Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
A crítica situação dos golfinhos na Amazônia
Botos-cor-de-rosa nadam em área de floresta alagada na Amazônia. Imagem: Kevin Schafer / Minden Pictures / getty images
As duas espécies de golfinho de água doce típicas da Amazônia – o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis) – podem estar sob sério risco de extinção, caso o declínio populacional observado em uma área de preservação valha para uma região mais vasta e não protegida por lei. Um levantamento feito de 1994 a 2017 na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a 500 quilômetros a oeste de Manaus, indica que a população dessas duas espécies se reduz à metade a cada 10 anos, apesar de a captura ser proibida. No caso do boto-cor-de-rosa, que, adulto, atinge até 2,5 metros (m) de comprimento, a queda no número de exemplares avistados se acentuou a partir de 2000, quando aumentaram os relatos de captura acidental por redes de pesca e do uso de sua carne como isca para piracatinga (Calophysus macropterus), um bagre muito consumido na Colômbia. A redução da população do tucuxi, que mede cerca de 1,5 m e é mais suscetível a morrer preso nas redes, mostrou-se constante no período analisado (PLOS ONE, 2 de maio). Os autores do estudo, coordenado pela bióloga Vera Maria Ferreira da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), atribuem a redução dos botos à captura ilegal fora da reserva, uma vez que em Mamirauá a ação humana é controlada e outras espécies de predadores aquáticos continuam abundantes. Os pesquisadores não sabem se o que viram ali é representativo de toda a Amazônia, pois não há levantamentos semelhantes em outras áreas, mas afirmam que a captura para o uso como isca é disseminada. Hoje, o nível de ameaça às duas espécies é desconhecido. Se o declínio observado em Mamirauá valer para a Amazônia, elas estariam, segundo os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza, criticamente ameaçadas de extinção.
Fonte – Pesquisa FAPESP de junho de 2018
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