alto dos últimos 800.000 anos, ressaltou a NOAA. Possivelmente, nos últimos 3,5 milhões de anos a concentração desse gás-estufa jamais ultrapassou 300 ppm.
Em grandes quantidades, o CO2 é um poderoso e perigoso gás-estufa, resultado das atividades humanas como a combustão de combustíveis fósseis (carvão e petróleo), e desmatamento. Juntos com outros dois gases do efeito de estufa produzidos pelas atividades antrópicas, o metano (a pecuária é grande produtora deste gás) e o óxido nitroso aceleram o aquecimento global. O aquecimento global provoca acidificação dos solos e dos oceanos e acelera o degelo dos polos e dos glaciares elevando o nível do mar, o que ameaça as áreas costeiras do mundo.
Trabalho da Academia Nacional de Ciência da Alemanha (PNAS, 2014) diz que a inundação de apenas 1,2 metro (4 pés) de elevação do nível do mar teria um impacto no deslocamento de até 310 milhões de pessoas, causando um prejuízo de até US$ 210 trilhões em danos materiais em 2100. Filme da Grist (2016) mostra que o nível do mar pode subir mais de 2 metros até 2100 e as estimativas ficam mais catastróficas na medida que aumentam as emissões de GEE.
No mês de maio de 2016 as concentrações globais de dióxido de carbono (CO2) atingiram um recorde de média global de 407,7 partes por milhão (ppm), sendo que a média do período pré-industrial estava abaixo de 280 ppm. “Pela primeira vez desde que medimos a concentração de dióxido de carbono na atmosfera global, a concentração mensal deste gás de efeito estufa ultrapassou 407 partes por milhão (ppm)”, informou a Agência Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).
O mais grave é que a média anual de crescimento da concentração de CO2 na atmosfera vem aumentando nas últimas décadas, conforme mostra o gráfico abaixo. Na década de 1960 o aumento médio estava em 1 ppm por ano, passando para mais de 2 ppm ao ano nos anos 2000.
A concentração de CO2 é um indicador climático registrado no Observatório do Mauna Loa, no alto do vulcão homônimo no Havaí, que mede a variação na concentração do principal gás de efeito estufa na atmosfera. A concentração de CO2 sobre uma variação sazonal. O gráfico abaixo mostra que os níveis sobem de setembro a maio todos os anos e caem de maio a setembro.
No ritmo atual vai ser muito difícil atingir as metas estabelecidas no Acordo de Paris, da COP-21. O aumento da concentração de gases de efeito estufa vai acelerar o aquecimento global e se a temperatura passar de 2º C, o mundo vai entrar em uma era de enormes incertezas. As externalidades negativas podem inviabilizar a economia como mostrou Herman Daly (2005): “Teremos, então, o que denomino crescimento deseconômico, produzindo ‘males’ mais rapidamente do que bens – tornando-nos mais pobres, e não mais ricos”.
As emissões de GEE provocam o aquecimento global que provoca a acidificação dos solos e das águas, a degradação dos ecossistemas e a subida do nível do mar. O aumento da temperatura dos oceanos é o “maior desafio latente da nossa geração”, pois está alterando a composição de espécies marinhas, encolhendo zonas de pesca e espalhando doenças para os seres humanos, de acordo com relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), envolvendo o trabalho de 80 cientistas de uma dúzia de países. Os oceanos já sugaram uma enorme quantidade de calor devido a crescentes emissões de GEE, afetando espécies marinhas, dOS micróbios às baleias. As profundas mudanças em curso nos oceanos estão começando a impactar pessoas e a economia nacional e internacional.
Estes fenômenos, combinado ao “crescimento deseconômico” são típicos da “Sociedade de Risco”, como definiu Ulrich Beck. As externalidades negativas ganham relevância sobre a geração de riqueza. As mudanças climáticas, provocadas pela concentração de CO2 tal como descrito acima, não são fenômenos naturais, mas “incertezas fabricadas” que podem gerar uma grande catástrofe global.
Segundo Beck, estas “incertezas fabricadas” caracterizam-se por três aspectos: “deslocalização” (suas causas e consequências não se limitam a um local ou espaço geográfico – são unipresentes); “incalculabilidade” (são incalculáveis); e “não-compensabilidade” (é o fim do sonho da segurança da modernidade em tornar os perigos cada vez mais controláveis). O desafio do aquecimento global é um fenômeno que se encaixa na definição de Beck sobre imperativos cosmopolitas: coopere ou fracasse!
Referências
CO2 Earth: https://www.co2.earth/
NOAA, ESRL, TRENDS http://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/graph.html
Annual Mean Growth Rate for Mauna Loa http://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/gr.html
Hinkel et al., Coastal flood damage and adaptation costs under 21st century sea-level rise, PNAS, March 4, 2014.http://www.pnas.org/content/111/9/3292.full
Eve Andrews. Sea level rise is already happening. How bad can it get? GRIST, Mar 18, 2016
http://grist.org/science/sea-level-rise-is-already-happening-how-bad-can-it-get/
Sea Level Rise https://www.youtube.com/watch?v=HWDDDohM7uI
D. Laffoley and J. M. Baxter. Explaining Ocean Warming: Causes, scale, effects and consequences, União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), September 2016
https://portals.iucn.org/library/sites/library/files/documents/2016-046_0.pdf
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.
Fonte – EcoDebate de 15 de setembro de 2016
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